Se todo artista tem de ir aonde o povo está, todo o capitalista tem de ir aonde o lucro está. Isso explica as motivações mercadológicas do lançamento do Jeep Compass, apresentado em 2006, reformulado há um ano nos Estados Unidos e que acaba de desembarcar no Brasil. Marca do Grupo Chrysler, atualmente controlado pela Fiat, a Jeep construiu ao longo das últimas sete décadas uma sólida tradição no segmento dos 4X4 tanto que o termo jipe se tornou sinônimo de veículo off-road. A capacidade dos carros da marca no fora de estrada conquistou fãs em todo o mundo. E muitos deles torceram o nariz quando a Jeep anunciou o lançamento do crossover Compass, com tração dianteira e configuração de mecânica e suspensão mais aproximada dos carros de passeio que dos utilitários.
Mas um fabricante de automóveis não existe para agradar consumidores "puristas" existe para dar lucros aos seus acionistas. E foi em busca do lucro que a Jeep criou o Compass, que coloca a marca em um dos segmentos automotivos que mais se expandiu nos últimos anos o dos crossovers, veículos de aspecto lameiro mas que não trazem obrigatoriamente maiores atributos para o fora de estrada. Nesse gênero de veículos, a imagem de robustez e esportividade é bem mais importante que a efetiva capacidade para enfrentar obstáculos ou acelerar forte. E, em termos de imagem off-road, a Jeep inegavelmente tem muito a oferecer. Tanto que o Compass se tornou um sucesso de vendas nos Estados Unidos e ajudou o Grupo Chrysler a ser a empresa automotiva que mais cresceu em 2011 no mercado norte-americano.
Além de inserir a marca em um novo segmento, a proposta do Compass também é ser uma espécie de "carro de entrada" da linha Jeep. O próprio "slogan" de lançamento do crossover "entre para o Mundo Jeep" deixa essa intenção bem clara. É o único Jeep oferecido abaixo dos R$ 100 mil o preço de tabela está em forçados R$ 99.900, fora o frete. Antes, a linha começava pelo Cherokee, nas versões Sport que custa atualmente R$ 109.900 e Limited, pelo Wrangler, nas versões Sport e Unlimited Sport, e pelo "top" Grand Cherokee, nas versões Laredo e a "top" Limited, que atinge os R$ 175 mil.
E se a ideia é parecer um Jeep mesmo sem ser um jipe, a opção da marca foi adereçar o Compass com vários dos elementos estéticos presentes em seus veículos off-road. Lá estão a grade com sete vãos e as caixas de rodas angulosas, comuns aos modelos da marca. Os faróis do crossover lembram bastante os da Grand Cherokee. De perfil, o destaque criativo fica para a maçaneta traseira, que fica disfarçada na coluna da porta, como em alguns modelos da Alfa Romeo também controlada pela Fiat. Já a traseira tem aspecto bastante robusto e conservador, valorizando os volumes das formas. A Jeep alega que buscou um visual contemporâneo, voltado para o público jovem. O conjunto até cumpre a função de inspirar força, mas não chega a inspirar jovialidade. É conservador e carece de maiores ousadias estéticas.
Por dentro, não há como escapar da sensação de que o Compass é o Dodge Journey da marca Jeep. Os padrões de acabamento e texturas são bastante similares e as diferenças se restringem às identidades estilísticas de cada marca. O Compass é confortável e elegante, sem extremos de requinte bem dentro de sua proposta de ser um "carro de entrada" da marca. Em termos de segurança, a Jeep não economizou. Lá estão seis airbags frontais, laterais e de cortina , além de ABS, controle eletrônico de estabilidade e até monitoramento da pressão dos pneus.
Para mover o seu crossover de 1.424 quilos, a Jeep optou por uma motorização 2.0 litros de quatro cilindros em linha e 16 válvulas, que oferece 156 cv aos 6.300 giros e 19,4 kgfm em 5.100 rotações. Trabalha junto a um câmbio continuamente variável, que segundo a Jeep simula seis marchas. A marca informa que o seu mais novo modelo faz de zero a 100 km/h em 11,4 segundos e atinge a velocidade máxima de 180 km/h.
No Brasil, o Compass vai enfrentar muitos adversários alguns do mesmo grupo, como Dodge Journey e Fiat Freemont. Além deles, encara Honda CR-V que recebe uma nova geração ainda em março , Kia Sorento, Mitsubishi ASX, Hyundai ix35 e Chevrolet Captiva, todos com preços entre R$ 80 mil e R$ 120 mil. Se conseguir herdar parte do prestígio no off-road da marca Jeep, pode dar trabalho à concorrência. E ajudar na ousada meta do Grupo Chrysler em 2012 dobrar a quantidade de concessionárias e as vendas por aqui em relação a 2011.
Fonte: Auto Press