A maioria dos jipeiros tem sempre uma história pra contar, uma epopéia, um caso de amor ou até mesmo uma completa paranóia sobre sua relação com sua(s) máquina(s).
Dizem que todo Brasileiro é apaixonado por carro (quem discorda ?), alguns por motos outros por caminhões, mas de fato uma paixão.
Em se tratando deste fórum (99,99999%) dos que aqui estão tem sua fixação voltada à um determinado tipo de veículo (que acredito nem precisar dizer qual é), porém as vezes de maneiras distintas.
Existe aquele que gostaria de ter um Jipe, aquele que já tem um (como segundo carro) e até mesmo aquele, que o tem, como único veiculo.
Meu caso é um pouco mais sério, desde que tive meu primeiro jipe (um Javali), nunca mais quis saber de outro meio de transporte.
Minha esposa tem carro (um Gol), meu pai tem carro (uma Parati), esses são meus “segundo carro” quando necessário. Simplesmente não adquiro outro veículo não só porque já tenho outro carro em casa, mas porque não sinto prazer algum em dirigi-los.
Sinto falta dos chacoalhões, do vento entrando por todo lado, de tomar chuva de capota abaixada, do cheiro de graxa e de enfiar a mão nela, de ver tudo mais de cima, e de ir onde eu quero (se é que deu pra me entender).
Caso grave, gravíssimo, piorado pela longa novela que tem sido a reforma do meu mais novo rebento.
Essa é a epopéia a que eu me referia no começo do texto, aqui vai meu relato:
No final de 2003 eu me casei e como todo mundo que casa quer casa, vendi o velho Javali para reformar o “cafofo” e como não podia ficar à pé, resolvi comprar um Jeep Cj que estivesse baratinho para posteriormente reformar.
Rodei muuuuuito, mais ou menos 1500 Km entre o nordeste do estado de São Paulo e o sul de Minas a procura do tal “Jeep baratinho”.
Detalhe, eu só tinha três dias (feriado prolongado) pra encontrar algo que estivesse em conta (em torno de R$ 5.000,00) e que pelo menos andasse.
Estive em Cajurú, Mococa, Areado, Alterosa, Conceição da Aparecida, Alfênas e Três Pontas, não necessariamente nessa ordem pois, cada dia eu ia e voltava para onde estava ospedado.
Nada, o melhor que encontrei foi uma carcaça com documentação (a documentação valia mais que o Jeep).
Meu tempo já estava se esgotando e eu só ouvia aquele papo de “Fulano” dizer que “Sicrano” tem um Jeep pra vender e que está em ótimo estado. Ou então a celebre frase “...sabe quem é qué capais de tê isso quocê qué!!!???”
Resultado, decepção atrás de decepção.
Como meu tempo já tinha se esgotado, era dia dos namorados e minha então noiva não queria nem olhar na minha cara (apesar de gostar muito de Jipe), resolvi retornar a minha cidade sem nada e esperando outra oportunidade.
Segunda beeeem cedo, pé na estrada, eu dirigindo e minha noiva estudando (pois tinha prova a tarde), tínhamos que chegar até a hora do almoço para que não virasse correria.
Porém, toda via, entretanto, com tudo,,,,,Muzambinho era no caminho e lá tinha um Jeep que um daqueles “Beltranos” me disse pra dar uma olhada.
Até que esse estava em ordem porém muito caro, mas um dos gaiatos que estavam por lá, me disse que ali perto em uma chacrinha, morava um rapaz que só mexia com Jeep e que tinha um montão deles.
Apesar de ter que sair um pouco do meu caminho e ter que convencer a patroa de que daria tempo, resolvi arriscar.
Foi a única decisão acertada que tomei, o tal cara (conhecido por Nei) não vendia Jipes, e sim restaurava.
Disse ele para mim, “ não vendo mas reformo, sei quem tem pra vender”.
Só tinha um porém, era em Andradas umas 2 horas dali.
Ele prontamente se dispoz a largar o serviço dele e ir comigo até lá.
Pensei comigo, deve rolar alguma comissão pra esse cara e o preço vai pras alturas.
Como tudo já tava meio f#d!d°, lá fomos nós.
Resumo, Jeep Willys 1963 marrom (cor de m£rd@) em razoável estado de conservação, andando e com reduzida e tração funcionando.
