Todas as vezes que eu fui parado no Chaco, minha mulher estava dirigindo. Nem por isso complicaram a vida. Só pediram a costumeira gorjeta duas vezes. Na primeira deixei uma caixa de bombons. Em outra, o equivalente a dez reais. Dá pra fechar a cara e dizer "não vou pagar"? Dá... Só que logo adiante tem outra barreira, e os caras estão no meio do deserto entediados, sem nada pra fazer.
Já foram muito piores. Ameaçavam com multas astronômicas, faziam um teatro para apavorar os ocupantes com ameaças de guincho... Hoje em dia eles vem na cara dura pedir uma esmola, sabem que a encenação não cola mais.
Sempre que eles mandam parar no acostamento, é sinal de que não estão com pressa nenhuma pra te revisar. Então já puxo um envelope com todos os documentos (identidades, habilitações, registros, guia de migração, carta verde), desço do carro, estico as pernas, converso um pouco, e massageio o ego deles, perguntando condições da estrada, postos de gasolina... Eventualmente vem o sorriso amarelo e o pedido de contribuição. Pra mim, já é algo previsto na viagem. Assim como os indiozinhos em San Antonio de Los Cobres cercando seu carro, pedindo chocolates. Ou os moleques, lá mesmo, se oferecendo como guias turisticos pra subir no seu carro e indicar locais interessantes (nunca arrisquei, vai que é uma cilada...).
Então, ninguém precisa viajar com pânico. Nem aumentar o roteiro em mil quilômetros para evitar uma incomodação. Viaje de boa e entenda essa "cultura", sem se estressar.