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  • #1
    Usuário Avatar de Kim
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    Carta Do Zé (agricultor) Para Luis (da Cidade).




    Pessoal, isso é uma realidade que os agricultores estão vivenciando, aqui faz-se uma sátira, mais a coisa está ficando séria!

    A outorga já estou pagando, 20% +reserva legal, já não posso mais usar.

    Cortar uma árvore, cadeia...

    E os MSTs, roubando, matando, degradando (e muito)...

    Favelas nas áreas de encostas, ou seria APP (Área de Preservação Permanete)

    Segue o texto...

    Luis! Quanto tempo! Sou o Zé, seu colega de ginásio, que chegava sempre atrasado, pois a Kombi que pegava no ponto perto do sítio atrasava um pouco. Lembra, né?! O do sapato sujo! A professora nunca entendeu que tinha de caminhar 4 km até o ponto da Kombi na ida e volta e o sapato sujava.

    Lembra? Se não, sou o Zé com sono... hehe. A Kombi parava às onze da noite no ponto de volta, e com a caminhada ia dormi lá pela uma, e o pai precisava de ajuda para ordenhá as vaca às 5h30m. toda manhã. Dava um sono. Agora lembra, né Luis?!

    Pois é, tô pensando em mudá ai com você.

    Não que seja ruim o sítio, aqui é uma maravilha. Mato, passarinho, ar bom. Só que acho que tô estragando a vida de você Luis, e teus amigo ai na cidade. To vendo todo mundo fala que nóis da agricultura estamo destruindo o meio ambiente.

    Veja só. O sitio do pai, que agora é meu (não te contei?! Ele morreu e eu tive que pará de estudá) fica só a meia hora ai da Capital, e depois dos 4 km a pé, só 10 minuto da sede do município. Mas continuo sem Luiz porque os Posti não podem passar por uma tal de “APPA” que criaram aqui. A água vem do poço. Uma maravilha, mas um homem veio e falô que tenho que fazê uma outorga e pagá uma taxa de uso, porque a água vai acabá. Se falo, deve ser verdade.

    Pra ajudá, com as 12 vaca de leite (o pai foi, né?) contratei o Juca, filho do vizinho. Carteira assinada, salário mínimo. Morava no fundo de casa. Comia com a gente. Tudo de bão. Mas, tamém veio outro homem aqui, e falo que se o Juca fosse ordenhá às 5h30m., tinha que recebe mais, e não podia trabalhá sábado e domingo (mas as vaca não param de faze leite no fim de semana!). Tamém visito a casinha dele. Ele disse que o beliche tava 2 cm menor do que devia, e a lâmpada (tenho gerador, não te contei!) estava em cima do fogão. Era do tipo que se esquentasse podia explodi (não entendi!). A comida que nóis fazia junto, tinha que fazê parte do salário dele. Bom Luis, tive que pedi pro Juca voltá pra casa desempregado, mas protegido agora pelo tal homem. Só que acho que não deu certo! Soube que foi preso na cidade roubando comida (aff). Do tal homem que veio protegê ele, não sei se tava junto.

    Na capital também é assim né, Luis?! Tua empregada vai pra uma casa boa toda noite, de carro, tranqüila. Você não deixa ela morá nas tal favela, ou beira de rio não né? Porque senão, te multam ou o homem vai aí mandá você dar casa boa, e um montão de outras coisa! É tudo igual aí né?

    Mas agora, eu e a Maria (lembra dela? Casei.) Fazemo a ordenha às 5h30m., levamo o leite de carroça até onde era o ponto da Kombi, e a cooperativa pega todo dia, se não chove. Se chove, perco o leite e dô pros porco.

    Inté que o Juca fez economia pra nóis, pois antes me sobrava só um salário por mês, e agora eu e Maria temos sobrado dois salário por mês. Melhorô. Os porco não, pois também veio outro homem e disse que a distança do Rio não podia ser 20 metro. Tinha que derrubá tudo e fazer à 30 metro (já penso?!). Tamém colocá umas coisa pra protegê o rio. Achei que ele tava certo e disse que ia fazê, e sozinho ia demorá uns 30 dia. Só que mesmo assim ele me murtô, e pra pagá, vendi os porco e a pocilga, e fiquei só cas vaca. O promotô disse que desta veiz, por este crime, não vai me prendê, e fez eu dá cesta básica pro orfanato.

    O Luis, ai quando vocês sujam o rio tamém paga multa né?

    Agora a água do poço posso pagá, mas tô preocupado com a água do rio. Todo ele aqui deve ser como na tua cidade Luis, protegido, tem mato dos dois lado, as vaca não chegam nele, não tem erosão, a pocilga acabô. Só que algo tá errado, pois ele fede e a água é preta. Já subi o Rio até a divisa da capital, e ele vem todo sujo e fedendo ai da tua terra.

    Mas vocês não fazem isto né Luis, pois aqui a multa é grande, e dá prisão!

