
Postado originalmente por
Ringo
É com grande satisfação que participo deste debate interessante a convite do colega Eduardo.
Não sou novo aqui e sei que muitos me conhecem também do whatsapp, mas vou colocar a minha posição sobre este tema sem qualquer cunho comercial.
Este é um tópico que eu sigo bastante, os tópicos de Frontier e de Mitsubishi são sempre os mais animados por existir um apelo forte destas marcas no âmbito aventureiro.
Vamos lá então. O que vou dizer aqui são fatos, nada mais do que fatos. Então alguém pode não concordar, pode dizer que o amigo dele tem uma experiência diferente, que já viu isso ou aquilo, não importa, são fatos. Podem existir exceções, mas estas são as regras, e normalmente as exceções decorrem de outros fatos sem controle.
Não vou discutir minha experiência profissional, não vou colocar a engenharia em cheque e nem participar de discussões de ego. Vou apresentar só o que é o mundo real, o fantasioso deixo para o campo das ilusões.
Qualquer caminhonete pode ser remapeada. Sem querer entrar em detalhes técnicos para não alongar muito, o processo consiste de uma forma bem simples de extrair mais potência do motor através de ajustes eletrônicos que foram sendo adicionados nos motores mais modernos. Engana-se quem acha que é só entrar num programa de software e ajustar algo como "Potência (0 a 10): Atual 7"
O processo é bem mais detalhado, não é difícil, o difícil mesmo é descobrir os parâmetros, o restante é só copiar de um para outro.
Todo motor aceita remap? 99% sim. Todo motor pode ser remapeado com segurança? 50% não.
O que o Eduardo comentou aqui está bem perto do real. Quanto mais novo o projeto e mais moderna a tecnologia empregada, mais possível é obter sucesso num remap. Tem remap que não muda praticamente nada, apesar do dono achar que houve uma grande mudança. É uma sensação dele até porque ele muda o seu comportamento no dirigir quando sabe que o carro foi "envenenado eletronicamente".
Quanto as picapes, vamos entender algumas coisas.
Toda picape pode ser remapeada, mas cabe dizer ao dono a verdade das consequências disso. Voce pode extrair 220cv de um motor de 190cv, ou pode extrair 260, mas o dono tem que saber as consequências disso.
Segunda coisa, não basta mudar a programação do motor e está tudo bem. Lembre-se que toda potência adicional vai ser aplicada nos componentes do motor, do câmbio, diferencial, etc. Se o restante não estiver com folga de projeto para suportar esse esforço adicional, a dor de cabeça será grande.
Qual a melhor picape para remap? Parece ser esta a questão aqui.
O Eduardo já respondeu isso quando disse que o motor da Frontier é novo, tem muita folga sobrando, a caminhonete é estável e segura e bem robusta.
A atual Frontier é a melhor picape para fazer remap hoje, principalmente porque além de ser um motor mais moderno, ele é biturbo. Você não tem ideia de quanto isso ajuda no desempenho do motor. Basta ver que o seu motor é um 2.3, e anda tão bem ou mais que um 2.8 ou 3.2. A Nissan exagerou, ela poderia ter colocado fácil um motor 2.0 biturbo para ter o mesmo resultado de hoje (como alguns já fazem lá fora inclusive), mas ele preferiu dar bastante folga neste motor, até porque ele também atende a Renault Master e deveria atender a outros projetos da parceria com a Mercedes-Benz e Renault.
Esse motor pode oferecer bem mais do que a Nissan liberou pra ele, e com uma vantagem, sem sobrecargas, desgastes prematuros, problemas de aquecimento, quebras, etc. Todo o conjunto da Frontier aguenta muito mais do que os 190cv que a Nissan liberou.
Eu afirmo com toda a segurança que esse é o melhor motor 4c deste segmento, bem superior até o 5c da antiga Ranger.
Outra coisa é isso de que motor com remap é mais econômico. Não queiram mudar as leis da física. Energia não se cria, se transforma. Motores convencionais vão gastar mais com remap.
Um motor biturbo como o da Frontier sai na vantagem de justamente pela sua concepção gastar pouco.
É muito gratificante fazer remap no motor da Frontier, o ganho é muito elevado, ela responde bem, não fica com sequelas e não sofre qualquer sobre-esforço. O motorzinho 2.3 biturbo da Frontier faz praticamente o que alguns V6 da concorrência se souber trabalhar nele. Não estou exagerando, é fato. Vejam carrinhos hoje com 3c com motor de apenas 1.000cc andando mais que outros 1.6 a até 1.8, isso acrescentando apenas uma turbina.
Com relação aos demais modelos, apesar do Eduardo ter me pedido para me ater na Frontier, eu digo, não tem milagre. São sim motores antigos, obsoletos, que já estão trabalhando no limite de suas capacidades. Você pode fazer um remap, mas não caia nunca na ilusão de que não haverão consequências graves. O motor não vai aguentar, o conjunto vai sofrer, mancais e rolamentos serão sobrecarregados, o sistema de arrefecimento não vai dar conta... elas vão andar melhor, mas não vai aguentar muito. Se você abusar, estoura um motor destes no primeiro dia de uso dependendo do remap feito. Já cansei de ver isso.
O da S10 é chato mesmo.
