Uma pequena divagação sobre suspensão com eixos rígidos e independente.
A pouco em um post, surgiu a questão,
http://www.4x4brasil.com.br/forum/la...-wrangler.html (Discovery II x Wrangler!!!!) .
Achei que seria interessante criar um novo post, como forma de tornar este assunto do conhecimento de todos, não só dos interessados por D3.
A grande diferença da Disco 3 vs um Dedenfer é o fato de a maioria das D3 já virem com bloqueio de diferencial no eixo
traseiro. Os Defender não possuem esta cara maravilha, mas as eletrônicas, TD5 e Puma contam com a ajuda da eletrônica, como na D2, onde os freios travam momentaneamente a roda que esta em tração e de golpe em golpe o carro avança.
Numa subida íngrima isso garante uma ENORME vantagem para as D3 em relação aos Defender originais, e ainda mais brutal em relação aos Tdi. Os vídeos dizem tudo.
Mas nem tudo está perdido, basta instalar um bloqueio ARB no Defender, em ambos os eixos se preferir e pronto, terás um trator! Não existe D3 que acompanhe o Defender e seu curso de suspensão com eixos rígidos e bloqueados.
Muitos jamais atentam para uma das mais importantes e belas caraterísticas dos eixos rígidos. Quanto uma roda sobe, automaticamente a roda na outra extremidade do eixo é forçada a descer, tudo em razão da posição central das molas. Este efeito "gangorra" do eixo, faz as rodas copiarem o solo com incrível dinâmica, garantido muita tração sem sequer precisar de bloqueios nos eixos.
O mesmo acontece em posição inversa, quando uma roda desce em uma trincheira. A roda do lado oposto é forçada a subir, praticamente "desligando" sua mola, permitindo assim que a roda suba mais que normalmente. Deste modo a roda do buraco termina por descer um pouco mais, garantido imeditamente maior equilíbrio da carroceria e homogênea distribuição do peso sobre as rodas e terreno, resultando em maior tração.
O sistema de suspensão independente, presente na Disco 3 e outros bólidos, são enormente penalizados em situação de obstáculos em "X", sendo então fundamental o uso de bloqueios. Nestes sistemas, cada roda tem uma mola forçando a roda para baixo e veículo para cima, sem qualquer comunicação com o lado oposto, ou até pior, muitos ainda contam com fortes barras estabilizadoras que fazem o lado oposto obedecer a mesma direção de movimento, uma sobe a outra sobe também, deixando o sistema "travado", razão pela qual os novos Wrangler Rubicon desligam eletronicamente a barra estabilizadora frontal. Este é o motivo do Stark ser um tremendo fiasco em erosões.
O caso estremo são os tratores, que sequer possuem molas no eixo dianteiro, apenas uma gangorra. Nos 4x4, a gangorra ainda é tracionada, vide os fantásticos Valmet/Valtra 4x4.
Estaria então a indústria enlouquecendo ao adotar este tipo de suspensão, suspensão independente onde quer que se olhe?
Não, absolutamente não!
Na medida que os eixos rígidos são bons na terra, eles são inversamente ruins no asfalto. Nas curvas em alta velocidade, eles agem como eixos de um skate, complicando a vida do motorista atrás do volante sem que este perceba. Correções de trajetória acabam sendo necessárias durante variando de acordo com a posição da carroceria, eventualmente culminando em acidentes em desvios de alta velocidade.
A opção de uma suspensão mais moderna mostra a clara tendência do mercado, onde o consumidor procura uma veículo de uso predominantemente on-road. É neste terreno que as empresas investem. O mercado brasileiro idolatra os cromados, logo todos os Toyota e Hondas chegam carregados de falsos pedaços de plásticos cromados, simulando assim partes metálicas de outrora. Mercado, mercado, mercado. Não interessa mais a filosofia, mas sim a oportunidade de garantir maior retorno aos investidores, custe o que custar, seja um Bugatti Veyron ou um LR D4 com faróis de material perecível ao preço de um carro popular cada.
