Dia de chegar em Ushuaia. Como não conseguimos fazer a travessia Punta Arenas/Porvenir tivemos que retornar alguns quilômetros pela Ruta 9 até pegarmos a 255 e margear o Estreito de Magalhães até o ponto de cruzá-lo, em Punta Delgada. Não paramos nos vários locais de interesse que há neste caminho por termos tempo justo para chegarmos em Ushuaia. Queríamos viajar somente com luz do dia. De Punta Arenas a Ushuaia são mais de 600 km, mais a travessia que dependendo dos ventos e das filas pode demorar horas. Fomos tocando direto, então.
Um dos locais dos quais me arrependo de não ter parado é a Estancia San Gregorio, local histórico que fica às margens do Estreito. Pelas avaliações de outros foristas e também por informações obtidas em pesquisas na internet creio que teria sido interessante ver os esqueletos de navios naufragados e a arquitetura da Estancia, que representa o período inicial da exploração econômica da região pelos primeiros colonizadores.
Chegamos em Punta Delgada e encontramos fila pequena para embarque no ferry que faz a travessia do famoso Estreito de Magalhães. Havia uma balsa atracando, e em poucos minutos estávamos nela. Poderíamos ter parado na Estancia...
Fiz o pagamento e compramos cachorro quente na cabine do ferry, simples e muito bom. Fizemos a travessia na área externa, debaixo de muito vento e frio, mas queríamos aproveitar este momento. Não é todo dia que cruzamos o Estreito de Magalhães.
Desembarcamos e seguimos rumo ao Sul, já na Terra do Fogo. A paisagem às margens da rodovia é rústica e desolada, nada bonita, mas a Terra do Fogo é um lugar que atrai muita gente por sua história. Belezas existem, mas não na rota até Rio Grande. Entretanto estar transitando ali é uma experiência que vale os mais de 5.000 km de deslocamento.
Uma curiosidade geopolítica, coisa que eu não havia percebido quando fiz as pesquisas para organizar a viagem: os dois lados do Estreito de Magalhães pertencem ao Chile. Quem controla esta ainda importante ligação entre Oriente e Ocidente é este país.
A Ilha Grande da Terra do Fogo é praticamente metade argentina metade chilena. Vínhamos viajando somente por território chileno. No Paso San Sebastian fizemos o processo de migração (aduanas separadas) e voltamos ao território argentino.
Paramos em Rio Grande, importante cidade da Ilha, para almoço. Abastecemos as viaturas e aproveitei para completar o nível de fluído da embreagem. Estava com um vazamento e perdendo a ação dela a cada quilômetro. Voltou ao normal.
Continuamos pela Ruta 3, que começa em Buenos Aires e termina em Ushuaia. Passamos por um rapaz que estava sozinho em um Citroen 3CV com dizeres “Buenos Aires a Ushuaia” escritos no capô do motor, motivo de fotos. Corajoso o rapaz. Nós, nos achando a bordo dos Defender, e o argentino na boa em seu pequeno e antigo Citroen.
Após rodarmos alguns quilômetros chegamos a uma pequena cadeia de montanhas que forma a costa sul da Ilha Grande da Terra do Fogo e a margem norte do Canal de Beagle. Há vários lagos, vales e picos nevados nesta região. Parando no Paso Garibaldi, ponto mais alto da Ruta 3, e olhando para trás é possível ver a antiga estrada em rípio, que sobe serpeando as encostas. Devia ser uma viagem bem desafiadora no tempo anterior ao asfalto.
Descemos ladeando belos rios em direção à Ushuaia, já bem perto da cidade. É possível ver os estragos que os castores fizeram nas florestas nativas. A presença destes animais é um problema sério. Estão acabando com as árvores e não há como controlar o crescimento de sua população. Não sei que solução darão.
Chegamos à cidade. Paramos no portal que há logo na entrada, fizemos fotos e fomos para os apartamentos onde nos hospedaríamos.
Ushuaia é bonita. Estávamos em um ponto alto de onde víamos quase toda a cidade, o Canal de Beagle, o aeroporto e o lado sul do canal, já pertencente ao Chile. Havíamos chegado no fim do mundo e extremamente felizes por termos ido até lá.
Saímos para jantar e conhecer um pouco da orla do canal. Já era mais de 21:00 h mas o sol ainda brilhava. A temperatura estava em uns 5 graus, mas sem vento a sensação térmica não era ruim. Comemos centolla preparada de várias formas, tomamos cervejas regionais e assim celebramos a chegada a Ushuaia. Objetivo cumprido!