Olá Dimas!
Vou tentar detalhar o máximo possível para deixar as informações no forum. Afinal explorei bastante aqui, então preciso devolver um pouquinho para ajudar os amigos que pretendem fazer essa viagem, que é espetacular!
Abraços.
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Dia 6) Rio Gallegos/AR-Ushuaia/AR
Quando Magalhães viu os pés "enormes" dos nativos chamou-os de Patagônios, e a sua terra de Patagônia, que significa "pés grandes". Esses nativos foram vistos na região de Ushuaia.
Acordamos por volta de 4h, estava muito frio. Fomos para a lavanderia tomar um pouquinho de calor no sistema de calefação Rsrs. Decidimos sair cedo e chamamos o francês para ir conosco. Ajeitamos o carro e saímos. A carona para o francês se tornou uma grande surpresa. Conversamos sobre tudo, política, futebol, música, cultura, carreira, e outras coisas. Bastante culto o rapaz, era formado em “eletricidade”, uma espécie de especialização durante o colegial. Conversávamos em inglês e espanhol, e tinha momento que saia tipo um portuenglenhol fluente kkkkk. Apresentamos a ele o biscoito de polvilho e ficou fascinado.
Logo após sair de Río Gallegos nos deparamos com um piquete às 7h da manhã, manifestantes puseram fogo em pneus e fecharam a estrada, no lado Argentino. Conversei com eles, perguntei sobre o que era a manifestação e me disseram que reivindicavam menor desemprego e maiores salários. Falei que apoio a manifestação deles, simpatizaram conosco e nos deixaram ir. Era uma paralisação nacional. Enquanto conversávamos um deles, um barbudo tipo Brutus, ficava me zoando, me ensinando a pronunciar Ushuaia corretamente, dizia: “se dice ‘Uçuaia’”.
Logo em seguida chegamos na aduana, atravessamos para o Chile e chegamos à balsa para travessia do estreito de Magalhães, a mais importante travessia natural do Pacífico para o Atlântico das Américas. Fiquei feliz por ter passado por ali.
Seguimos adiante e fomos em direção à única colônia de pinguins rey das Américas. É uma espécie que vive nos polos e havia pouco mais de 60 indivíduos, uns 30 filhotes. Os que estavam lá são os segundo maiores da sua espécie. Chegamos e fomos até eles, eram muito bonitos, possuem um degradê amarelo no pescoço. Tiramos fotos, ficamos um tempo vendo o comportamento deles e fomos embora.
Anexo 546497
Em seguida passamos novamente pela aduana, voltando para a Argentina. Dali em diante, em torno de uns 100km, a estrada era de rípio, mas bem conservada. Fiz em uma velocidade média de 80km/h. Pegamos asfalto e depois da cidade de Tolhuin a paisagem finalmente começou a mudar. E o cenário era ESPETACULAR.
Anexo 546498Anexo 546499Anexo 546500Anexo 546501
Avistávamos a lago Fagnano, enorme e divide Argentina e Chile. Diminuí a velocidade para apreciar a beleza. Em seguida havia um lago menor, Laguna Escondida. Eu soube de uma trilha que passa ao redor do lago e planejei passar por lá. Entramos e o nível de dificuldade da trilha era relativamente alto. Terra, pedras, buracos e tudo molhado. Liguei o 4x4 e fomos em frente, atravessando os obstáculos. Os mirantes apareciam e a todo momento parava para fotos. Linda paisagem. Loïc estava junto e se divertiu bastante, afinal as caronas que costumava arrumar eram caminhões, só estrada, do ponto A ao B. Felizes da vida seguimos para Ushuaia, 60km faltavam para o fim do mundo.
Anexo 546502Anexo 546503Anexo 546504
As paisagens continuavam lindas e parávamos para fotos. Chegamos na cidade e tentamos abastecer, “El Paro” não permitiu os postos de funcionar. Deixamos para o outro dia. Não há camping estruturado na cidade e ficamos em pousada mesmo. Comprei uma cerveja artesanal local e fomos para o quarto descansar.
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KM rodado no dia: 779 km
Litros: 99,33 litros
Preço Médio Diesel S500: 3,066
Média km/L: 7,84
Local de hospedagem e preço: Pousada Les Cohiues (800 pesos para dois)
KM rodado acumulado: 6.181,10km
Gustavo, uma pergunta técnica: estás usando pneus AT ou 100% asfalto?
Pelas fotos não consegui definir.
Meu jipe está com pneus 100% asfalto e me preocupa usá-los numa eventual viagem com rípio.
Não sou de correr, nem desrespeitar os limites da viatura.
