Mas em algum momento, com alguma escala, a produção deixa de ser artesanal.
Este é um ponto importante. Não é produção artesanal. Adotamos um sistema totalmente industrializado, de montadora pura, com 100% de terceirização dos componentes por indústrias que já dominam a tecnologia de cada componente. Este foi nosso grande desafio, conquistar fornecedores que dominem a tecnologia, que já forneçam para montadoras, e que nos atendam com baixa escala e com preço competitivo. Daí a moeda institucional e a visibilidade pesaram muito, geramos neles o interesse em se aliar conosco. Assim, o risco da operação cai muito pelo baixo custo fixo e por já nascer com uma produção industrializada.
Qual a previsão de operação e faturamento?
Nosso plano conservador é operar com 100 unidades ao mês, mas com o ponto de equilíbrio em 20 unidades, cobrindo assim o custo fixo, que será bem otimizado. A posição de preço ao cliente final ficará em torno de R$ 80 mil por unidade. Isto dá R$ 96 milhões de faturamento bruto anual.
Não posso fugir desta questão, quando o carro será lançado e liberado para venda?
Durante o ano de 2009.
Houve ampliação do cronograma de lançamento? Como é o motor do carro?
Estamos tomando, agora em Maio/2008, a decisão sobre o motor do veículo. A princípio seria um Volkswagen 1.8 flex (gasolina e álcool). Mas o fabricante descontinuou este modelo de motor específico e tivemos que estudar alternativas, atrasando a previsão de lançamento, que era para o final de 2007. Felizmente, nosso plano estratégico tem uma preocupação com a gestão de fornecedores e a visibilidade da TAC é tão boa que já havia três outros fornecedores interessados, além de uma nova opção da própria Volks e outra, de motor diesel, da Fiat, que estamos estudando. Diesel é uma ótima motorização para este segmento de mercado, jipe esportivo. O que obviamente não inibe a TAC de, no futuro, oferecer também uma versão flex.
Brasileiro gosta de carro. É verdade que existe certo fascínio do brasileiro em relação à indústria automobilística? O senhor, por exemplo, veio da construção civil.
Fui feliz empreendendo na construção, mas no caso da TAC, entrei nesta idéia de coração, foi uma mudança total de vida, a paixão pesou mesmo. Sou mais feliz agora.
Existe sim, um fascínio por carros. E certo ressentimento do brasileiro por não termos uma indústria nacional.
É algo que observamos. O consumidor até abre mão de certos atributos por ser um carro nacional. Claro que não pretendemos nos valer disto, pois apostamos num produto de excelência.
Tem gente com saudades da Gurgel?
Sim, e não é pouca gente. Gurgel, Puma, etc.. A nossa história de indústria automotiva sempre foi muito rica, criativa e original. A Gurgel teve o grande mérito de criar no Brasil um mercado de nicho, dos jipes de lazer. Mas, perdeu o foco quando resolveu fabricar carros populares, tentando competir com as grandes multinacionais. Estudamos este passado. Não cometeremos conhecidos erros e não enfrentaremos estes problemas históricos.
Quais os problemas históricos da indústria nacional?
O país foi prejudicado por um mercado fechado por muito tempo, sem acesso aos componentes, sem uma plataforma independente. Por exemplo, vários carros usando a base da Brasília, em que qualquer mudança da Volks nesta base deixava todos a ver navios. Outro problema foi o desenvolvimento empírico, sem projeto e a conseqüente produção artesanal, de alto custo e de baixa produtividade. Eu entrei para estudar este projeto com a premissa do que não seria possível fazer. Mas as pesquisas e o plano de negócio mostraram a viabilidade. Para diminuir riscos nos blindamos para evitar estes problemas históricos.
Era o menos otimista dos cinco sócios fundadores?Digamos o mais apaixonado e por conta disto, pela minha formação de engenheiro e gestor, entendo que a idealização deve ser confrontada pela realidade de mercado.
Se você entra com a paixão muito grande, você cria um filtro e não enxerga o que o mercado diz.