    Cortá árvre então, vige! Tinha uma arvrona grande que murchô e ia morre, então pedi pra eu tirá, aproveitá a madeira, pois até podia cair em cima da casa. Como ninguém respondeu ai do escritório que fui pedi na capital (não tem aqui não), depois de uns 8 meis, quando a árvore morreu e tava apodrecendo, resolvi tirar. E veja Luis! No outro dia já tinha um fiscal aqui e levei uma multa. Acho que desta vez me prende.

    Tô preocupado Luis, pois no radio deu que a nova Lei vai dá multa de 500,00 a 20.000,00 por hectare e por dia da propriedade que tenha algo errado por aqui. Calculei por 500,00 e vi que perco o sitio em uma semana. Então é melhor vendê, e ir morá onde todo mundo cuida da ecologia, pois não tem multa ainé? Tem luz, carro, comida, rio limpo. Olha, não quero fazê nada errado, só falei das coisa por ter certeza que a Lei é pra todos nóis.

    E vou morar com você, Luis. Mais fique tranqüilo, vou usá o dinheiro primeiro pra comprá aquela coisa branca, a geladeira, que aqui no sitio eu encho com tudo que produzo na roça, no pomar, cas vaquinha, e ai na cidade, diz que é fácil, é só abri e a comida tá lá, prontinha, fresquinha, sem precisá de nóis, os criminoso aqui da roça.

    Até Luis.

    Ah, desculpe Luis, não pude mandar a carta com papel recicrado, pois não existe por aqui, mas não conte até eu vendê o sitio.

    Por Ambiente Brasil - Luciano Pizzatto.

    Engenheiro Florestal, especialista em Direito Sócio-ambiental e empresário, Diretor de Parques Nacionais e Reservas do IBDF/IBAMA 88/89, deputado desde 1989, detentor do 1º Prêmio Nacional de Ecologia.

    OBS.: Todos os fatos e situações de multas e exigências são baseados em dados verdadeiros. A sátira não visa atenuar responsabilidades, mas alertar o quanto o tratamento ambiental é desigual e discricionário entre o meio rural e o meio urbano.

  • #2
    a preservação ambiental deve ser compromisso de TODOS, mas não adianta um burocrata que nunca sai de uma sala com ar condicionado achar que é só sair distribuindo multas que estará fazendo sua parte para resolver o problema, tem que se viabilizar a implementação de soluções acessíveis à população rural para reduzir o impacto ambiental na produção do alimento que serve inclusive ao burocrata...

  • #3
    Usuário Avatar de Leonardo Raffi
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    07/04/2005
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    Thumbs up Muito bom

    muito bom esse conteúdo e pior q é a realidade................


    Citação Postado originalmente por Kim Ver Post
    Pessoal, isso é uma realidade que os agricultores estão vivenciando, aqui faz-se uma sátira, mais a coisa está ficando séria!

    A outorga já estou pagando, 20% +reserva legal, já não posso mais usar.

    Cortar uma árvore, cadeia...

    E os MSTs, roubando, matando, degradando (e muito)...

    Favelas nas áreas de encostas, ou seria APP (Área de Preservação Permanete)

    Segue o texto...

    Luis! Quanto tempo! Sou o Zé, seu colega de ginásio, que chegava sempre atrasado, pois a Kombi que pegava no ponto perto do sítio atrasava um pouco. Lembra, né?! O do sapato sujo! A professora nunca entendeu que tinha de caminhar 4 km até o ponto da Kombi na ida e volta e o sapato sujava.

    Lembra? Se não, sou o Zé com sono... hehe. A Kombi parava às onze da noite no ponto de volta, e com a caminhada ia dormi lá pela uma, e o pai precisava de ajuda para ordenhá as vaca às 5h30m. toda manhã. Dava um sono. Agora lembra, né Luis?!

    Pois é, tô pensando em mudá ai com você.

    Não que seja ruim o sítio, aqui é uma maravilha. Mato, passarinho, ar bom. Só que acho que tô estragando a vida de você Luis, e teus amigo ai na cidade. To vendo todo mundo fala que nóis da agricultura estamo destruindo o meio ambiente.

    Veja só. O sitio do pai, que agora é meu (não te contei?! Ele morreu e eu tive que pará de estudá) fica só a meia hora ai da Capital, e depois dos 4 km a pé, só 10 minuto da sede do município. Mas continuo sem Luiz porque os Posti não podem passar por uma tal de “APPA” que criaram aqui. A água vem do poço. Uma maravilha, mas um homem veio e falô que tenho que fazê uma outorga e pagá uma taxa de uso, porque a água vai acabá. Se falo, deve ser verdade.

