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Boas doses de expectativa e apreensão são acompanhamentos obrigatórios de toda primeira vez, seja ela qual for. É isso que está acontecendo neste momento com a Volks em relação a sua picape Amarok. Além de ser um projeto novo, trata-se da primeira picape média que a VW faz em seus 72 anos de existência – a picape Taro, vendida na Europa nos anos 90, levava o emblema VW, mas era feita pela Toyota. E este é o momento em que ela começa a ser apresentada à “sociedade”.
A apresentação mundial da Amarok vai acontecer em fevereiro, na Argentina, onde o utilitário será fabricado. Em abril está marcada sua estreia no Brasil, para onde devem se destinar 60% das vendas, segundo a VW. Os outros 40% serão divididos em partes iguais entre o país de nascença e o resto do mundo – Alemanha, Austrália, Rússia e países da América Latina, estes com 20%. Mãe zelosa, a VW está tratando de preparar o terreno para a chegada. E, entre os cuidados pré-lançamento, organizou um test-drive prévio com um pequeno grupo de jornalistas dos mercados em que a picape será vendida. A ideia é ter uma prévia de como será a recepção da Amarok por parte da crítica especializada, a chamada primeira impressão. Teste completo, só depois do lançamento, até porque as picapes usadas na ocasião eram modelos pré-série, segundo os engenheiros que acompanharam a avaliação.
O ensaio percorreu cerca de 250 km, passando por trechos de asfalto e de terra, incluindo rotas acidentadas que foram usadas pelos organizadores do Rally Dakar deste ano, entre as cidades de Córdoba e La Cumbre. Havia cinco picapes em teste. Todas tinham carroceria com cabine dupla e motor 2.0 diesel biturbo de 163 cv. Mas três eram equipadas com transmissão 4x4 Full-Time e duas traziam transmissão do tipo 4x4 Part-Time, que, na maior parte do tempo, trabalha no modo 4x2, com a força de tração levada para o eixo traseiro.
Na linha que será apresentada no lançamento, haverá também duas outras opções de motor: 2.0 Turbodiesel, de 122 cv, e 2.0 movido a gasolina, com 160 cv de potência. E, por enquanto, apenas uma opção de câmbio manual de seis marchas. O sistema automático é coisa somente para 2011, época em que poderemos ter também as versões com motor flex e com cabine simples.
Durante o test-drive as picapes estiveram o tempo todo camufladas, para evitar que imagens vazassem antes da avant-première. Havia adesivos reflexivos para confundir a posição das lanternas e fitas pretas disfarçando detalhes do design. No lugar do VW estilizado da Volks, foram colocados os três diamantes da Mitsubishi, em posição invertida, o que logo inspirou um jornalista argentino a apelidar a Amarok de picape bishiMitsu. Só foi possível ver a picape sem disfarces no fim da viagem.
No pouco tempo em que apareceu ao natural, a Amarok mostrou, porém, que não tem nada de Mitsubishi. Apesar de ser a primeira vez que os alemães desenham uma picape, eles souberam dar à Amarok os traços do DNA germânico. Isso pode ser percebido nos volumes dos para-lamas e nas superfícies planas das portas, por exemplo. Sem falar nos genes próprios dos Volkswagen, como os arcos das caixas de rodas, que seguem o perfil do SUV compacto Tiguan, o corte do capô, que forma um vinco igual ao que se encontra no novo Golf Plus, e os faróis, que seguem o estilo de todos os VW recém-lançados. Internamente, chama atenção o console largo e ladeado pelas saídas de ar grandes e redondas. Mas, no conjunto, o painel de instrumentos é conservador.
Sentado ao volante da Amarok, é interessante notar que os botões do painel, as maçanetas das portas e o próprio volante de três raios não só identificam o estilo VW como já foram vistos em outros modelos da marca. Esses elementos revelam o conceito que orientou o desenvolvimento da picape.