O sujeito me pediu R$ 4.700,00 e achei justo, apesar de dar uma choradinha básica e acabar pagando R$ 4.500,00, pra minha surpresa não havia comissão nenhuma e o Nei fez tudo de boa vontade já que em nenhum momento, disse que iria deixar o jeep lá pra ele reformar.
Próximo dilema, a documentação estava em Poços de caldas (de onde era o Jeep) então dei um sinal e fiquei de ir acertar o resto na semana seguinte.
Uma semana depois voltei à Andradas e sacramentei a compra devidamente registrada em cartório para evitar dor de cabeça. Ainda havia um problema, não queria que a cor permanecesse como marrom, tive então que dar o passo mais difícil.
Confiando no rapaz que havia me levado até lá (o que reformava jipes), decidi deixar a documentação assinada na mão dele para que fosse feita a transferência de propriedade para meu nome e aproveitando já pedisse a mudança da cor.
Não tinha muita escolha, já que não tinha como ficar novamente até segunda feira para fazer eu mesmo a transação e levar o jipe naquele estado (desconhecido) 200km até em casa estava fora de cogitação.
Pedi então ao Nei que deixasse o jipe com placa de muzambinho e ele se propôs a usar seu próprio endereço, já que eu não morava lá.
Passei uma semana cortando aço sem saber se poderia confiar em alguém que até ali era só um estranho.
Novamente o rapaz me surpreendeu, fez o serviço e não me cobrou absolutamente nada além das taxas.
Neste ponto tomei uma decisão que já era esperada tanto por mim quanto por ele, como a viatura precisava ser reformada, e pelo que vi, o serviço do rapaz era impecável, feito com carinho e sem pressa, decidi entregar o Cj nas mãos dele enquanto fosse feito o serviço.
Não acredito que conseguiria fazer tal reforma estando por perto, iria acabar querendo andar com o jipe e cada melhoria feita, seria substituída por uma nova quebra.
Dessa forma garanti que o jipe só iria andar quando estivesse totalmente pronto...
...três anos depois, já casado, com uma filha de 2 anos, finalmente consegui me estabilizar econômica e mentalmente para enfim começar a reforma.
Neste meio tempo, o jipe já tinha sido desmontado (a meu pedido), retirada um pouco da massa que recobria os pára-lamas dianteiros verificando a possibilidade de continuar utilizando os originais e trocado o assoalho dianteiro que substituiu o que estava nele (um muito mais largo que deformava a bases das laterais, serviço porco).
Tenho um mecânico de confiança que já faz serviços para nós a anos e que como eu é apaixonado por Opalas, indagando ele sobre algum motor 4 cilindros (151”) para venda ele me disse que tinha um que havia sido tirado recentemente de um Opala e estava à venda.
Preço, R$ 300,00 (pelado), comprei na hora!!!
Preparação:
Carburador retificado em ótimo estado Solex H34 seie à álcool (equipou os 4 e 6 cil. de maior potencia)
Camisas novas para pistões STD.
Pistões e anéis novos, STD (planos).
Bronzinas de mancal e biela 0.25.
Cabeçote retificado com guias novas e sedes refeitas, rebaixado para 75.8 mm (altura total), dutos de admissão e escape polidos e equalizados.
Comando novo, original do álcool (privilegia torque em baixas rotações).
Tuchos hidráulicos novos.
Retentores, juntas, gaxeta, tudo novo.
Retífica do bloco, rebaixamento de 2.5mm.
Bomba de óleo (troca dos reparos)
Distribuidor novo.
Bobina do Gol 1.6Mi.
Motor de arranque 6 cil.
Alternador do 6 cil.
Coletor de admissão aquecido.
Coletor de escape dimensionado 4x1.
Resultado, no Descktop Dyno 2003, 130 cv e +- 20 kgfm à 2.500 rpm.
Para um 151” até que está muuuito bom.
Fiz questão de eu mesmo pintar o motor, queria um serviço personalizado e bem feito.
A cor escolhida foi o Verde Campo Fiat 96, para o cabeçote e algumas outras peças foi usada a tinta cor alumínio 600° por causa das altas temperaturas ou simplesmente pra combinar.
Algumas peças foram pro jato de areia e outras pro banho químico, em outras tive que fazer reparos como desamassar ou retirar imperfeições.
Algumas fotos da reforma do motor...
Antes
Depois
Antes
Depois
Cabeçote
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Postado originalmente por roger_2