    Pra ajudá, com as 12 vaca de leite (o pai foi, né?) contratei o Juca, filho do vizinho. Carteira assinada, salário mínimo. Morava no fundo de casa. Comia com a gente. Tudo de bão. Mas, tamém veio outro homem aqui, e falo que se o Juca fosse ordenhá às 5h30m., tinha que recebe mais, e não podia trabalhá sábado e domingo (mas as vaca não param de faze leite no fim de semana!). Tamém visito a casinha dele. Ele disse que o beliche tava 2 cm menor do que devia, e a lâmpada (tenho gerador, não te contei!) estava em cima do fogão. Era do tipo que se esquentasse podia explodi (não entendi!). A comida que nóis fazia junto, tinha que fazê parte do salário dele. Bom Luis, tive que pedi pro Juca voltá pra casa desempregado, mas protegido agora pelo tal homem. Só que acho que não deu certo! Soube que foi preso na cidade roubando comida (aff). Do tal homem que veio protegê ele, não sei se tava junto.

    Na capital também é assim né, Luis?! Tua empregada vai pra uma casa boa toda noite, de carro, tranqüila. Você não deixa ela morá nas tal favela, ou beira de rio não né? Porque senão, te multam ou o homem vai aí mandá você dar casa boa, e um montão de outras coisa! É tudo igual aí né?

    Mas agora, eu e a Maria (lembra dela? Casei.) Fazemo a ordenha às 5h30m., levamo o leite de carroça até onde era o ponto da Kombi, e a cooperativa pega todo dia, se não chove. Se chove, perco o leite e dô pros porco.

    Inté que o Juca fez economia pra nóis, pois antes me sobrava só um salário por mês, e agora eu e Maria temos sobrado dois salário por mês. Melhorô. Os porco não, pois também veio outro homem e disse que a distança do Rio não podia ser 20 metro. Tinha que derrubá tudo e fazer à 30 metro (já penso?!). Tamém colocá umas coisa pra protegê o rio. Achei que ele tava certo e disse que ia fazê, e sozinho ia demorá uns 30 dia. Só que mesmo assim ele me murtô, e pra pagá, vendi os porco e a pocilga, e fiquei só cas vaca. O promotô disse que desta veiz, por este crime, não vai me prendê, e fez eu dá cesta básica pro orfanato.

    O Luis, ai quando vocês sujam o rio tamém paga multa né?

    Agora a água do poço posso pagá, mas tô preocupado com a água do rio. Todo ele aqui deve ser como na tua cidade Luis, protegido, tem mato dos dois lado, as vaca não chegam nele, não tem erosão, a pocilga acabô. Só que algo tá errado, pois ele fede e a água é preta. Já subi o Rio até a divisa da capital, e ele vem todo sujo e fedendo ai da tua terra.

    Mas vocês não fazem isto né Luis, pois aqui a multa é grande, e dá prisão!

    Cortá árvre então, vige! Tinha uma arvrona grande que murchô e ia morre, então pedi pra eu tirá, aproveitá a madeira, pois até podia cair em cima da casa. Como ninguém respondeu ai do escritório que fui pedi na capital (não tem aqui não), depois de uns 8 meis, quando a árvore morreu e tava apodrecendo, resolvi tirar. E veja Luis! No outro dia já tinha um fiscal aqui e levei uma multa. Acho que desta vez me prende.

    Tô preocupado Luis, pois no radio deu que a nova Lei vai dá multa de 500,00 a 20.000,00 por hectare e por dia da propriedade que tenha algo errado por aqui. Calculei por 500,00 e vi que perco o sitio em uma semana. Então é melhor vendê, e ir morá onde todo mundo cuida da ecologia, pois não tem multa ainé? Tem luz, carro, comida, rio limpo. Olha, não quero fazê nada errado, só falei das coisa por ter certeza que a Lei é pra todos nóis.

    E vou morar com você, Luis. Mais fique tranqüilo, vou usá o dinheiro primeiro pra comprá aquela coisa branca, a geladeira, que aqui no sitio eu encho com tudo que produzo na roça, no pomar, cas vaquinha, e ai na cidade, diz que é fácil, é só abri e a comida tá lá, prontinha, fresquinha, sem precisá de nóis, os criminoso aqui da roça.

    Até Luis.

    Ah, desculpe Luis, não pude mandar a carta com papel recicrado, pois não existe por aqui, mas não conte até eu vendê o sitio.

    Por Ambiente Brasil - Luciano Pizzatto.

    Engenheiro Florestal, especialista em Direito Sócio-ambiental e empresário, Diretor de Parques Nacionais e Reservas do IBDF/IBAMA 88/89, deputado desde 1989, detentor do 1º Prêmio Nacional de Ecologia.

    OBS.: Todos os fatos e situações de multas e exigências são baseados em dados verdadeiros. A sátira não visa atenuar responsabilidades, mas alertar o quanto o tratamento ambiental é desigual e discricionário entre o meio rural e o meio urbano.

  • #4
    Usuário Avatar de Leonardo Raffi
    Entrada
    07/04/2005
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    Só para reativar ja q vi um tópico sobre ambiente ....

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