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Quadriciclos usados pelos turistas foram o ´estopim´ da confusão. Os veículos ficaram sob a guarda de policiais até que o grupo se retirasse, a fim de evitar que fossem danificados
Comboio saiu de Canoa Quebrada no fim da tarde. Os turistas foram escoltados por várias viaturas do Batalhão de Choque da Polícia Militar, policiais de Aracati e da Polícia Rodoviária Estadual
Uma discussão entre grupos de bugueiros e turistas terminou em tumulto e foi necessária a intervenção da Polícia
Brigas, pessoas feridas, tiros e muita confusão. Esses foram alguns dos ingredientes do fim de semana na Praia de Canoa Quebrada, no município de Aracati. As belezas naturais de um dos principais cartões-postais do Estado ficaram em segundo plano, após uma discussão e luta corporal entre bugueiros e um grupo de turistas de Fortaleza, a maioria deles integrantes de um grupo de praticantes de trilhas ´off road´. Canoa Quebrada parou com o tumulto.
Na manhã de ontem, o clima piorou quando os turistas foram impedidos de sair da pousada onde estavam por bugueiros e populares. Veículos foram danificados e tiros foram disparados pela Polícia para conter a multidão. Depois de mais de seis horas e muita negociação, o grupo de turistas, formado por cerca de 30 famílias, saiu da Pousada em que estava, no fim da tarde, num comboio de aproximadamente 30 veículos, sob forte escolta formada por cerca de 60 policiais, sendo 30 do Batalhão de Polícia de Choque (BPChoque), e os demais do policiamento de Aracati e da Polícia Rodoviária Estadual (PRE).
Dividida, a população assistia a tudo de perto. Alguns vaiavam a ação da Polícia, outros aplaudiam. Para a massagista Leda Maria de Lima, 45, "os bugueiros agiram errado". Já o hoteleiro Duílio Francisco afirma que a turma do "Comando Apache já é conhecida por causar confusão em Canoa".
As versões para o estopim da confusão também divergiam a cada entrevista. Para o industrial Marcos Vinicius, um dos membros das famílias de turistas e integrante do grupo de ´off road´, estava tudo bem até a manhã de sábado, quando dois integrantes do grupo de cerca de 70 pessoas, um adulto e um adolescente, de 12 anos, resolveram dar um passeio de quadriciclo nas dunas, durante um churrasco organizado na Praia.
Segundo ele, os dois foram interceptados pelos bugueiros, que exigiram a saída deles do local. "Houve bate boca e o adulto começou a ser agredido fisicamente por um grupo de mais de dez bugueiros. Nossos amigos revidaram e o caso foi resolvido na delegacia", contou.
De acordo com o vice-presidente da Associação dos bugueiros, José Leônidas de Sousa Silva, quem motivou a briga foi a imprudência dos "trilheiros de off road", que segundo ele, não respeitam o lugar e colocam em risco a vida deles e de outros turistas que frequentam o lugar. "Eles estavam de quadriciclo na contramão da trilha utilizada pelos bugueiros. Para evitar acidentes, pedimos para ele não descer a duna novamente. Ele não obedeceu e começou a briga. O presidente da nossa associação, Beto Magno foi agredido por vários deles e ficou gravemente ferido. Isso revoltou a população", contou.
Na manhã de ontem, dezenas de bugueiros e populares foram até a pousada exigir a identificação dos envolvidos na agressão. Para os turistas, a manifestação foi considerada como "cárcere privado" e "ameaças de morte", como definiu a promotora de Justiça da Comarca de Itapajé, Camila Gomes Barbosa. "Fomos atacados com revólver, pau, pedra, ferro, por mais de cem bugueiros às 9 horas. Estamos trancados aqui. Todos os carros que tentam sair são apedrejados. Isso é cárcere privado", afirmou. Três veículos tiveram peças danificadas, como vidros e retrovisores.
Lista
Após mais de seis horas de negociação, a lista com os nomes dos integrantes na confusão foi entregue ao advogado da Associação dos bugueiros. Assim como a lista de todos os bugueiros da Associação entregues aos líderes dos turistas. Com o comboio formado, os turistas saíram da pousada, sob vaias e aplausos da população.
INVESTIGAÇÃO
Delegacia vai instaurar um inquérito para apurar o caso
A movimentação policial, na manhã de ontem, em frente à Pousada onde os turistas de Fortaleza estavam hospedados, começou logo cedo. O pequeno efetivo da Polícia Militar, em Canoa Quebrada, teve que ser reforçado por PMs de Aracati e cidades vizinhas, e até por uma aeronave da Ciopaer, após a ação de algumas pessoas, que quebraram vidros e espelhos retrovisores de alguns veículos, pertencentes ao grupo envolvido na briga com os bugueiros.
Com o reforço, cerca de 25 policiais militares se posicionaram nas ruas que davam acesso à pousada. Um cordão de isolamento foi providenciado, sob o comando do capitão PM Paulo de Tarso, comandante da Companhia de Aracati. "Os ânimos estão exaltados. O nosso objetivo é fazer com que eles (turistas) saiam daqui com segurança", ressaltou o oficial.
De acordo com alguns membros do grupo de turistas, os bugueiros tentaram invadir a pousada, armados de revólver, paus e pedras, e, em seguida, passaram a danificar os veículos de quem tentava sair.
Segundo a Associação dos bugueiros, a "manifestação" foi uma revolta da população. "Eles estão revoltados com o que fizeram com o presidente da nossa entidade, que está em uma cama, todo quebrado".
O clima permaneceu tenso até o começo da tarde quando um novo tumulto teve início. A Polícia efetuou disparos para o alto para conter o grupo de populares revoltados. Uma pessoa foi presa.
De acordo com o delegado Thársio Nogueira Facó, titular da Delegacia de Aracati, um bugueiro, cujo nome não foi divulgado pelo delegado, foi preso em flagrante por dano. Contra outro bugueiro, identificado como Pablo, foi lavrado um Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO) por ameaça "Além disso, vamos instaurar inquérito para apurar tudo o que ocorreu".
EMERSON RODRIGUES
REPÓRTER
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