O que me motivou escrever este tópico emitindo uma opinião fruto de experiências pessoais, bem como de leituras neste e em outros fóruns semelhantes, tem sido a quantidade de palpites furados, elogios duvidosos e xingamentos suspeitos que se vê por ai com relação a carros, picapes, SUVs e 4x4. É muito difícil encontrar uma opinião técnica e objetiva, isenta de paixões e subjetivismos exagerados. Se o indivíduo gosta muito do seu CJ incrementado, legal, mas não precisa referir-se ao EcoSport como cacasport só porque tem raiva da Ford ou do EcoSport não ser um off-road de verdade.
Mas vamos ao assunto.
Estou vendendo meu Sportage 4x4 e procurando uma alternativa para por no lugar. Tenho certeza que essa discussão interessa também àqueles que estão em busca de seu primeiro 4X4 ou algo semelhante.
Por que estou vendendo?
1) A viatura está em perfeitas condições, mas já vai completar 11 anos de vida.
2) Não é gastona (média de 8,7km/l na cidade) mas poderia ser mais econômica e também beber álcool além de gasolina.
3) A manutenção é simples e relativamente barata, mas aos poucos vai ficando mais frequente.
4) O seguro é barato, mas pela idade vai logo ficar fora da faixa normalmente aceita pelas seguradoras.
5) A bem da verdade, para minhas necessidades atuais, não preciso de um 4x4.
5) Finalmente, existe a simples vontade de mudar e ter um carro com estilo e tecnologia mais novos e menos depreciado.
O que por no lugar?
Essa resposta, claro, cabe somente a mim, mas é aqui que entram algumas considerações que acho interessante discutir. São interessantes não apenas para mim, mas para todos aqueles que querem comprar um 4x4 ou um 4x2 aventureiro. Tem coisas que dizem respeito ao um gosto pessoal apenas. Mas tem muita coisa que reflete aspectos técnicos e econômicos reais e objetivos.
É aqui que entra em cena o título deste texto. Para o indivíduo que encara o off-road como uma verdadeira religião, ou, o que é pior ainda, encara a própria viatura como um símbolo sagrado a ser venerado, pouco pode-se dizer. Este indivíduo não precisa de conselhos nem de ajuda e tampouco pode aconselhar ou ajudar alguém exceto alguém muito semelhante a si mesmo. Vamos então tratar da imensa maioria que passa 90% a 99% do tempo em cima do asfalto, mas gosta muito de fugir da rotina e aventurar-se por caminhos mais difíceis.
Em primeiro lugar devemos refletir um pouco sobre quais devem ser os atributos de um veículo fora de estrada no sentido mais amplo. Um verdadeiro fora de estrada tem que reunir 4 atributos fundamentais: 1) Suspensão elevada e reforçada; 2) Tração 4x4 com diferencias blocantes e caixa de redução; 3) Pneus adequados para uso fora de estrada e 4) Acessórios diversos como guincho, macaco tipo high lift; cordas e roldanas, correntes para rodas; pá, enxada; facão, camburão para água e combustível reserva, peças sobressalentes, GPS, rádio ou celular, além de uma maleta com primeiros socorros. Como disse, estamos tratando de um off-road no sentido mais amplo do termo. Nem todo mundo precisa de todos esses quesitos Os 4 quesitos juntos só se aplicam a uma expedição longa, de vários dias em trilhas de difícil acesso. Excetuando o profissional de rallye, prova esportiva fora de estrada ou o pessoal que organiza longos passeios por trilhas selvagens e afastadas da civilização, quase ninguém mais vai precisar de todos esses atributos. Vamos chamar essa categoria de Trilha Pesada.
Vamos agora pensar nas pessoas que querem fugir da rotina mas de modo leve, sem partir para algo mais radical. Para esse grupo de usuários, o veículo não precisa ter todos os 4 atributos listados acima.
Quem gosta de se aventurar, frequentemente, por caminhos mais difíceis, com atoleiros extensos com cerca de 15cm de profundidade, cursos d’água com cerca de 30cm de profundidade, subidas íngremes e escorregadias (sem cascalho), muitas erosões e valas com cerca de 20cm, o carro ideal é um 4x4 completo com pneus de uso misto. Em geral, os acessórios do item 4 podem ser dispensados nestes casos. Vejam que estamos falando de estradas secundárias em condições ruins, mas próximas a habitações rurais, e não de uma trilha abandonada, longe de qualquer recurso. Podemos chamar essa categoria de Trilha média.
