Tempos atrás, a Jipemania, uma das mais conceituadas revistas sobre off-road do país, editada por nosso amigo Roitberg, exibiu uma matéria testando um determinado veículo. Findo os testes normais, ficaram curiosos para saber como os componentes eletrônicos do motor reagiriam sob uma quantidade realmente grande de água, situação típica no off-road, quando vencemos trechos alagados.
Para isso, Roitberg e sua equipe abriram o capô do veículo e, com o motor em funcionamento, despejaram alguns baldes de água sobre ele. Como o motor continuou a funcionar plenamente, sem falhas ou qualquer outro defeito, a Revista Jipemania considerou que o veículo em questão havia passado inclusive no "Teste do Balde".
Esse teste, naturalmente gerou enorme polêmica na JipeNet, o já famoso Jipe Clube Virtual. Muitos questionaram sua validade, mas eu de pronto, considerei-o extremamente válido.
E quando você vai sair para passear de jipe, por exemplo, e a mulher fala:
- Você vai sair com esse tempo? Não está vendo que está chovendo baldes d'água?!?
Então? O teste é muito válido, sim senhor! No entanto, para sua maior realidade, dever-se-ia jogar não apenas a água, mas também o próprio balde. Dessa forma, relaciono a seguir o resultado hipotético, se tal teste fosse mesmo realizado em diversos modelos:
1. Jeep Willys - o balde ricocheteia, indo parar na cabeça do proprietário. Em seguida o motor parou mas o proprietário alegou ser apenas entupimento do filtro de combustível, ou bomba de gasolina, ou alguma dificuldade com o platinado, ou ainda...
2. Niva - o balde atravessou o compartimento do motor, batendo e posteriormente rolando pelo chão. Observações mais apuradas notaram que o motor havia sido retirado por seu proprietário para ser instalado o kit do AP2000.
3. Samurai - por ser maior que o próprio motor, o balde não chegou a caber no cofre do mesmo. A equipe decidiu então jogar o motor contra o balde, o que, para todos os efeitos, deveria produzir os mesmos resultados, com a vantagem desse último ser mais leve do que o próprio balde. O proprietário, no entanto, não concordou com a decisão da equipe de testes, o que tornou o teste inconclusivo;
4. Toyota Bandeirante (motor MB) - o balde atravessa o vão entre o motor e o radiador, sem alterar sua trajetória. No chão recolheu-se apenas fios longos, como aqueles obtidos nos trituradores de papel.
5. Toyota Bandeirante (motor japonês) - o balde atravessou o compartimento do motor da mesma forma, mas nos fiapos recolhidos, lia-se "Só Toyota é made in Toyota" em diversas formas.
6. Troller — Ao nos aproximarmos do referido veículo com o balde nas mãos, foi impossível à equipe abrir o seu capô. A cada nova tentativa de nossos técnicos o motor MWM rugia mais forte, o que certamente comprometia as condições de segurança do teste, já que o veículo parecia desgovernado. Ao consultarmos seu proprietário sobre a estranha reação, foi-nos explicado que "o vencedor do rally mundial de velocidade não tem que provar nada para ninguém".
7. Javali - após o contato inicial do balde com o poderoso motor desse veículo, o primeiro se desfez, transformando-se em uma massa disforme que com muito custo pôde ser recolhida do chão. Consultado o fabricante do balde, nossa equipe foi informada que atá um balde tem seus limites operacionais. Em contato com antigos funcionários do setor de Engenharia da extinta CBT - hoje ermitões isolados nas nascentes de grandes rios como o Amazonas, Solimões e Nilo - foi-nos relatado que para esse teste, seria necessário um balde original CBT, modelo Javali. Segundo ainda estes mesmo engenheiros - alguns deles ocupadíssimos reinventando a roda - foi a pouca consciência dos proprietários, utilizando peças de procedência duvidosa que acarretaram a falência desse excelente projeto.
8. Land Rover - ao nos aproximarmos com o balde cheio de água, o capô desse veículo travou de tal forma que nos foi impossível abri-lo. Seguindo orientação do fabricante, optamos por um balde para gelo de prata com detalhes em estanho, peça pertencente à coleção do Palácio de Buckinghan, completado com água Dom Perrier na proporção de 3/4 à temperatura ambiente e 1/4 gelada. O capô só pôde ser aberto quando uma grande capa de cashemir foi posta sobre seus pára-lamas, impedindo que eventuais respingos os atingissem.
9. Vitara - o balde bateu contra o motor e caiu no chão em frente ao carro. Seu proprietário saiu de ré pois considerou o obstáculo intransponível (o veículo testado não tinha o kit de suspensão da Calmini).
10. Engesa - Com o impacto do balde, a frente abaixou, subindo em seguida, o que arremessou o balde a uma grande altura. Até o fechamento dessa edição, não havíamos ainda recolhido o balde de volta a esse planeta. Autoridades do INPE compareceram ao local para avaliar as possibilidades do veículo como LOCL (Lançador Orbital de Cargas Leves).
11. JPX Montez - Ao abrir o seu capô, uma fortíssima corrente de convecção impediu que a água chegasse a ter contato com o motor, sendo atirada para cima e voltando em forma de chuva ácida sobre a equipe de testes. A roupa de amianto utilizada nessa ocasião impediu maiores danos. Quanto ao balde, como ele derreteu ainda na mão de nossos técnicos, os resultados desse teste também não puderam ser conclusivos. Em contato com a fábrica, o Sr. Severino, que ocupa interinamente o cargo de Vice-Presidente e Diretor de Marketing e Engenharia de Projetos e Produção, Gerente Comercial, Administrativo e de RH, Chairman e Faxineiro, nos explicou que, se isso realmente aconteceu, foi por culpa do proprietário, já que o motor não estava nas especificações determinadas pela engenharia, com certeza culpa de mistura incorreta de aditivo ou tampa do radiador não original. A equipe ainda foi convidada a passar por lá, comer uns pãos-de-queijo, jogar uma prosinha fora e eventualmente comprar o que restou da fábrica.
Como vêem, aqui tudo fazemos pelo bem da ciência e da boa informação. Em caso de qualquer dúvida, traga-nos o seu veículo para que possamos repetir a experimentação em condições rigorosamente controladas.
Decio Pedroso