Em frente a uma verdadeira parede com 30 graus de inclinação, o supervisor de engenharia e novos projetos da Mitsubishi, Fábio Maggion, ordena: "Engate a marcha 4x4 reduzida, coloque o seletor do câmbio na primeira marcha (modo sequencial), solte o freio de estacionamento e, pé no acelerador!".
Com a dúvida de que o novo Pajero Dakar Flex venceria este obstáculo, obedeci as ordens e me entreguei à aventura.
Nessa hora, o grandalhão, que supera as duas toneladas, vai escalando a pedra com a elegância de uma modelo que desfila a última coleção outono-inverno na passarela. Em questão de segundos, chegamos à parte alta. Ufa! E para a segurança, melhor parar o carro e voltar ao modo de tração 4LLC (4x4 com diferencial central bloqueado).
Pensa que acabou? Agora é hora de cruzar a pedra com inclinação lateral. Mais uma vez as garras do Dakar grudam na pedra.
É aí que percebemos como o trabalho da engenharia contribui para os avanços das tecnologias atuais. Uma pena que nem todo mundo aproveita essa força trazida das competições off-road para as ruas. Há quem pague R$ 134.990 por um veículo desses e não deixa o asfalto...
Mas do outro lado da moeda, para quem curte essa praia (neste caso, a terra) a diversão é garantida.
O Pajero Dakar deu as caras por aqui em 2009, quando passou a ser importado do Japão pela Mitsubishi. Até então vendido apenas na versão movida a diesel, o modelo acaba de ganhar nacionalidade brasileira e passa a ser produzido na fábrica da marca em Catalão, Goiás.
Para baixar os custos com componentes e, principalmente, reduzir o IPI - de 25% para 18% - a Mitsubishi precisou mexer no coração do modelo, que agora passa a beber etanol e gasolina.
Isso deu mais fôlego ao veículo, que subiu de 165 cv para até 205 cv com o derivado da cana no tanque (este tem capacidade para 90 litros, 70 na versão diesel).
Para continuar na nossa aventura e ver do que este mamute é capaz, resolvemos desviar o caminho e desbravar as trilhas da região. Com carroceria sobre chassi, eixo rígido e nova calibração no sistema de suspensão, o modelo chega cheio de coragem ao trecho off-road do teste.
Subidas, descidas íngremes, erosões, lama... Obstáculos vencidos com maestria pelo Dakar que carrega sob o capô uma montanha de força - o torque máximo é de 33,5 mkgf a 3.500 rotações, com etanol.
Na estrada, o modo 4H (4x4 com diferencial central atuante) ajuda a dar mais estabilidade. E, para abusar de todos os modos do sistema de tração Super 4WD, na cidade, é hora de engatar o 4x2, que trabalha apenas com a tração traseira, o que ajuda na economia de combustível, já que assim o motor se esforça menos (a troca pode ser feita a até 100 km/h).
Por falar em cidade, com 4,70 metros de comprimento e 1,82 de largura, o jipão não passa despercebido pelas ruas. E a cor branca contribuiu ainda mais para isso - 33% do modelo sai das revendas vestindo esse tom na carroceria.
Suas respostas são rápidas, mesmo na hora de parar - aqui os freios antitravamento 4-ABS com EBD ficam responsáveis por conter a euforia do motor 3.5 V6 de 24 válvulas, auxiliado pelo câmbio automático de quatro marchas com opção de trocas sequenciais, através de movimentos na alavanca.
Fonte: Diário do Grande ABC