A viagem – Aspectos gerais

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A ideia de ir ao Jalapão vem de longa data. Junto a ele, outros destinos no estilo expedição surgiram com o passar do tempo. E, por uma série de fatores, essa viagem foi sendo adiada. Até que se tornou possível em janeiro desse ano.

Fomos em família: eu, esposa e filho (7 anos). Chegamos no dia 03 à noite e saímos para a volta no dia 13 próximo do meio-dia. Esse tamanho de permanência é bastante incomum por lá. As pessoas da região com quem conversamos se mostraram surpresas com o quanto ficaríamos e duas pousadas (das três em que ficamos) questionaram se os períodos de reserva estavam realmente corretos. Em uma delas, o proprietário afirmou que em casos como esse, ele conversa com o hóspede para entender se ele entendeu como funcionam as coisas no Jalapão (falo sobre isso mais à frente). Períodos comuns de permanência variam de 3 a 5 dias.

As opções de se chegar e aproveitar o Jalapão são várias. Pelo que vimos, em ordem de preferência dos visitantes:

1. Chegar em Palmas de avião e de lá se deslocar via transfer para uma das cidades a partir da qual se inicia o passeio através de uma agência que disponibiliza veículo e motorista/guia. Aproveita-se os atrativos próximos àquela cidade e, extinguindo-os, passa-se à próxima cidade e o processo se inicia novamente. Normalmente são três cidades. Essa era a opção da grande maioria no período em que estivemos lá.
2. Chegar em Palmas de avião e alugar um carro para fazer os passeios por conta. Vimos mais casais sem filhos nessa opção. Duster, Ecosport e picapes variadas eram os típicos alugados. Sobre o que pude perceber sobre veículos lá, falo mais à frente.
3. Alugar um carro na cidade natal e ir até o Jalapão. Foram dois casos dentre as pessoas com quem conversamos.
4. Ir com veículo próprio. Nós e mais um casal sem filhos.

Em 2, 3 e 4 é possível a contratação de um guia ou condutor ambiental também. Não contratamos, pois foram muitos dias em uma proposta de passeio mais tranquila. Assim, o serviço seria subutilizado e ainda ficaria caro. Apenas no dia da Serra da Catedral (discutido mais à frente também) fomos acompanhados.

As cidades que compõem o circuito comum para visitação no Jalapão são pequenas. Nas três que ficamos, Ponte Alta tem 7000 habitantes, Mateiros tem 2000 e São Félix tem 1500. Logo, apresentam estrutura compatível e, para quem está acostumado com capitais, bem reduzida. Ou seja, não há várias opções (quando existem) de serviços no geral; à exceção de pousadas, agências e guias. Poucos mercados, farmácias (com variedade pequena), restaurantes/lanchonetes. É importante contar com isso no planejamento da viagem. Como exemplo, em um dia chegamos ao restaurante da Dona Rosa em Mateiros às 12:40 h e por pouco não o encontramos fechado. A justificativa era de que naquele dia muita gente tinha ido almoçar e a comida estava no final já. Essa variação da demanda acaba dificultando as coisas para eles e para os visitantes também. Nas pousadas, é a mesma história. É necessário informar/reservar a refeição para que possam se preparar. Não é regra, claro. O Camping do Vicente nos salvou em alguns almoços.

Sobre infraestrutura, cabe um caso específico: São Félix é a última cidade no circuito de distribuição de energia elétrica nesse conjunto de municípios de acordo com o proprietário da pousada em que ficamos. Assim, quedas de energia são frequentes; totais ou parciais (apenas uma fase). As causas são as chuvas e a demanda mais alta por energia quando as cidades estão cheias. Torna-se uma situação desconfortável, pois fica muito difícil dormir com o quarto todo fechado por causa do calor. Como aparelhos de ar condicionado e ventiladores não funcionam, seria necessário abrir janelas – não que adiante muita coisa também em relação ao calor, mas pelo menos no psicológico ajudaria. Mas a quantidade de insetos também é grande (inclusive pernilongos) e sem, no mínimo um ventilador, dormir bem não é fácil. Banho é o de menos, pois a temperatura da água ainda continua agradável mesmo sem aquecimento. E a preparação das refeições pode atrasar. Aconteceu conosco duas vezes durante a estadia na cidade.

Aproveitando, recomendo protetor solar e repelente. O protetor solar pelo óbvio, caso de saúde, pois o sol é forte e, mesmo nos dias de chuva, nos intervalos das pancadas o “mormaço” queima quase da mesma forma. O repelente é opcional. Usei apenas no dia em que fui às dunas por causa da temida Mutuca. Minha esposa e meu filho usaram praticamente em todos os dias. No entanto, também é algo que carece de planejamento, pois atrativos que envolvem a água (fervedouros, Formiga e afins) proíbem a entrada se o visitante estiver usando produtos químicos. Claro que não há fiscalização intensiva, mas é uma questão de respeito e consciência do visitante com a região. Logo, deve-se considerar isso no roteiro.

Sobre consciência, os problemas do turismo começam a se tornar visíveis. Não foi difícil ver latas, garrafas e embalagens jogadas na estrada. Recolhemos algum lixo, quando era possível parar em segurança. Mas ô bicho porco que é gente. Vai para um lugar abençoado por Deus para jogar latinha de Coca no meio do mato. Sem contar o risco de incêndio, pois a superfície côncava do fundo de algumas é capaz de concentrar os raios solares em um ponto. Na época da seca, mais que o suficiente.

Foram mais de 4500 km. 60% disso em asfalto e o restante, terra. Para as estradas de terra, eu classificaria como: 10% em bom estado (sem nem costelas), 20% regulares, 30% ruins, 30% bem ruins e 10% péssimas. Isso considerando deslocamentos e chegadas nos atrativos.