Vendedor de Hummer nos EUA diz que nem dorme à noite
Em 2005, Jim Lynch fez uma grande aposta em um veículo grande. Ele já era um bem-sucedido revendedor da Hummer, mas gastou US$ 7,5 milhões em um showroom de 3.158 m² em um nobre subúrbio de Saint Louis. Ele até transformou 24 hectares de planície aluvial do rio Missouri em uma trilha de chão batido, esperando que as pessoas viessem de longe para testar - e comprar - seus potentes veículos utilitários esportivos.
A General Motors (GM) o animou, dizendo que ele poderia chegar a vender anualmente até 1,3 mil Hummers - cujo preço começa em US$ 30 mil e pode chegar a mais de US$ 100 mil, sem mencionar os milhares de dólares que os usuários gastam em acessórios -, mais do que suficiente para cobrir a hipoteca mensal de US$ 60 mil. Ele vendia 70 Hummers novas por mês quando abriu a loja, mas agora atende apenas um punhado de consumidores a cada mês. "Isso não paga nem os juros sobre meu estoque", disse Lynch. "Agora não durmo à noite pensando no que posso fazer com esse prédio grande e bonito."
As vendas de Hummer ao todo caíram tanto - 51% no ano passado, o pior desempenho do setor - que a General Motors está tentando encontrar um comprador para a marca. Sem um, a companhia pode fechar a Hummer. Um anúncio sobre o destino da Hummer pode ser feito na terça-feira.
"É uma marca que representa muito do que as pessoas não querem", disse Rebecca Lindland, analista da empresa de pesquisa IHS Global Insight.
"Mesmo se o preço do combustível baixar, ela ainda irradia consumo desenfreado", disse Lindland. "De repente, a Hummer foi percebida como tudo que está errado na dependência americana de petróleo estrangeiro."
Nick Richards, porta-voz da Hummer, disse que a GM permanecia "em discussão com várias partes" e não havia determinado o que fazer com a marca, embora a companhia tenha em fevereiro descartado continuar com a Hummer. Se ela for fechada, seria desativada "bem rápido", segundo o presidente da GM, Frederick A. Henderson, no mês passado.
O fim da Hummer seria comemorado por ambientalistas, que criticaram implacavelmente o modelo, que faz, em média, menos de 4,25 km por l. Outras marcas, como a Land Rover, têm desempenho similar, mas a Hummer tornou-se o bebedor de gasolina por excelência. Um site que pede que visitantes enviem fotos de si com uma "saudação" de um dedo à Hummer já publicou cerca de 5 mil delas.
Para Lynch e 379 outras concessionárias da Hummer pelo mundo, porém, seria um fim súbito para uma marca que já pareceu ter sólido futuro.
Entre seus defensores mais leais estava Robert A. Lutz, desenvolvedor-chefe de produtos da GM, que está se aposentando neste ano. Logo depois de se juntar à GM em 2001, Lutz visualizou a Hummer como uma marca global que poderia desafiar a imagem e supremacia off-road dos produtos Jeep da Chrysler.
"Acho que a Hummer tem muito mais potencial do que a GM desconfia", disse Lutz na época. "Ela representa algo, e é isso que as pessoas querem".
Agora a Hummer é o símbolo de uma época em que os veículos utilitários esportivos, os SUVs, dominavam as pistas americanas e injetavam grandes lucros nos cofres da GM e de outras montadoras.
"Existiam muitos motivos para o otimismo com a marca, mas aquele era um mercado muito diferente", disse Lindland. "Tudo mudou muito rápido. Entrou em colapso quase tão rapidamente quanto subiu."
Foi um despertar brutal para Lynch, 46 anos, que começou a vender Hummers há 15 anos, logo após a A.M. General, de Mishawaka, Indiana, iniciar a produção de uma versão civil de seu Humvee, usado por militares.
Lynch comprou um dos gigantes de 2,8 t em 1994, enquanto trabalhava na concessionária da Toyota de seu pai, de onde acabou saindo para se tornar o único revendedor de Hummer do Missouri.
"Pensava que era o único suficientemente pateta para querer uma dessas grandes bestas", disse. "Mas depois percebi que ele era diferente de todos os outros veículos e tinha capacidades que não dá para achar em um carro comum."
Lynch adorou o manejo da Hummer e sua habilidade de dirigir em quase qualquer lugar, e depois percebeu sua durabilidade em dois acidentes. Em cada caso, o veículo que bateu na Hummer teve perda total, mas ele dirigiu para casa sem qualquer evidência visível de uma batida.
Por sete anos consecutivos, Lynch teve a concessionária de maior volume da Hummer, normalmente vendendo mais que o dobro de veículos de seu concorrente mais próximo. Um mural em um trailer customizado, que usava para transportar Hummers a eventos ao redor dos EUA, alardeia ser "a concessionária Hummer número um".
Hoje em dia, ele mantém cerca de 50 Hummers novos em seu estacionamento. Há quatro anos, ele estocava em torno de 300 em qualquer período, chegando a encher uma área adjacente.
Lynch foi o maior vendedor da Hummer original, a H1, antes de sua produção ser interrompida em 2006. Ele tem um negócio próspero de peças e acessórios no qual planeja se concentrar mais, particularmente se a Hummer acabar.
Seu edifício está à venda, mas ele tem esperança de apenas se mudar para um lugar menor, não fechar completamente a concessionária. Isso significaria abandonar a pista onde organizava grandes ralis gratuitos para seus clientes várias vezes no ano.
Ele já vendeu o pequeno trator que usava para a manutenção da pista, finalizada na última hora em 2005 para uma equipe do Travel Channel gravar um segmento sobre ela. "A maior parte dela foi feita por mim e meu gerente de peças, com serras elétricas e Hummers", disse.
A GM contou muito pouco às concessionárias sobre seus planos para a Hummer, mas Lynch tem esperanças de que os executivos encontrem uma forma de salvar a marca que tem sido seu meio de vida por 15 anos.
Ele lembrou da tempestade de neve do inverno passado, quando muitos caminhões de carga estavam atolados na Interestadual 64, próxima à sua loja. Ele puxou dois deles de volta à rodovia e por uma colina gelada prendendo as cabines na Hummer de 1997 que dirige.
"Éramos as únicas coisas se movendo", disse. "Eu lhes disse, 'Na próxima vez que alguém disser que todo mundo deveria dirigir um híbrido, conte a ele sobre isto'."