Dá pra encarar?:pipoca:
Glaicon, os meus pneus são AT. Mas qualquer pneu roda bem no rípio, sem problemas. O problema está na velocidade, se a estrada está com muitas pedras soltas é melhor seguir devagar. Vi carros pequenos, Sandero e Gol andando tranquilamente, mas devagar. Ainda não peguei a carretera austral para falar melhor do rípio, mas até agora bem tranquilo.
Dia 8) Ushuaia/AR
Pela primeira vez acordamos com o despertador, às 6:40h. A noite foi mal dormida. Olhei a previsão do tempo como de costume e vi que o dia seria nublado, com possibilidade de pouca chuva e vento. Tomamos café e saímos por volta de 9h, hoje nos arrumamos um pouco mais lentamente. O dia seria muito mais light que os anteriores, a ideia era conhecer o parque nacional Tierra del Fuego, que é o fim da Ruta 3 e não tem mais nada para lá, ruta que sai de Buenos Aires e acaba em Ushuaia. Outro passeio que estava nos planos era a navegação via catamarã, mas desistimos pelo preço, custava 1500 pesos por pessoa (+ - 350 reais). Preferimos abortar, ainda mais considerando a chuva.
Anexo 546517Anexo 546518
Entramos no parque, pagamos 350 pesos por pessoa. Dirigimos por uns 20km até a Bahia Lapataia, final da Ruta 3. Ficamos por lá um tempo tirando fotos e explorando o lugar. De fato estava chovendo, mas estava mais para chuvisco do que chuva. O vento estava forte, e frio. Fomos conhecer “la castorera”, local onde os castores destruíram as árvores, criaram um dique para construir seus lares. Eles são exímios engenheiros, fazem uma espécie de barragem no riacho, para represar a água. Constroem um túnel por debaixo da água para deixar um vão fora da parte submersa. O problema é que castores não são originários desta região, e geram impacto ambiental significativo. Quando eu vi a área deles fiquei impressionado com a capacidade que eles tem de transformação do ambiente. Foram trazidos 20 indivíduos por imigrantes canadenses na década de 40, a fim de fomentar a indústria de peles, mas eles se reproduziram e se tornaram praga na Tierra del Fuego, estimados em mais de 100 mil. Atualmente é feito um controle populacional dos castores, pois não há predadores, e já está sendo considerada sua extinção.
Anexo 546519Anexo 546520
Voltamos para a cidade, andamos no centro, fizemos algumas compras de presentes para família e amigos. Comprei meus adesivos e colei no carro. Em seguida fomos para o restaurante “La Estancia”, onde tive recomendações para comer um cordeiro patagônico assado na brasa, aberto. O cordeiro estava excelente, comemos bem e continuamos a andar pela cidade. Pegamos uma estrada de terra margeando toda a costa e no final pegamos o binóculo e avistamos o “Faro Les Éclaireurs”, construído em 1920. As árvores ao longo da costa são todas contorcidas, em virtude dos fortes ventos característicos da Patagônia. Passamos por várias destas durante a viagem, os ventos são incrivelmente fortes e constantes.
Anexo 546524Anexo 546521Anexo 546522Anexo 546523
Voltamos cedo para o hotel, queríamos organizar as coisas e se preparar para irmos até Punta Arenas no dia seguinte, pois encontraremos nossos amigos para o trekking W em Torres del Paine.
Muito bacana Gustavo!
acompanhando aqui!
farei em breve este trecho! e essas informações nos ajudam demais!
Dia 9) Ushuaia/AR-Punta Arenas/CHI
Recebi uma mensagem de Loïc nos solicitando carona até próximo de Punta Arenas, pois a partir dali ele iria procurar uma nova carona até Puerto Natales. Como iríamos buscar nossos amigos em Punta Arenas não seria possível levá-lo até lá. Pegamos Loïc às 8h em ponto no hostel em que estava hospedado. A estrada para Punta Arenas é tranquila, pouco movimento. Pegamos o rípio na divisa novamente, estava boa, sendo possível atingir até 80km/h sem problemas. Neste dia especialmente havia chovido e tinha poças de lama na estrada. O carro ficou laranja.
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Novamente atravessamos o estreito de magalhães. Desta vez pegamos uma fila, pequena, mas a fila de caminhões teve prioridade na primeira balsa que apareceu. Então tivemos que esperar a próxima. Enquanto isso ficamos conversando com um casal de uruguaios, eles já tinham feito esse percurso de carro então a conversa foi bastante útil com informações e dicas. Eram pessoas bem atenciosas e gostavam de conversar, além de ter me dado a oportunidade de treinar um pouco o espanhol. Logo a balsa chegou e fizemos a travessia, que custa 440 pesos argentinos (+ - 90 reais).
