Após o café da manhã juntamos o time, carregamos os veículos e pegamos a estrada novamente, agora rumo a San Pedro de Atacama. Seriam 3 dias de deslocamento, com paradas para dormir em Puno e Pozo Almonte, já no Chile. Rodamos 400 km no primeiro, 730 km no segundo e 430 km no último dia desta perna da viagem. Para as esposas era o início da viagem por terra.
Para deixar Cusco pegamos o mesmo caminho pelo qual chegamos à cidade, mas desta vez o trânsito estava mais “normal”. Seguimos em direção a Urcos, que fica no final (ou início) do vale onde está Cusco.
Em Urcos encontram-se as rutas Interoceanica Sur, por onde cruzamos a cordilheira para chegar em Cusco, e a 3S, que leva ao lago Titicaca e a Puno. Tomamos a 3S e começamos a subir por um vale bem largo que se mostrou maravilhoso, margeando um rio muito bonito que não sei o nome. A subida é leve, mas de repente percebi que a viatura não estava com bom desempenho. Abri o aplicativo do altímetro no celular e vi que estávamos a mais de 4.000 m de altitude. Altiplano de verdade. Obviamente estava explicada a queda de rendimento do motor da Land: falta de oxigênio.
Viajamos por este vale desde Urcos até Juliaca, um trecho de uns 300 km. Passamos por várias cidadezinhas, todas muito pobres. Cruzamos com um trem em um ponto onde o vale se abria, com alguns picos ao fundo e um belo céu fechando a paisagem, mais uma imagem para ficar registrada em nossas mentes.
Em um certo ponto da viagem tivemos um encontro inesperado. A Defender 90, de cor azul, estava à minha frente, e a vi de longe. Fui me aproximando dela e de repente vi que não era a 90, mas outra Land, verde escura. Quando cheguei mais perto veio a surpresa: a placa da Land era da Suíça.
Encostei atrás dela em um posto de pedágio, e logo depois a ultrapassei. Vimos que quem viajava nela era um casal jovem. Buzinamos, fizemos festa e seguimos.
Um pouco adiante a 90 havia parado ao lado da rodovia, tendo atrás dele um cenário característico do Altiplano: a pradaria e montes nevados ao fundo. Paramos todos ali e ficamos esperando pelos suíços. Assim que estes nos viram saíram da estrada e vieram para ao lado de nossos carros, não sem antes dizer que queriam parar próximos das Land, e não da Frontier. Coisa de quem curte as clássicas Land Rover Defender.
Chegaram, desceram e conversamos. Eram um casal jovem, na faixa dos 25 a 30 anos. Despacharam sua Land da Europa para o Canadá havia um ano e pretendiam descer até Ushuaia, voltar a Montevideo, despachar o carro para a Suíça e ir embora. Batemos mais um papo e nos despedimos. Muito bom.
A viagem deles era diferente da nossa, eles não tinham programação rígida nem de roteiro nem de paradas, iam ao sabor do tempo, gastando-o onde achavam interessante. Algum dia farei uma viagem assim.
Seguindo em direção a Puno chegamos em Juliaca, a maior cidade do trajeto deste dia. Terrível. Cidade terrível. Trânsito padrão Peru, ruas esburacadas, comércio de rua por todos os lados misturado com tuc-tuc´s, muita gente e muito lixo. Aliás, infelizmente o padrão no Altiplano é idêntico ao da região amazônica: pelo lixo espalhado ao lado das rodovias você percebe que está chegando em uma cidade.
Alguns quilômetros à frente, ao chegar próximo a Puno temos as primeiras visões do Titicaca, considerado por muitos o lago navegável mais alto do mundo e que fica na fronteira entre o Peru e a Bolívia.
Nos batemos um pouco para achar nosso hotel, o Mirador del Titicaca. Este hotel está em um local muito bonito, no alto de um monte de onde se vê toda a cidade e parte do lago, mas que já teve dias melhores. Uma parte de seus quartos estava fechada e as áreas externas malcuidadas. Apesar disto passamos uma noite com bom conforto.
Fizemos check-in, deixamos as coisas no hotel e fomos para a cidade. Já eram mais de 5:00 h da tarde e não havíamos almoçado, pois ao longo do caminho não vimos nenhum lugar com boa apresentação onde pudéssemos comer algo sem a possibilidade de nos estragarmos. Andamos na avenida que beirava o lago, mas nada, nenhum restaurante. Fomos então a um supermercado onde havia um shopping, e lá fizemos um lanche.
Voltamos para o hotel onde descansamos um pouco. Mais tarde nos encontramos no lobby para tomarmos um vinho e jantamos ali mesmo.
Pelo pouco tempo que tínhamos não conhecemos o lago, suas ilhas e as cidades que o margeiam. Pretendo ir à Bolívia nos próximos anos e certamente irei deixar pelo menos um par de dias para explorar estas bandas.