Sobre passar scanner, não é o fato de passá-lo ou não que vai mudar alguma coisa na garantia. A garantia está condicionada à falha de fabricação. O que acontece é que o brasileiro tem aquela coisa de que, seu eu compro um televisor com um ano de garantia, e ele apresenta defeito durante a validade da garantia, ele deve ser consertado de graça. Uma coisa é tolerância, outra é obrigação.
Se você ver o manual de qualquer produto que compra, vai ver que a garantia não é de funcionamento abrangente. Se a sua TV foi ligada numa tomada com problemas, ou durante uma tempestade ocorreu um surto de tensão, a garantia não cobre isso. Mas, na cultura popular, isso não interessa, pifou, tem que arrumar de graça. No final o fabricante do televisor acaba fazendo o reparo em garantia para evitar transtornos, mas saiba que esse custo está embutido no preço do TV que eu e você, pessoas de bem, pagamos, que usamos protetores de rede e tomamos o cuidado de desligar o aparelho da tomada em dias de tempestade. Chato, não? Somos punidos pela burrice e má-fé de outros.
Vamos agora ao caso prático. Veja o que estabelece o termo de garantia de uma Toyota Hilux (extraído do manual do próprio fabricante):
https://clubedanissanfrontier.com.br...r_-300x188.png
Veja que o fabricante não dá cobertura a qualquer falha do veículo durante a garantia, mas somente sobre "defeitos de fabricação de peças ou de montagem". Ou seja, em tese, a maioria dos problemas atendidos em garantia pelas fábricas não deveria estar cobertos por garantia. Interessante, não?
Eu nunca vi a Nissan, a Chevrolet (s10´s que tive", ou a VW (saveiros da minha frota) não passarem o scanner (que na verdade nem é mais scanner) nos carros durante a revisão. A Nissan sempre passa, e na última vez que o fez na minha identificou uma falta de atualização no sistema do ARLA. O Scanner não é utilizado só para verificar erros, mas hoje são muito modernos e fazem uma análise completa do motor, câmbio e outras partes. A Frontier agora faz a conexão de Scanner via notebook sem fio, eu acompanhei todo o processo, e tem informação demais ali. Toda a vida da Frontier aparece na tela.
Saibam que agora ele está recebendo estetoscópios especiais para avaliação interna dos motores sem a desmontagem do mesmo. Tudo isso em procedimento preventivo (única no Brasil que vai adotar esse protocolo).
O fato dela perceber algo errado num scanner, que não seja em razão de falha de fabricação, também não obriga a garantia.
Mas, como o exemplo da TV, a fábrica acaba tolerando muitas coisas, pois a cultura popular é, se pifou e está na garantia, eu não vou pagar nada.
O que acontece é que muitas vezes o fabricante nega quando o erro do proprietário é muito grosseiro. Ele até sabe que lá na frente vai acabar consertando de graça, mas dificulta porque tem gente que só aprende no sofrimento. É uma burocracia até proposital e punitiva, com fins educacionais para o consumidor não repetir a pilantragem ou criar precedentes para outros picaretas agirem igual.
Tem gente que usa combustível adulterado continuamente, sabendo que é (muitas vezes o próprio dono do carro faz isso porque mistura óleo produzido na sua usina - eu já vi isso), ferra com o sistema de alimentação e outras partes, e vai na concessionária cheio de razão querendo que consertem de graça. A concessionária vai negar de imediato, o caso vai para a fábrica, é analisado, e negado novamente. Na recusa da solução pelo proprietário, o caso retorna para análise técnica, depois vai para avaliação de um setor comercial de satisfação do cliente, há muita discussão interna, até que a fábrica oferece uma solução que, em tese, nem deveria conceder.
Todos nós temos direitos e deveres, mas a esperteza do brasileiro só lhe faz lembrar dos seus direitos, nunca de seus deveres.
Quando você é fidelizado da marca e faz todas as revisões na concessionária, conseguir um atendimento em cortesia, pelo menos na Nissan, é muito mais fácil. Como o Bigsd comentou aqui, eu já tive troca de volante em cortesia, fora de garantia, por falha minha, que também muitas vezes saía do cliente com restos de solventes nas mãos, peça e troca gratuitas. E eu não pedi isso, pedi o orçamento para pagar, mas a fidelidade e a honestidade com a marca são diferenciais importantes.
Já trocarem tapetes da minha caminhonete sem eu pedir, recentemente pedi um par de emblemas "Biturbo" e "4x4" para colocar na Frontier SE da minha esposa, pedi o preço para pagar e me deram de graça... então... são muitas variáveis que afetam o atendimento que você recebe numa concessionária.
O cara compra uma caminhonete, não faz as revisões corretamente, maltrata ela, usa combustível podre, e aí aparece lá pedindo garantia. Como advogado honesto (porque está cheio de picaretas por aí), eu digo que esse cara tem que ser punido por má-fé e obtenção de vantagem ilícita. Mas, os fabricantes toleram para evitar maiores desgastes, e os inocentes também pagam caro por isso.
Quando a GM me ligou e me disse que iria me acionar na Justiça por estar difamando a S10, eu disse: "Por favor, façam isso. Não sou leigo, trabalhei em muitas montadoras. O Juiz vai nomear um perito que eu tenho certeza que vai confirmar tudo que estou dizendo, e aí vou ter finalmente um documento público para dar melhor sustentação às minhas críticas, porque os laudos de vocês só servem para limpar a b..."
Em dois dias um dos diretores da GM me ligou propondo a solução que eu esperava. Uma solução inédita dentro da GM e talvez em todas as demais montadoras do Brasil.
Então, meu amigo, eu tento ampliar a visão da situação para além das portas da oficina. Como você disse, isso dá uma discussão das boas, e ultrapassa os limites da oficina.
Existem aspectos comerciais, aspectos que envolvem o comportamento do consumidor, aspectos legais, aspectos quanto ao contrato de garantia (sim... quando você compra um carro está aceitando as condições de garantia), aspectos mercadológicos, e muitos outros. Como eu tive a sorte de estar em todas estas pontas, busco ampliar o entendimento para todas as direções.
Até entendo que para o consumidor e para o mecânico o que interessa é o carro em si, mas existem muitas variáveis bastante importantes que giram em torno disso tudo.
Mas, numa coisa eu vou insistir, 90% da culpa da insatisfação dos consumidores decorre de dua própria ignorância e esperteza.
Enquanto continuarem pagando caro por carroças (e ainda comemorarem que vendem muito), enquanto continuarem conformados em comprar carrinhos chineses baratinhos até mesmo enganados e feitos de trouxas (como ocorreu com o "premium" Territory da Ford), enquanto comprarem gordura com sabor chocolate achando que está comendo chocolate, comprarem diesel "baratinho" porque são espertos, fazerem revisões porcas porque acham que a garantia tem que se virar depois... enfim, enquanto o consumidor não assumir o seu papel com seriedade e responsabilidade, não adianta ficar reclamando que não é respeitado.
Respeito é algo que se conquista, não que se colhe no quintal de casa.