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LuizPR
Décimo sétimo dia – 17/04/16
Segundo dia de deslocamento de retorno. Iríamos deixar as mulheres em Salta, onde elas pegariam um voo para Buenos Aires e de lá outro para Curitiba, chegando à noite em casa.
Há dois caminhos para ir de Purmamarca a Salta, a partir de San Salvador de Jujuy, sendo um mais bonito pela ruta 9 e outro mais rápido pela ruta 32. Por questões de tempo fomos pelo mais rápido.
Parte do grupo foi ao aeroporto despachar as esposas. Os voos delas foram tranquilos, saíram e chegaram nos horários previstos.
Reunimos os 3 carros na saída de Salta, fizemos um lanche frio e deixamos a cidade rumo a Corrientes, já às margens do rio Paraná. A rodovia não é tão boa nestes trechos, mas fizemos a viagem sem surpresas.
Curiosidade: neste dia fomos parados umas 6 vezes pela polícia rodoviária e pelo exército argentino. Não tivemos dificuldade em nenhuma destas ocasiões, mas em todas o motorista da 90 deve ter rezado um monte para não ser multado por estar com o guincho montado na frente de sua Dedender. Em uma outra viagem em 2013 ele foi multado por este motivo.
Chegamos à noite em Corrientes. Achamos nosso hotel, localizado bem no centro da cidade. Procuramos um lugar para comer uma parrilhada, mas tivemos que nos contentar com hambúrguer de fast food. Era Domingo, tudo fechado.
Houve um contratempo com a 90: a luz baixa deixou de funcionar, o que poderia gerar multa no dia seguinte, uma vez que na Argentina é obrigatório o uso desta luz nas rodovias.
Décimo oitavo e último dia – 18/04/16
Saímos do hotel por volta das 7:00 h, sob chuva. O movimento a partir de Corrientes já é mais intenso. O plano era entrar no Brasil por Barracão, fronteira Paraná/Santa Catarina/Argentina, subir até Guarapuava e chegar em Curitiba no final do dia. Em algum ponto da viagem a 90 se desligaria do grupo, indo para Londrina e de lá para Tremembé.
Eu estava à frente do comboio, e me distanciei um pouco dos demais. A Frontier fechava o grupo. Havíamos percorrido uns 150 km quando de repente ouvi pelo rádio: “Motor ferveu! Motor ferveu! ”. Eu pensei que a mensagem vinha da Frontier. Fiz a volta e retornei. Andei algumas centenas de metros e vi a Defender azul parada no acostamento, com o capô do motor aberto e aquele vaporzinho de água saindo do cofre do motor. Ferrou.
Paramos e fomos ver o que havia acontecido. Simples: o motor da 90 havia fervido, fundido. Mas como?
Resumo: na noite anterior, antes de chegarmos a Corrientes, o condutor ligou o ar condicionado da 90 e o ar não entrou. Ele achou que era algum defeito na parte elétrica e não deu maior atenção ao problema. Abriu a janela e foi em frente.
O que aconteceu foi que a correia que aciona o compressor do ar condicionado escapou de sua polia. Uma revisão em todas as correias da 90 havia sido feita e algumas delas forma trocadas antes da viagem. Provavelmente quando montaram esta correia não o fizeram de forma adequada.
Até aí tudo certo. A correia solta e o ar condicionado não funciona. Tudo bem. O problema foi que a correia, ao escapar, fez um pequeno corte na mangueira que faz o respiro da bomba d´água e a água de arrefecimento do motor começou a vazar beeem lentamente.
Quando saímos de Corrientes, na manhã seguinte, ainda havia água no sistema de resfriamento da Defender, mas esta foi vazando, vazando até que o motor começou a aquecer. E para azar o motorista não estava atento aos instrumentos do painel. Fundiu.
Não somos viajantes inexperientes, mas relaxamos na parte final da viagem e não fizemos aquilo que é básico, verificar pelo menos óleo e água todas as manhãs. Ficou a lição.
Identificamos o que tinha acontecido e a mangueira por onde havia vazado a água. A Frontier pegou a mangueira cortada e foram ver se conseguiam comprar uma que a substituísse, enquanto ficamos aguardando o motor esfriar. Voltaram logo depois com uma mangueira, mas faltava um conector para podermos instalá-la. Decidimos então rebocar o carro até a loja onde compraram a peso de ouro a mangueira, pois na frente da loja havia uma oficina. Com a ajuda de duas manilhas engatamos o cambão que levava para mostrar para os guardas argentinos e fomos até a oficina.
Como o sistema de reboque era improvisado havia uma folga de uns 10 cm entre o ponto de fixação do cambão na minha viatura e o cambão. Cada vez que eu pisava no freio dava uma porrada que parecia que estaca quebrando tudo, e cada vez que eu acelerava dava um tranco que parecia que ia arrancar o chassis da Defender. Moral: leve cambão de verdade, não apenas algo fake para mostrar para a camiñera. Vai que precisa.
Chegamos na oficina, montamos a mangueira e tentamos fazer funcionar o motor. Quando bateu na partida, os gases do escapamento saíram pelo reservatório de água. Conclusão: junta do cabeçote estourada. Fim de viagem para a Defender azul.
Decidimos então vir rebocando a 90 até Foz do Iguaçu, um deslocamento de uns 450 a 500 km. Eram 9:30 h da manhã.
O início desta parte da viagem foi razoavelmente tranquilo, pois estávamos margeando o rio Paraná, onde a estrada é plana e sem muitas curvas. A velocidade variava de 80 km/h nas retas e descidas e 30 a 40 km/h nas subidas. Fomos avançando.
Paramos em uma pequena churrascaria à beira da rodovia perto de Posadas e comemos um espeto corrido à moda argentina, com direito a chinchulin e mollejas. Estava bom, era a primeira refeição decente em mais de 48 horas.
Fomos parados algumas vezes pela polícia rodoviária, e em alguns postos de controle muitos policiais apenas acenavam para seguirmos em frente, sem necessidade de parar os veículos. Para aqueles que perguntavam alguma coisa dizíamos que o defeito havia ocorrido a poucos quilômetros e que estávamos indo a uma oficina logo à frente. Colou.
Após exaustivas 9 horas de viagem chegamos a Puerto Iguazu. Fizemos os trâmites de fronteira (quase nenhum), passamos pelo último policial que quis dar uma bronca dizendo que deveríamos ter chamado um guincho e entramos no Brasil.
Chegamos a um bom posto de combustível para deixar a Defender e seus dois ocupantes. O corretor de seguros já havia sido acionado e esquematizado o envio do carro para Tremembé e passagens aéreas para os dois retornarem para casa. Nos despedimos. Pegamos a estrada às 19:00 h enquanto os amigos foram para um hotel.
Deixamos Foz do Iguaçu. Às 2:30 h da manhã chegamos em Curitiba. Desfizemos o comboio na praça do chafariz, no final da 7 de Setembro, deixei meu companheiro em casa e me dirigi à minha. Fim da viagem.