Para passeios também frequentes por estradas secundárias menos complicadas, com atoleiros rasos e subidas suaves, basta um carro 4x2 com suspensão elevada e pneus de uso misto. Essa categoria podemos chamar de Trilha leve. É justamente aqui que se situa a ampla gama de oferta de carros aventureiros como CrossFox, EcoSport; Sandero Stepway, Linha Adventure da Fiat, picapes médias como S10 4x2 e Ranger 4x2.
O variedade de veículos oferecidos atualmente é enorme. Para aqueles que pouco se incomodam com o fator econômico, seja no preço do veículo, seja no consumo de combustível ou seguro e manutenção, nada disto interessa. A equação custo/benefício não existe. Existe apenas o aspecto estético e o status do veículo, pouco importando se vai fazer trilha no shopping center ou na lama. Mas tem muita gente, como eu por exemplo, tentando equacionar a relação custo/benefício do melhor modo possível.
Não é que eu não goste de uma trilha mais radical, mas por razões que não vem ao caso, uma carro para trilhas leves ou entre leve e média está mais que bom para mim e, tenho certeza, para um enorme número de pessoas. Não preciso mais que isto. É daí que vem o dilema do que por no lugar do meu sportage 4x4 que é adequado à trilhas mais pesadas. Qualquer carro aventureiro me serve e quase todos me agradam do ponto de vista estético. O problema está em saber qual oferece a melhor relação custo/benefício para uso urbano e para trilha leve.
Já vi muito novato sendo aconselhado a pegar uma Tracker 4x4 só porque o preço é semelhante ao de alguns 4x2 aventureiros. É preciso cuidado com esse tipo de conselho irrefletido. Uma Tracker 4x4 é um off-road completo mas só bebe gasolina, tem consumo e manutenção mais alto que um carro normal e mercado mais restrito na hora da revenda. Isso se aplica também ao Mitsubishi TR4, ao Troller e às picapes nacionais movidas a diesel, todos bem mais caros e com taxa de seguro e custo de manutenção bastante elevados. Tudo isso deve ser posto na balança quando estamos falando de orçamento justo e uso apenas em trilhas leves.
Para uma trilha leve, o atributo fora de estrada mais importante é a suspensão elevada e pneus de uso misto. Um quesito que todos, ou quase todos os aventureiros atuais do mercado possuem. Pensando nisto resolvi reunir alguns modelos de veículos para comparação do custo/benefício e, digamos, fazer uma espécie de enquete com os amigos do fórum, relatando experiência pessoal ou de amigos com o carro. A seleção com preço básico é a seguinte:
Palio Adventure Locker – R$ 52.568,00
Strada Adventure Locker – R$ 44.106,00
EcoSport XLS – R$ 49.545,00
Sandero Stepway – R$ 41.790,00
CrossFox – R$ 41.100,00
Ranger Sport CS – R$ 48.122,00
S10 Advantage CS – R$ 46007,00
Todos possuem suspensão elevada, são FlexFuel (exceção da Ranger) com ampla rede de assistência técnica, facilidade de peças, e custos de manutenção relativamente menores que veículos movidos a diesel ou veículos 4x4 mais caros e de maior potência. Seria muito legal se o pessoal deste fórum desse seu parecer de modo objetivo e sem preconceitos por este ou aquele modelo. Seria interessante considerarmos os seguintes aspectos:
1) Seguro;
2) Manutenção;
3) Desempenho em trilha leve;
4) Consumo e
5) Valor de revenda.
Na minha modesta opinião, o vencedor desta disputa seria o Uno Mille Way. Já fiz muita trilha leve com Fiat Panorama e Uno Mille. Devido ao baixo torque vai muito bem na terra. Não se pode esquecer que parte do trabalho na trilha deve ser do piloto e não todo do carro. O novo Mille Way com suspensão elevada deve ser o substituto do fusca nos caminhos da roça. Mas deixei de lado por ter um apelo visual muito simples. Deixei de lado também o Doblô Adventure e a Idea Adventure por serem mais caros. Mas se alguém quiser postar opiniões sobre outros modelos não listados na tabela será bem vindo também.
Acho que esta enquete seria muito útil para uma ampla gama de usuários, na qual me incluo.
Abraços a todos.