Coloco a frase em outra ordem mas com o mesmo sentido original: "surdo para musica bate-estaca"
No mais, faço apenas uma ponderação:
O motor é, naturalmente, uma fonte muito grande de ruídos e boa parte deles com a mesma freqüência gerada pela onda de choque da detonação, e a forma de diferenciar uma coisa da outra leva em conta não só uma determinada faixa de freqüências com também a amplitude, e isso dentro de uma "janela", ou fase, como você bem colocou.
Acontece que a freqüência monitorada é justamente a que se ouve quando o motor detona, ou seja, um som que lembra metal batendo, e qualquer coisa que gere som com freqüência e amplitude semelhante e DENTRO da fase pré-definida como passível de detonação a programação não tem como diferenciar o que realmente ocorreu e entra na rotina de detonação, atrasando o ponto.
Vou exemplificar com uma situação muito comum de ocorrer:
Geralmente quando se faz a instalação de turbo o motor passa a apresentar uma aceleração mais rápida ou então o dono do carro passa a exigir mais do acelerador, e caso o motor tenha tucho hidráulico a maior aceleração pode causar problemas de "enchimento" dos tuchos, o que altera o funcionamento das válvulas e consequentemente o desempenho - ou até o funcionamento - do motor. A saída comum para isso é trocar os tuchos hidráulicos por mecânicos, só que os tuchos mecânicos exigem a existência de folga, o que torna o motor mais barulhento, e este barulho de metal sobre metal tem justamente a freqüência e amplitude monitorada pelo sensor de detonação e, pior, pode acontecer justamente dentro da fase prevista para a detonação (se acontece ou não depende, entre outras, das características de levantamento e tempo de permanência do comando de válvulas, que desloca o surgimento do ruído para lá e para cá em relação ao giro do motor).
O resultado desta troca é que, caso o motor tenha o sensor de detonação, é muito comum ocorrer perda de potência em alta, justamente por causa do ruído gerado pelo tucho mecânico ser interpretado erroneamente como detonação.
Normalmente se resolve este tipo de coisa instalando uma arruela plástica com alta densidade (de baquelite ou coisa do tipo) e de espessura generosa (em alguns casos com até 1cm) entre o sensor e o bloco do motor. Isso diminui a intensidade do sinal monitorado e também atenua a sensibilidade para freqüências mais altas, e se feito com critério não afeta (muito) a sensibilidade do sistema para a detonação propriamente dita.
Existem casos onde nem isso resolve e a única saída é simplesmente desligar o sensor e instalar um circuito eletrônico à parte para efetuar um atraso de tal forma que não seja exagerado à ponto de comprometer a performance do motor e nem insuficiente a ponto de permitir a ocorrência de detonação, coisa muito comum de acontecer em motores turbinados.
(colocando em miúdos, o sistema de monitoração original atrasa o ponto APÓS a ocorrência da detonação, já o circuito à parte tenta EVITAR a ocorrência. O original garante sempre o melhor desempenho - se bem que para o motor sem turbo - já o circuito à parte tem que ser ajustado dentro de um compromisso entre potência e detonação)
A situação que eu descrevi é muito comum de acontecer e é de conhecimento de muitos preparadores de motor, e tudo isso acontece justamente por causa do barulho gerado pelo tucho mecânico, mas que também pode ocorrer em função de qualquer outro barulho com freqüência, amplitude e fase semelhante, e isto é muito fácil de observar com um simples lâmpada de ponto. Basta acelerar o motor até 3.000~4.000 rpm e bater constantemente o bloco do motor com algo metálico, tipo chave de boca ou martelo pequeno. Quando ocorrer a coincidência da batida dentro da fase prevista para a detonação o sistema atrasa o ponto, o que será comprovado pela lâmpada.
Me estendendo um pouco mais sobre o assunto, a intensidade da freqüência monitorada é inferior a nossa capacidade de audição, ou seja, o circuito eletrônico que faz a transformação do ruído, de sinal analógico para digital, tem grande sensibilidade, e quando ouvimos a detonação o sistema já efetuou o devido atraso, que acontece no ciclo subsequente à detonação, e esta maior sensibilidade explica o porque de um ruído que não ouvimos ou mal ouvimos - como é o caso do ruído ocasionado pelo tucho mecânico - ser suficiente para disparar o atraso por detonação, e explica inclusive a funcionalidade da arruela que se instala entre o sensor e o bloco.
A "ruideira" do motor também é simples de se observar na prática, basta encostar a ponta de uma chave de fenda no bloco do motor e o cabo da chave junto a orelha. Desta forma é possível comprovar que um motor com tucho mecânico é muito mais ruidoso que outro equipado com tucho hidráulico.
Evidente que motores diferentes possuem características diferentes, inclusive no que se refere à ruidos, logo as rotinas de identificação de detonação levam isso em conta e são escritas especificamente para um motor em particular, ficando algumas rotinas mais sensíveis do que outras, mas em termos de conceito não existem grandes diferenças, mesmo porque o tipo de sensoreamento utilizado em todos os motores é exatamente o mesmo e atua pelo mesmo princípio.
Abraços,