A ideia inicial era buscar nossos amigos às 17h, para dormir em Punta Arenas e sair cedo para Puerto Natales. Deixamos Loïc no trevo, nos despedimos e seguimos até Punta Arenas. Conseguimos encontrar nossos amigos exatamente às 17h, por muita sorte, pois não tínhamos internet e simplesmente por dedução escolhi um shopping, já que havíamos comentado em nos encontrarmos na zona franca de punta arenas. Foram 15 minutos até achá-los. Conversamos e decidimos ir direto para Puerto Natales, mesmo pegando um trecho a noite. Abastecemos e seguimos em frente, sem parar. Chegamos em Puerto Natales e procuramos um local para hospedagem, eles estavam bem cansados, sem dormir, então preferi um hostel para que pudessem ficar mais confortáveis.
Escolhemos o hostel, retiramos todas as malas do carro e reorganizamos tudo para que coubesse todas as malas. Dayane fez uma macarronada espetacular, jantamos e fomos dormir era mais de meia noite.
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KM rodado no dia: 890,50 km
Litros: 119,56 litros
Preço Médio Diesel S500: 2,845
Média km/L: 7,45
Local de hospedagem e preço: Pousada Oasis (diária 30.000 pesos chilenos para dois)
KM rodado acumulado: 6.829,10km
Dia 10) Puerto Natales/CHI-Torres del Paine/CHI
Começamos a tomar café às 7h, todos do grupo juntos desta vez. “El desayuno” era o melhor até agora, com pão, presunto, muçarela, manteiga, leite, café, iogurte, sucrilhos, chá, etc. Começamos bem o dia. Estava frio e saímos para fazer a foto inicial do grupo.
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O dia estava com previsão de ficar chuvoso e assim foi até a tarde. Iríamos fazer o trekking W, de mochilão, por 5 dias dentro do parque de torres del paine. É simplesmente um dos trekkings mais bonitos do mundo, e a ansiedade era gigante para poder conhecer as belezas do maciço paine. Eu ficaria muito frustrado se não pudesse fazer isso quando visitasse a Patagônia, seria uma meia viagem para mim. O chamado “Macizo Paine” possui altitude máxima de 3.050 metros, emergindo quase do nível do mar, e uma superfície de 400 km quadrados. Se formou principalmente por conta das ações erosivas dos glaciares, por meio dos seus avanços e retrocessos. Possui diferença de cores por causa de dois tipos de rochas, granito (claro) e sedimentar (negro), o que deixa as torres mais bonitas ainda.
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O catamarã sairia às 18h, de dentro do parque, para nos levar até o camping Paine Grande, onde dormiríamos no primeiro dia. Então tivemos o dia todo para andar pelo parque de carro, tirar fotos de vários mirantes, ângulos diferentes, caminhar por algumas pequenas trilhas. Fizemos isso durante todo o dia, visitamos o mirador serrano, mirador grey, e mirador cóndor.
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Depois fomos até o catamarã por volta de 15h, ainda um pouco cedo. Pegamos informações e estacionamos o carro no local de saída. Estava muito frio e ventava bastante. Enquanto esperávamos o horário de embarque outros aventureiros chegaram, inclusive meu amigo francês Loïc, decidiu começar o trekking por ali. Pegamos o catamarã, pagamos 18 mil pesos chilenos por pessoa até o camping Paine Grande. Quando chegamos ao camping havia uma fila enorme de mochileiros aguardando o catamarã após conclusão do trekking. Fiquei pensando que essa seria minha situação 5 dias depois.
O vento era surreal, algo que eu nunca tinha visto. Armar a barraca foi uma tarefa das mais difíceis da viagem, mesmo sendo uma barraca simples. Com muita dificuldade terminamos. Vez ou outra soltava os espeques e tínhamos que elucubrar uma nova forma de prendê-los, colocando pedras em cima por exemplo. Já anoitecia e fomos fazer a janta após o banho quente. Há uma área específica para cozinhar, fechada e ambiente bem melhor do que lá fora, no vento. A atmosfera do ambiente era tipo uma copa do mundo, gente do mundo inteiro, falando um monte de línguas, extasiados com a paisagem e ansiedade de iniciar o trekking. Começamos a fazer amizades com os turistas. Durante a preparação da janta que a Dayane fazia eu aproveitei para fotografar o entardecer. Fizemos uma macarronada e fomos tentar dormir, pois o vento era absurdamente forte. Ao lado da barraca tinha um coelho nos rondando.
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Muito bom teu relato! Passando pra acompanhar...
Um dos meus sonhos futuros é uma viagem dessas e é muito bom ter informações atualizadas.
“Morrendo de inveja” ... rsrsrsrs ... estou maravilhado com seus relatos e suas fotos, meu caro Gustavo ... Parabéns!!!!! ... que Deus acompanhe você, sua valente esposa e companheira Dayane e seus amigos nessa invejável saga ... Forte abraço em todos vocês e boa sorte.