Amigos,
apresento a vocês a mais nova aquisição: PANDORA. Trata-se de uma Toyota Bandeirante ano 1980, modelo pickup, comprada a preço de sucata em reciclagem. É mais um veículo que me desperta interesse e se encontra dentro da minha capacidade orçamentária. Espero ser breve para relatar como esta belezura chegou até mim e também o motivo de tê-la batizado com este nome. Espero também contar com a ajuda de todos com dicas, sugestões e conselhos a fim de deixá-la "rodável".
Em um breve resumo, achei em um site de anúncios da internet. Perguntei se havia documento: "sim". Perguntei se havia alguma restrição: "não, só um débito de quase mil reais no DETRAN". Perguntei se funcionava: "sim, mas está parada há quase um ano". Fechei negócio por telefone, na condição dela estar como nas fotos e não possuir restrições - que eu ainda consultaria. No outro dia fui buscá-la. Estava pior que nas fotos, mas pelo valor entendi que ainda parecia valer à pena. Paguei menos que uma moto popular usada + 180 de guincho até minha casa. Na pior das hipóteses ela seria retalhada e vendida aos pedaços para cobrir o "preju".
Agora eu era dono de uma Bandeirante, um dos veículos que considero ter ajudado a construir o Brasil nas costas. Já na garagem da minha simplória oficina, decido diagnosticá-la a fim de saber como medicá-la. Cabine com diversos podres; assoalho em estado de medo (buracos e corrosões por todo lado); eixo dianteiro oco (sem qualquer engrenagem) e sem cardã dianteiro; eixo traseiro de F-100; remendos por todo lado; portas sem fechaduras e máquinas do vidro; ausência de vidro na porta esquerda; cilindros de embreagem e freio totalmente oxidados e sem óleo; etc.
Retiro os bancos e o tanque. A situação se agrava: visão do inferno! Ligo a lavadora de pressão, abasteço com produto de limpeza pesado e começo a saga. Quando a água escorreu do chão, necessitei uma pá para recolher quase 2kg de ferrugem e pedaços de metal que se soltaram com a água. Resolvo encher o compressor e com o auxílio de minha super pistola e catraca pneumática começo a desmontar o novo brinquedo. A primeira coisa a sair foi a carroceria de madeira, já quase toda podre. Em seguida passei para a cabine, até deixá-la somente o powertrain e o chassi. Este processo durou quase duas semanas.
Estava lá o OM314. Água e óleo verificados e trocados, resolvo funcionar. A bateria de 70A da Blazer pediu arrego. Vou atrás de uma bateria de 120A de caminhão. Em algumas voltas o escapamento começa a cuspir fumaça. O barulho de caminhão ecoa nas proximidades. O velho OM estava em combate, precisando apenas trocar a farda para voltar à ativa. A vontade de relatar a vocês neste fórum era enorme, mas precisava ter um diagnóstico completo. Enquanto isto pensava em um nome em meio à falta de tempo como qualquer pai de família que trabalha sabe como é difícil.
Não sou criativo. Pensei, pensei e como na internet nada se cria, tudo se copia, usei da criatividade dos policiais e promotores de Justiça para chegar ao nome que refletisse à realidade da Band quando a comprei. Nada melhor que CAIXA DE PANDORA. Segundo o wikipedia, caixa de pandora é "um artefato da mitologia grega, tirada do mito da criação de Pandora, que foi a primeira mulher criada por Zeus. A "caixa" era na verdade um grande jarro dado a Pandora, que continha todos os males do mundo". Foi também o nome utilizado na operação que o Governador de Brasília (Arruda) fora preso e afastado do poder. Para não ficar extenso, ficou: PANDORA.
Incomodado com o que fazer com tanta podridão e ferrugem, busquei o OLX e terminei achando em Goiânia-GO uma cabine de uma Band do mesmo ano e modelo da Pandora. Negociei por telefone, pedi fotos, logo chegou pelo whatsapp. Em seguida ofereci um valor que estava ao meu alcance. Eu era dono em tese de uma cabine completa da Band, mas o vendedor teimava em não acreditar que eu buscaria ela numa carretinha e traria para Brasília assim. No outro dia às 05:00 da manhã saio de casa, acompanhado de meu pai e um amigo. Aproveitei a ida à Goiânia para resolver umas questões particulares. Às 11h, com o termômetro atingindo seus 39º e sensação térmica de 44º, estávamos fazendo força para colocar a cabine sobre a carretinha. Dimensões próximas de serem excedidas, amarramos, paguei, recibo assinado e sai.
Confesso que não acreditei que não fossemos chegar nas mesmas condições que saímos. A cabine é pesada. A carretinha de um eixo nas "excelentes" vias do subúrbio de Goiânia parecia mamulengos dançando frevo. Ao menos estávamos sob o ar condicionado da velha Blazer. Em poucos quilômetros pegaríamos a BR-060, já concedida, e então a condução ficaria mais tranquila ante à qualidade do pavimento. Dito e feito! Mantivemos a velocidade entre 60 e 70 km/h. Só uma pequena observação: ao chegar nas imediações da grande Brasília, um carro encosta ao meu lado buzinando. Assusto pensando ter algo solto ou na iminência. O cidadão pergunta se estava à venda a cabine, pois tinha uma Band capotada e precisava de uma cabine. Informei que estava na mesma situação e segui adiante. Às 17h chegamos em casa. No outro dia iniciei a desmontagem. Agora farei a triagem das peças que irei usar, pois tem bastante peça em duplicidade, e mandarei ao jato de areia. O que sobrar irá ser vendido ao final de tudo.
Espero ir alimentando o tópico dentro da maior brevidade possível, mas informo desde já que disponho de pouquíssimo tempo para dedicar ao serviço de UTI da Band - que é verdadeira terapia para mim. Espero contar com vocês, lembrando que quero deixar a Band "rodável" com segurança, mas também sem gastar fortuna que não possuo. É o início de uma aventura. Um abraço a todos. Eis as "ibagens"!!!