Um dia para esquecer ou ficar para sempre na lembrança ...
Preliminarmente gostaria de desejar a todos que tão distantes, com suas mensagens nos fazem sentir tão próximos, um Feliz Natal junto aos seus entes queridos nesta noite mágica.
Nós estaremos em algum ponto da estrada, aparentemente solitários, mas com o pensamento voltado a cada um de vocês, principalmente aos meus filhos e aos familiares de Gloriete.
Mas vamos ao que aconteceu no dia de ontem ...
O Sr Raul preparou nosso último desayuno em Cocrhane com muito carinho. Tinha até ovos fritos. Pegamos a ruta às 08h00min horas e iniciamos nosso retorno pela Carretera Austral.
Esqueci de mencionar que no dia anterior tinha espetado a mão direita em um arbusto de calafate durante o traking pelo parque e o espinho inflamou prejudicando a mão. Á noite, Gloriete tirou o mesmo com uma agulha, passamos uma pomadinha e tudo bem.
Isso pode parecer um relato bobo, mas em uma viagem, se ferir, principalmente na mão principal, com que se vai se contar para dirigir, já que o outro braço é somente de apoio, pode vir a constituir um problema. Mas de manhã e durante o dia fui melhorando.
O primeiro trecho a ser vencido seria até Cocrhane com aproximadamente uns 330 km e o Sr. Raul estimou que nossa viagem levaria em torno de umas 8 (oito) horas, pois tinha chovido muito durante toda a noite e seria recomendado que fossemos devagar apreciando a beleza da região.
Já ao sair de Cocrhane uma chuva miúda se fez presente. Os primeiros kilometros (+- 10 km), que já tínhamos passado quando da viagem de chegada foram agora vistos de dia e posso afirmar que eram lindas imagens a beira de precipícios que não foram percebidos na viagem de chegada, pois estava escuro.
A viagem transcorreu até Puerto Tranqüilo com uma sucessão de subidas e descidas e imagens maravilhosas. Mesmo com chuva fina procuramos registrar e filmar o maior número possível de imagens para mostrar aos amigos ao chegarmos a Vitória.
A viagem não rendia e não rendeu durante todo o percurso até Puerto Aiesen. Na primeira hora havíamos percorrido apenas 36 km devido ao registro de imagens e condições da estrada com muitas costelas de vaca na pista e panelas (buracos) ocasionadas pelas chuvas. A cada curva uma imagem a ser registrada e tome chuva e frio.
Chegamos a Puerto Tranqüilo e a imagem do lago antes mesmo de chegar ao povoado é linda. É lá que se situam as Capelas de Mármore. Existem varias empresas que se dedicam a fazer o passeio lá no meio lago, mas a temperatura em torno de 2 graus centigrados e a chuva fina impedia a saída de barcos por mais corajosos que fossem os turistas.
Alguns que vieram de tão longe para ver esse espetáculo da natureza, resolveram até alugar cabanas e esperar a mudança de tempo para realizar o passeio. Como ano que vem estarei de volta, posso deixar para depois.
Depois de Puerto Tranqüilo a estrada melhora um pouco e as paisagens se tornam mais vegetativas. Começamos a atravessar como que florestas, mas com um tipo de vegetação diferente das nossas. A vegetação é luxuriante.
O carro começa a sentir um pouco a temperatura baixa e em uma das pequenas serras a serem vencidas, a neve começa a aparecer na pista de terra e na vegetação obrigando o uso de tração para escorregar menos. Senhores !!! Estamos falando de neve em pleno dezembro. É lindo, mas é perigoso.
De repente olho para o vidro pára-brisa e vejo um pequeno riscadinho a esquerda. Esse riscadinho de uns 3 cm começa a crescer milimetricamente e constato que o vidro rachou.
Isso em Vitória não teria o menor problema, mas estamos na Carretera Austral, é ante véspera de natal, não temos recursos e no meu Plano B já fico pensando em passagem de fronteira para a Argentina e onde posso conseguir um vidro de Nissan. A primeira cidade que me vem à mente é Bariloche, depois Neuquém e até mesmo Mendoza. Só que a mais próxima está a mais de 1000 km de distância. Vamos ter que administrar mais essa situação. Eu me preparei tanto para outras eventualidades e os meus problemas tem sido outros nesta viagem.
Depois de um determinado ponto, a uns 90 km de Coyaque surge o asfalto. Que benção !!! O asfalto, entretanto surgiu porque iríamos atravessar como que um passo entre montanhas nos Andes e subimos até 1129 metros de altitude em apenas seis kilometros de estrada.
O carro sofre um pouco, pois a temperatura começa a baixar muito. A Nissan sobe galhardamente ultrapassando algumas vans e micro ônibus que exalam uma fumaça preta além do normal pelo esforço.
De repente olhamos para o termômetro externo e vemos que já estamos com menos 4 graus centígrados e a chuva começa a colar no pára-brisa. Não era chuva. Era neve ... Esta é a primeira vez que vi neve caindo na minha vida. Já tinha visto neve caída, mas ver neve caindo era lindo e uma novidade.
Aquela maravilha da natureza começou a aumentar muito e o medo começou a se fazer presente. De repente o limpador começava a ficar pesado de remover a neve, o asfalto da pista começa a se toldar de branco. A neve começa a cobrir o caput e a situação começa a ficar preta.
Ainda bem que já tínhamos vencido o ponto mais alto da serra e começávamos a descer suavemente. As condições climáticas mudaram muito de repente. Estava frio, tudo bem, mas de repente ficou gelado.
Vencida a serra um sol tímido começa a surgir a nos acompanhou até Coyhaque.
Cidade grande e de vocação turística assim como toda a região. Seria necessário pelo menos 1 semana só para conhecer a região.
Estacionamos em uma praça principal, fizemos um pouco de cambio, pois não sabemos o que iremos encontrar pela frente e partimos para o último trecho desse dia em direção ao Oceano Pacífico, na cidade de Puerto Aisen, onde vamos entregar o presente de natal do Pablo Ramires, filho do Sr. José Carlos que encontramos lá de Punta Arenas. Vamos dar uma de Papai Noel e reservamos até um pequeno presente para o menino.
Esse trecho entre essas duas últimas cidades é (escolham um adjetivo). Para efeito de comparação, imaginem as estradas serranas do Estado do Rio de Janeiro e do Estado do Espírito Santo. Imaginaram ... Para essas estradas eu daria uma nota 2 a 3 em uma escala de 0 a 10. Para a estrada que trilhamos margeando o Rio Simpson a nota é 10 . Impossível de descrever ...
Chegamos a Puerto Aisen e paramos para abastecer. Os preços começaram a baixar. Perguntei ao frentista onde era o endereço e de repente me chega o dono do posto que se apresenta e pergunta se podia ajudar em alguma coisa.
Estou começando a mudar o meu conceito dos Chilenos. Já é segundo que encontramos nessa viagem.
Levou-nos na rua do menino, nos levou no hotel e principalmente nos deu uma dica de que em Coyhaque podermos tentar deter o crescimento da rachadura do pára-brisa.
Hospedamos-nos no melhor hotel da cidade com internet wi-fi no quarto e aquecedor. O valor é 45000 pesos, um pouco alto para os nossos padrões, mas acho que merecemos depois de passar tanto aperto durante esse dia.
Não gosto de retornar, mas hoje de manhã voltaremos a Coyhaque para tentar arrumar a Nissan.
Feliz Natal.