Tive que ser conservador, minha decisão nesta mudança radical de vida me exigiu isto. Tive que vender o projeto primeiro para mim.
Como foi a escolha do nome?
Foi um grande desafio. Sofremos e queimamos neurônios. O nome Stark significa forte, em alemão, e foi definido em 2006. O carro conceito que deu origem ao projeto é chamado de Trilha e o nome do projeto interno era A4. Para escolher o nome definitivo, criamos e selecionamos vários. Eu, sinceramente, tinha preferência por um nome brasileiro assim como o carro, uma palavra da língua portuguesa, mas não foi possível. Descartamos várias idéias por já terem donos, pois as montadoras trabalham com muitos nomes registrados com muita antecedência.
O Stark é posicionado no segmento de luxo. O senhor acredita que o Brasil tem mercado para novas marcas premium?
Sim, e muito. O mercado de luxo cresce cerca de 18% ao ano, desde 2000. E não é mais o mercado de ostentação, é um mercado de luxo para pessoas que compram pela boa relação custo-benefício, que agrega funções e diferenciais.
Marcas de luxo carregam décadas de tradição no caso de veículos e até séculos no caso de vinhos e relógios. O fato da marca Stark ser estreante no mercado luxo aumenta o desafio?
Sobremaneira, aumenta sim. Tanto que nosso plano estratégico foi de apresentar um projeto que chamasse muito a atenção e trouxesse para nosso carro a grife dos fornecedores de componentes. A TAC conquistou um respeito muito grande do mercado automotivo, tanto das grandes montadoras como dos fornecedores. Por exemplo, recebemos a vista do presidente mundial da GM, Ray Young. Ele elogiou a velocidade e a competência de todo o desenvolvimento do projeto. Existe uma tradição internacional entre as grandes montadoras, em se aliar às menores para projetos especiais de pequenos desenvolvimentos, tanto na Europa quanto nos EUA. Ele disse que não havia ninguém com este perfil na América Latina, até conhecer a TAC.
Qual o perfil do usuário de um veículo Stark?
Público classe A, pois se trata de um produto de luxo. Quanto à idade, não há faixa cronológica, nós chamamos de jovem estendido, que pode ter 25 ou 65 anos. É a pessoa com espírito jovem, esportivo, aventureiro e de bem com a vida.
Muita gente tem jipes e pick-ups grandes e luxuosas, mas nem pensa em sujar os pneus de lama. Sinceramente, o senhor acredita que o carro será mais usado dentro ou fora-de-estrada?
Sim, é fato pesquisado, entrevistamos mais de 600 proprietários de carros 4×4. A pesquisa apontou que 96% dos usuários planejam uso urbano e apenas 4% fora-de-estrada.
Agora, estes 96% de urbanos querem se apoiar na imagem do que os 4% de aventureiros fazem.
Tanto que 77% destes usuários urbanos nunca usaram a tração nas 4 rodas. Daí, nós ofereceríamos uma versão sem tração nas 4 rodas, e este público nos diz claramente que não compraria. Mesmo que não use, ele compra o potencial do carro. É o mesmo caso do dono de pick-up que raramente usa a caçamba para colocar alguma carga. É o que ocorre ainda com quem compra Ferrari no Brasil, pois não há onde acelerar este carro aqui.
Trata-se da projeção do “homem Marlboro” ou do “cowboy de asfalto”?
Muitos têm este desejo aventureiro, mas pelos compromissos do dia-a-dia urbano nunca poderão realizar. Mas, só o fato de comprar já o satisfaz. E tem mais uma coisa, essa onda de aquecimento global, do planeta sendo “consumido” cria uma angústia nas pessoas que não conseguem desfrutar mais da natureza.O veículo 4X4 permite este contato mais íntimo com as belezas naturais do nosso planeta.
Quem mais usará o Stark?
Além do homem esportivo, há o público feminino, que ainda pretendemos pesquisar melhor. A mulher gosta do design com as linhas orgânicas e da sensação de segurança, de ter um carro resistente, imponente, alto e atraente.