A GM arrancou tudo que podia desse motor. e teve muitos problemas principalmente com turbinas, chegando inclusive a trazer o da Colorado americana que não se adaptou bem nela. Para manter os 200cv dela hoje já está difícil, e o motor dela tem sofrido muito com isso. Dá pra fazer remap nela, mas estas mais novas dos últimos anos já estão dando muitos problemas mesmo originais, e com remap podem dar muito mais.
Como o Eduardo comentou, a Toyota para extrair mais do seu motor de 177cv da Hilux sofreu muito, outro motor antigo e bem ultrapassado, ele teve que mexer em muitas coisas para reforçar e tentar melhorar. Ela conseguiu ganhar mais potência, mas ficou muito no limite, tirar mais por remap, também não é recomendável. Esse motor já perdeu parte de sua confiabilidade e pode ser facilmente danificado.
Para a L200 também não é recomendado, está no limite e já não aguenta tirar mais.
Amarok V6 aguenta remap, mas fica muito beberrona e não vale a pena porque já tem um motor mais do que potente pra qualquer uso ou gracinha, além disso esse motor é muito problemático.
Ranger aguentava bem o remap, mas também tinha um aumento de consumo muito alto e um desgaste prematuro excessivo.
Vejam que a vantagem da frontier é justamente que tudo foi casado pelo que o motor pode oferecer ainda a mais, mudou câmbio, diferencial, cardã, suspensão, podem notar que tudo é muito bem dimensionado pra ela. A robustez do conjunto é muito grande.
Ela tem folga para crescer de forma original, não só por remap, e muito folga, passando todas as outras facilmente. Qual a estratégia adotada por ela para não liberar isso, nem faço ideia.
Concordo que é o conjunto mais bem equilibrado atualmente, mas a Frontier poderia ganhar aí uns 15 ou 20cv só para fazer par com as concorrentes. Também acho que não muda muito na prática, mas psicologicamente atrai mais o consumidor.
Convenhamos, uma picape de 2 toneladas não foi feita pra andar assim, principalmente como disseram aqui sobre o tipo de suspensão e o centro de gravidade muito elevado. Vejo argumentos a favor de ultrapassagens mais segura, mas isso é fantasia também. O maior percentual de acidentes em ultrapassagens não está relacionado ao tempo desta manobra, não são alguns segundos a menos que derrubam estas estatísticas.
O que acontece é que muitos fazem ultrapassagem com pouco espaço de conclusão, e quando pegam uma caminhonete mais rápida, abusam mais e fazem em espaços menores, não muda nada. Outros ultrapassam sem visão, em curvas, não percebem que não terão como voltar depois porque a fila está cheia... o problema não é de desempenho do carro, mas de imprudencia mesmo.
Sabe aquela coisa que em estrada esburacada que você não consegue passar dos 60km/h não se vê acidentes, aí arrumam a estrada e as pessoas começam a se matar? É mais ou menos isso. Quanto maior a sensação de segurança, a confiança e a facilidade, maior o limite que os motoristas buscam. Ultrapassagem mais segura é só uma desculpa para justificar o remap, mas o risco vai é acabar aumentando.
Outra coisa, conheça a sua picape. Quer andar mais rápido, pise mais, no automático, entenda o acelerador. Muitas vezes não é só pisar fundo, você tem que soltar o pé e aí pisar fundo novamente. Façam essa experiência.
Já cansei de falar para o cliente testar bem a fundo o remap sem dó... ela sai com o carro e logo está elogiando o desempenho, aí aviso que o remap está desativado e ativo. Muitos nem conhecem o próprio carro.
O colega Ciro Alencar está fazendo uma experiência interessante, tentando isolar os ajustes da picape ao usá-la em modo manual. Sim, vai encontrar um controle melhor dela, mas sinto te informar colega, ainda assim vai estar limitado aos ajustes de fábrica.
Mesmo em modo manual, o câmbio ainda trabalha sob os protocolos de operação definidos pela fabricante. Faça um teste... em modo manual a 50km/h, tente engatar a 7ª marcha, vai ver que ela não entra. Tente reduzir para segunda marcha a 120km/h, o câmbio também não vai aceitar. Mesmo em modo manual, há um ajuste mais contido do desempenho.
É diferente dos esportivos que você teve, em modo manual eles tem muito menos dependência dos ajustes de fábrica. Você não vai conseguir fazer na Frontier o que fazia nos seus esportivos.
Um remap simples vai deixá-la bem mais rápida que qualquer concorrente de sua categoria, com confiabilidade, com segurança e preservando bons números de consumo. Sei que o seu objetivo não é esse, ser mais veloz que as outras, mas conhecer o que o motor é capaz de fazer, mas ainda assim você estará muito longe disso. Porque mesmo eliminando as trocas de marchas pelo plano do carro, o motor ainda estará com muitas restrições.
Por isso eu acho um teste inútil nesse sentido, mas é curioso e interessante, porém não vai te dar a resposta que você quer.
Rapaz, esse motor tem 190cv com muita folga, é um biturbo, pode ficar tranquilo que sobra motor pra ela se você quiser extrair muito mais dele.
Eu não tenho picape e não sou muito fã, até porque picape na cidade é complicado. Mas a Frontier é a minha preferida, eu já dirigi muitas e ela se sobressai muito das concorrentes. Vocês aqui estão de parabéns pela caminhonete.
Se precisarem é só chamar novamente que ajudo onde posso.