
Postado originalmente por
Walter da Camper
Para mim, a questão mais importante não é a durabilidade em KM até a retífica (100, 200 ou 900K).
O problema é quando um motor possui em seu projeto "pontos fracos" que reduzem sua confiabilidade.
O que eu considero como pontos fracos, que não deveriam nunca ter sido incorporados ao motor diesel são:
1-correia dentada: em caso de falha, além de deixar a pé, causa grave dano ao motor (válvulas, balancim, às vezes o cabeçote todo)
2-cabeçote de alumínio: embora seja o último grito da moda, material nobre e tals, é bem mais sensível à temperatura e empena ou trinca com muito mais facilidade em relação ao de ferro e alguns sequer permitem retífica.
3-bomba injetora com gerenciamento eletrônico: poucos profissionais tem habilidade com esse sistema e uma simples desregulagem da posição do atuador pode levar ao dispararo da acelaração até a perda do motor (há no forum varios relatos dessa ocorrência em L200 HPE).
4-Utilizar artifícios para extrair muitos cavalos em motor de baixa cilindrada: quanto mais se aumenta a potencia, mantendo a cilindrada, mais frágil fica. Esse é um princípio básico de mecânica, respeitado pelos preparadores de competição e que todo aficcionado em carros conhece ou deveria conhecer. Extrair altas potências de motores pequenos expõe diversos sistemas a trabalharem no limite, notadamente a refrigeração e lubrificação. Com a menor margem de folga, qualquer pequeno incidente (lama no radiador, exigência prolongada de potência...) pode levar ao superaquecimento, o que no motor diesel é fatal.
Qualquer falha num dos sistemas acima pode levar um motor à retífica com baixa KM, por mais resitente que sejam o bloco, virabrequim, pistão e bielas.
E nem se diga que basta fazer manutenção preventiva, pois em uso severo o risco está sempre presente e depende de diversos fatores externos. Já tive correia dentada nova e original estourada por infiltração de lama numa trilha cheia piscinões. Sorte que o motor era um arcaico Ford OHC 2300 que pela grande distância da câmara não permite o pistão cabeciar as válvulas. Só pelo aborrecimento de voltar rebocado, troquei o motor do Jeep pelo GM151, que não usa correia dentada (uma coisa a menos para falhar).
Voltando à questão do diesel e as novas tecnologias, quando se fala em durabilidade e resistência, o parâmetro de comparação que imediatamente vem à lembrança (ao menos dos veteranos) são as primeiras caminhonetes diesel, que usavam motores de caminhão (MBB OM314/364, Perkins 2364/Q20B, MWM 229/X10, Maxion S4T) e esses motores, além de parrudos mecanicamente, com seus quase 4 litros de cilindrada, não possuiam os pontos fracos que citei acima. Foi na época deles que surgiu o senso-comum de que o motor diesel aguenta mais que o gasolina.
Hoje, com as novas tecnologias, sejam mecânicas (cabeçote Al, correia dentada, baixa cilindrada), sejam eletrônicas (bomba elétrica, modulos, sensores e atuadores), fica bastante evidente que os atuais motores diesel são equivalentes ao Otto em resistência e durabilidade.
E com as invenções que vem incorporando com a finalidade de reduzir emissões (EGR, DPF e a PQP...) estão ficando cada vez mais melindrosos, além de exigir combustível especial. Enquanto isso, o motor Otto vai na direção contrária em termos de exigência de combustível. Uma gasolina adulterada com 70% de alcool, que nos motores velhos poderia ser um desastre, hoje é perfeitamente digerível num motor flex. Moral da história: a eletrônica tem feito muito bem ao motor Otto... já no diesel...
E nem se diga que a eletrônica veio para proteger o motor diesel, porque se fosse essa a verdadeira intenção instalar-se-ia um EGT para cada cilindro, aí sim teria verdadeiro controle das condições de queima e poderia prevenir até travamento de bico, que tem levado alguns commom rail à morte precoce.
Pra mim, tudo não passa de cumprimento de metas legais e redução de custo de produção.
Enquanto vigorar o senso-comum de que diesel é mais resistente e econômico que gasolina, as fábricas vão continuar vendendo carros 15 ou 20 mil mais carro, enquano a diferença do custo de produção não deve ser nem 1/5 disso.
Também não cola a desculpa de que para ter um desempenho aceitavel para pick-ups e SUVs os motores diesel tiveram que passar por esse processo de fragilização, pois a MWM, ao lançar o Sprint (2.8) provou que é possivel projetar um motor HSD mantendo a estrutura de motor de caminhão, com cabeçote de ferro e sem correia dentada. Tanto é assim que esse motor é um dos mais requisitados para adaptação em veículos off-road. Depois de rodar milhares de Km sendo surrado num microonibus e vai direto para um jipe e roda ainda muito tempo com confiabilidade, performance e economia.
É... talvez vocês tenham razão... estou ficando velho e chato por criticar as novas tecnologias... Mas enquanto existirem pessoas com esse senso crítico, o preço das Bandeirante, F-1000, D-20, Engesa, Troller 2.8 e outras velharias vai continuar em alta.