
Postado originalmente por
Horacio Teles
Bom, não resisto a umas breves considerações.
Naquelas terras do Brasil os índios andam de picapes do ano (todas com ar condicionado, rodão, etc.). Compram nos mercados das cidades com dinheiro vivo (de tudo). Chegam onde querem, pegam o que podem e não podem, são livres e vivem sob a tutela do estado, isentos de punições. Vendem a madeira das reservas, o ouro e outras coisas mais. Com isso conseguem muita grana. Não pagam imposto de renda.
Perguntei para nossos guias locais em nome de quem faziam os registros de propriedade das picapes, ninguém soube a resposta. Entretanto observei que todos os carrões tinham placas, o que pressupõe o licenciamento. Logo as "propriedades" são de alguém. Estranho, não acham, posto que os índios não tem residência numerada, CEP. Porém todos tem antenas para celulares, televisões de plasma, etc., etc. Bacana, não é?
Já os garimpeiros abrem grandes buracos no meio de fazendas devidamente griladas, com proteção dos "proprietários" grileiros, com bombas que derrubam árvores de 30 metros de altura para a retirada de 30 a 50 g de ouro por semana. Tascam o mercúrio e recolhem essa enorme riqueza. Se não é assim, são balsas com 3 ou 4 pessoas que vasculham o fundo dos rios com sugadores carregados por mergulhadores alimentados por ar produzido por compressores a diesel, sem nenhum filtro.
Ficam no fundo por mais de 5 horas. A proporção de ouro é a que falei.
Os donos das balsas moram na cidade mais próxima e são responsáveis pela alimentação e recebimento de uma parte (a maior) do ouro produzido. Também levam combustível.
Qualquer problema é resolvido na faca, na pistola ou na espingarda.
Se sobrar um corpo, vai para o rio, passivamente transportado até a uma barranca qualquer, de outra parada, onde acaba apodrecendo. Se eventualmente descoberto por um desses adeptos da pesca esportiva (aquela que pega e devolve o peixe ferido e estressado de volta para a água para morrer flutuando mais adiante) chama-se alguma autoridade, que sempre diz que não tem meios para a resolução do assunto. A coisa fica lá esperando solução, servindo de alimentação para urubus e outros bichos que gostam disso).
Ao fim, foi-se mais um desvalido.
Vez por outra esse pessoal vai até as cidades e gasta tudo naquelas coisas que todos sabem. As mulheres que sempre estão ao lado dos cantos ocupados pelos garimpeiros chamam esses sujeitos de "gastosos". Entenderam? Quando acaba o dinheiro dizem ao sujeito que a polícia passou procurando um cara muito parecido com o "gastoso". Falam para o "gastoso" que disseram para a polícia que nunca viram o dito cujo mas recomendam que ele suma para não ser confundido com o procurado. Sacaram? Outra jogada, pedem o pagamento de muitas bebidas, sempre ficando atrás do balcão, onde deixam um balde. Quando a bebida chega no balcão, a da "senhora" vai diretamente para o balde ao menor descuido do "gastoso", enquanto a dele vai direto para o fígado. Assim acaba o dinheiro do garimpo. Não dura nunca mais de 2 dias.
Outra coisa impressionante é a formação dos pastos para a colocação dos boizinhos. O pessoal corta tudo, menos as castanheiras. Essas ficam de pé. Depois disso, tascam fogo em tudo, e as castanheira permanecem lá completamente queimadas, como se fossem grandes estacas fincadas na terra. Com 3 peões, os caras cuidam de 2000 cabeças soltas no meio das castanheiras e das pedras, onde é claro não nasce o colonião. Pelo que vi, criadores de boi nessa região são mais devastadores que os madeireiros. Destroem amplas extensões de floresta num piscar de olhos.
Essa é uma parte incrível do Brasil, que certamente nossos governantes não conhecem.
Eu não sei o que acontece, mas o povo sabe de tudo isso. Basta uma conversa de 10 minutos para que digam o que desejam: apenas alguns quilos de feijão, um pouco de remédios para a dor de barriga, um dentista para a extração dos dentes podres e doloridos, um teto para os bacuris, um motorzinho para o barco. No mais, a vida segue tranquila.