Postado originalmente por
Théo_Augusto
A decisão de escrever este post não foi fácil, visto que envolve sentimentos e pensamentos muito discrepantes entre todos nós.
Tinha decidido não me manifestar, mas achei isto impossível diante das dúvidas da família. Então a decisão de escrever este post é, primeiro, de tentar ajudá-los a entender a perda de um ente da família. Se eu conseguir isto, mesmo que de forma superficial, acho que cumpro um pouco da obrigação que todos nós temos com relação ao respeito ao próximo e à verdade.
Eu estava na prova. Era o carro 17.
Há quase 5 anos participo de provas da MMS. E, APENAS para que meus comentários não pareçam - ou sejam recebidos como de alguém inexperiente, digo que sou o atual campeão da categoria Graduados, e pratico este esporte desde 1989.
As afirmações abaixo são fatos:
O trecho do acidente fazia sim parte da prova, visto que os carros de trás percorreram o mesmo trajeto, e em função da topografia não existia outra possibilidade de trajeto;
Choveu muito durante a noite;
O trecho alternava entre seco e muito liso (especialmente curvas);
Naquele momento a prova era muito sinuosa. Não posso afirmar especificamente do trecho do acidente;
O trecho 32 (proximidade do acidente) foi mostrado no briefing de sexta (obrigatório para as duplas), inclusive com a foto da referência;
O ultimo pc registrado pelo gps do Roberto foi no trecho 30 (PC no. 7) Média 48. km=3,740.
O Roberto passou perto de 1 segundo atrasado.
O Roberto não passou no PC no. 8. km=4,306.
O GPS pode dizer exatamente qual a velocidade/local na hora do acidente;
Pela afirmação de outro carro, que vinha pouco atrás, existia uma marca na estrada.
Mostrava um rastro em direção ao barranco, uma rodada e apontava para o rio;
Entretanto existe a possibilidade de ser da pajero que parou para ajudar;
Este mesmo competidor avisou uma picape da organização que estava logo a frente gesticulando, com o braço esquerdo para fora do vidro, que alguém tinha rodado lá atrás;
A partir de agora são considerações minhas, diferente do relatado acima.
Com relação ao que o Fred disse: que percorreu o trecho em um gol, andando a 50/55km/h: Parabéns!!!! Pela primeira vez, em quase 5 anos, ouvi o piloto dizer que "tiraria o pé", pois estava "receoso" pois nosso carro teimava em escorregar para bem perto (centímetros) do barranco/rio. Tração e reduzida ligadas.
Quando chegamos no evento, parecia tudo normal: almoço e música rolando.
Particularmente acho que a prova deveria ter sido cancelada a partir do momento da confirmação da tragédia. Para ser honesto com minha consciência, me retirei.
Ainda com relação ao que já foi dito aqui: SIM! estamos a toda hora sujeitos aos riscos, seja quando atravessamos a rua, ou quando andamos em rodovias. Seja quando pulamos de para-quedas ou quando estamos nestes rallys....
Mas acredito que estes riscos não precisam ser potencializados!!!! Não é porque vamos pular de para-quedas que vou sem capacete ou vou desprezar os ventos...
Não é porque já estou numa rodovia perigosa que vou andar sem cinto...
Não é porque estou num rally que preciso passar num trecho liso e com pirambeira de mais de 30m.... E todos que praticam este esporte sabem: quando o totem apita, não importa o que está do lado.
Acredito que ser diretor de prova carrega consigo muito mais responsabilidades do que levantar, medir e colocar pc´s. Muito mais do que fazer "pegadinhas" para testar os navegadores... Muito mais do que fazer briefing ou analisar recursos....
Ser diretor de prova também é apropriar os riscos, mas principalmente, tentar minimiza-los... Deixando apenas aqueles intrínsecos ao esporte, analisando-os levando em conta até mesmo os fatores externos (choveu muito a noite)...
Se não fosse a tragédia, afirmaria que a prova estava ótima! E não perderia nada se eventualmente tivessemos trechos de deslocamento com radar sempre que se vislumbrasse risco sério aos competidores.... Embora pareça fácil este discurso neste momento dificilimo, estou tranquilo com minha consciência porque sempre cobro muito das provas que participo, o aspecto segurança.... Existem muitas provas por aí que pareça que querem medir a coragem dos participantes, e não a regularidade. Não estou falando da MMS!
Pois é necessário lembrar que, nos últimos tempos, a MMS vinha aprimorando seus quesitos de segurança nas provas, em especial os "bumps", as saídas "cegas" ou médias reduzidas nos cruzamentos....
Também é forçoso lembrar que o diretor de prova sempre foi um defensor do uso de capacete, e a não-obrigatoriedade vem de fatores não diretamente a ele ligados, segundo contam os boatos....
Entretanto, obviamente que a MMS não vai sair por aí alardeando o acontecido, ninguém aqui é inocente a ponto de acreditar ou mesmo cobrar isto dela...
Mas segunda feira abri o site da MMS, esperançoso em ver ao menos uma nota ou sinal de luto, mas não encontrei nada disto....
Me confortava achando que a MMS estava dando todas as respostas possíveis à família, mas também pelo que vi, as coisas não estão assim....
Particularmente acho que ela esta equivocada, mas não sou ninguém apto para julgar sua politica de marketing ou de relacionamento/respeito com o consumidor....
Este post, como já afirmei, está sendo dificil de ser escrito, pois tenho receio do caminho que posso tomar este esporte, mas achei que precisava externar minha opinião e meu relato dos fatos que vi...
Meus sinceros pêsames à família.
Théo