Voltando...
Então a D3 e D4 são ruins na terra?! Não! Elas não articulam como um Defender, mas o Diferencial traseiro e a avançada tecnologia fazem a mágica acontecer. Agora se chover, não existe pneus MUD para as medidas de suas rodas.
Por sorte a D3/4 tem em sua manga um sofisticado sistema de compensação de pressão entre suas bolsas de ar. Em uma situação de X, o sistema pneumático reduz a pressão das bolsas localizadas nas rodas de apoio (no topo to terreno) fazendo assim com que o veículo desça mais profundamente, garantindo às rodas inferiores contato com o terreno, que finalmente terminam por reconquistar a tração.
Infelizmente a sofisticação tem seu preço. Ver um Land Rover Serie 1 de 1950 em marcha, mesmo que seja um destruído na África, é algo bastante comum. O mesmo não acontecerá com as D3 e 4, Evoque e Freelas.
Tudo que é feito de plástico um dia ressecará e todos os modernos o-rings, computadores e motores elétricos um dia vão falhar. Esta é a natureza dos materiais empregados nestes carros. Se observamos, já é praticamente impossível encontrar rodando uma Range Rover P38. Mercado, mercado, mercado.
Vale atentar para o fato que a substituição da correia dentada traseira das D3 e D4 Diesel pede separação da carroceria do chassi "!", por sorte já elaboraram uma maneira de fazer o job com o uso de de um espelho e e algum contorcionismo. Verdade seja dita, são poucos as pessoas que compram uma Disco, com a idéia de casar com o carro. Quem tem uma D3, vai querer a D4, e assim em diante. Quantos realmente chegarão a trocar uma correia destas antes de entregar o carro ao desmanche?
Os proprietários dos Defender, geralmente escolhem o Defender como um estilo de vida, um estilo simplista e um tanto bruto. Convenhamos, de 84 até hoje NADA mudou na aparência, além de alguns desvios, como rodas de liga, pintura metálica, capô das Puma e adereços plásticos de igual e questionável gosto das Fire, SVX, etc...
Quem compra um Defender, não espera ter algo moderno, mas sim algo antigo e parrudo. Heritage.
Por sorte nos Defenders TDI tudo poderá ser reparado por longos anos a fio, nada de substituir caixas completas, mas sim peça por peça, parafuso por parafuso. Se quebrar, basta um par de olhos e ouvidos para encontrar o problema, nada de computadores, vias de comunicação digital (CAN-BUS) e protocolos encriptados proprietários LR.
Em resumo, as D3 e 4 são uma tentação, mas no fundo são veículos feitos apenas para agradar o motorista, sem qualquer compromisso com sua longevidade técnica ao longo de décadas de uso severo e muitas vezes como frota comercial ou bélica.
Estes carros são a resposta ao desejo do consumidor, resposta ao desejo pelo conforto, pelo design fashionista (vide o Evoque desenhado pela Victoria Beckham) e finalmente a resposta à necessidade de sobrevivência de uma marca em um mercado permeado pela pressão dos acionistas por maiores dividendos e sobrevivência no mata-mata da concorrência, num mercado onde os veículos ficam cada vez mais sofisticados, maiores, mais velozes e passam a cada vez mais a comunicar ao mundo a posição social de seus condutores ou passageiros.
Como dizem no UK, uma das maiores e melhores características do Defender, é o fato de não dizer coisa alguma sobre seu proprietário. É um carro "classless"! O condutor pode ser o motorista de frota da GDK ou a rainha da Inglaterra, cada um deles com sua importância para a sociedade (o motorista, na minha opinião, é muito mais "nobre"

. O que poderia dizer sobre o motorista de um Evoque?
Este texto não busca alfinetar os proprietários de D3/4, apenas tenta explicar a diferença de um par de eixos rígidos para uma suspensão independente e o processo pelo qual chegamos nestes sofisticados sistemas.
Enquanto é possível, continuo com meus eixos rígidos, sejam no Jimny ou no Defender.
Abs
Clemente