Apesar de o nome Robust ter sido cogitado, a Amarok tem equipamentos típicos de carro de passeio e se comporta como tal, na maior parte do tempo. A direção é leve como a do Passat, o freio é progressivo como o de um Golf e a suspensão, macia como a do Touareg – no comportamento, a suspensão só não se compara à de um sedã pela influência dos pneus 245/65 R17, próprios de utilitário. Em relação à suspensão, porém, é preciso fazer uma ressalva: as picapes de teste carregavam lastro na caçamba, o que contribui para assentar a suspensão e deixá-la mais confortável. As versões equipadas com tração 4x4 Full-Time levavam 250 kg e as 4x4 Part-Time tinham 150 kg. Segundo a VW, o objetivo da carga era simular uma condição real de uso. De qualquer modo, se o peso deu uma força para a suspensão (que usa feixe de molas semielípticas na traseira) para ficar mais confortável, sem dar aqueles “pulos” característicos, por outro lado deu mais trabalho para o motor, que se comportou com valentia durante a avaliação.
O 2.0 biturbo demonstrou desempenho acima do satisfatório tanto nas ultrapassagens, em estradas, quanto na transposição de obstáculos, em trilhas. Em relação ao câmbio, no entanto, não havia necessidade de seis marchas. As relações são curtas, o que é bom para explorar a força do motor, mas a sexta pareceu dispensável. E, no que diz respeito aos engates, a sexta velocidade acaba por confundir o motorista, uma vez que a alavanca não é daquelas que encontram o caminho da marcha sozinha, com um leve toque. Ela precisa ser conduzida até o fim do curso.
Quem viaja no banco traseiro poderá sentir falta de saídas de ar dedicadas, mas com certeza vai apreciar os bancos que permitem viajar com uma postura correta, com os joelhos no mesmo nível da bacia. Normalmente, no assento traseiro da maioria das picapes com cabine dupla, os joelhos ficam em um nível mais alto, o que cansa e compromete a circulação de sangue nas pernas.
Segundo os engenheiros que acompanharam o test-drive, a Amarok tem a missão de competir principalmente com a Toyota Hilux, que foi a referência para a fábrica durante todo o desenvolvimento. A VW quer encarar a rival em desempenho, tecnologia e segurança, entre outros aspectos. E essa briga deverá ocorrer também no mercado. Por isso, é possível imaginar que a Amarok tenha versões com preços entre 70 000 e 150 000 reais, assim como a Hilux. Diante da boa impressão causada na apresentação, o preço, aliás, é a única coisa que pode comprometer a carreira da jovem debutante. Nesse caso, a apreensão fica mais por conta dos pretendentes, uma vez que ela demonstrou ser prendada o suficiente para se cuidar sozinha.
VIDA SELVAGEM

A Amarok foi batizada internamente pelo código RP-1, sigla de Robust Pick-up 1. O número 1 vem do fato de ser a primeira picape da marca. Por isso, durante algum tempo se cogitou chamá-la de Robust, nome que expressava uma das qualidades que a fábrica queria associar à imagem da picape. Na última hora, porém, a VW decidiu a favor de Amarok, que, na língua dos esquimós que vivem no norte do Canadá, significa lobo, um animal que, para esse povo, é o rei da vida selvagem e representa força, robustez e resistência, segundo a Volkswagen.
VEREDICTO
A VW conseguiu fazer uma picape à altura da Toyota Hilux, rival que adotou como referência. Falta saber o preço da Amarok. Será interessante ver as duas em um teste comparativo.
FICHA TÉCNICA
Motor: frontal, longitudinal, 4 cilindros, diesel, common-rail
Cilindrada: 1 968 cm3
Diâmetro x curso: 81 x 95,5 mm
Potência: 163 cv a 4 200 rpm
Torque: 40,8 mkgf a 1 750 rpm
Câmbio: manual de 6 marchas, tração integral
Carroceria: aço estampado, picape cabine dupla, 4 portas, 5 lugares
Dimensões: comprimento, 525 cm; largura, n/d; altura, n/d; entre-eixos, n/d
Porta-malas/caçamba: 155 x 162 cm
Tanque: 100 litros
Pneus: 245/65 R17
Equipamentos: 4 airbags, ar-condicionado digital, sistema de som, ABS, ASR, ESP e sistema de assistência em descidas (Hill Descent Assist)