http://www.cati.sp.gov.br/Cati/_prod...o_girassol.php
Com relação ao uso direto de óleos vegetais nas regiões de climas tropical e subtropical, a maior dificuldade existente relaciona-se à viscosidade elevada dos mesmos. A alta viscosidade não permite a combustão total desses óleos, principalmente em motores de injeção direta, podendo ocasionar a formação de resíduos de difícil remoção no interior do motor. Esses resíduos podem chegar a provocar danos graves ao funcionamento do motor.
O Centro de Testes, Avaliação e Divulgação do Departamento de Sementes, Mudas e Matrizes ( DSMM) da CATI executou, durante os anos de 2001 a 2005, em suas unidades localizadas em Manduri (Ataliba Leonel) e Águas de Santa Bárbara, avaliações relativas à possibilidade de uso direto como combustível de óleo bruto de girassol (OBG), obtido por meio de prensagem a frio e filtragem por gravidade em pano de algodão. Outros óleos vegetais obtidos de forma semelhante também foram empregados, destacando-se o de nabo forrageiro.
O objetivo principal desses testes foi obter informações que permitissem acrescentar opções de uso e comercialização relativamente à produção do girassol e outras oleaginosas, visando, assim, estimular o agricultor familiar paulista e de outros Estados a adotar culturas alternativas aptas para o plantio no período de segunda safra (safrinha).
Os testes iniciais foram executados misturando-se OBG a ODP. As porcentagens do óleo de girassol na mistura foram sendo aumentadas até a utilização exclusiva, ou seja, 100% de OBG. Os testes foram realizados em motores diesel de diversas potências (06 CV a 123CV), de injeção indireta e direta e, em todos os casos, foram positivos. Esses testes iniciais tiveram poucas horas de duração, ficando a dúvida sobre as conseqüências do uso de OBG durante longos períodos.
A partir de 2002, iniciaram-se os testes de longa duração. Para isso, a CATI teve o apoio técnico e operacional da Promax-Bardahl, que disponibilizou assistência especializada às necessidades do projeto. O primeiro trator a ser testado foi um MF 235, ano 1978, cujo motor Perkins de três cilindros e injeção indireta estava com aproximadamente 5.000 horas de uso. Não foi realizada nenhuma adaptação, nem manutenção no motor; a bomba injetora foi recuperada para início do teste, pois estava avariada. Não houve também nenhuma adaptação na bomba injetora. Após 133 horas de uso exclusivo de OBG como combustível, efetuou-se uma avaliação na bomba injetora pelo mecânico responsável por sua recuperação.
A avaliação foi muito positiva, não existindo até aquele momento nenhum tipo de resíduo ou outro problema qualquer na referida bomba. Segundo o técnico, com larga experiência em manutenção de bombas injetoras, se o combustível utilizado fosse o óleo diesel, com certeza já haveria deposição de algum resíduo. Esse trator trabalhou 690 horas com uso exclusivo de OBG. Durante todo esse período seu desempenho foi excelente, com consumo médio de 2,8 litros de óleo de girassol por hora de serviço. Praticamente todo serviço executado foi realizado com utilização da tomada de força (roçadora hidráulica).
Com 200 horas foram substituídos o óleo lubrificante, os filtros do combustível e do lubrificante, conforme tabela de manutenção periódica. O óleo lubrificante substituído foi encaminhado para análise em três laboratórios distintos e os resultados mostraram que estava dentro das especificações para esse período de utilização. Com 1.000 horas de serviço, estava prevista a abertura do motor para verificação de existência de formação de resíduos nos cilindros e pistões. No entanto, com 690 horas foi necessário abrir o motor em virtude de danos provocados pelo uso excessivo do sistema de embreagem, que provocou a quebra da bronsina de apoio do girabrequim. Foi verificado que os pistões e cilindros não apresentavam deposição de carvões e outros resíduos, demonstrando que o uso de 100% de OBG como combustível em determinados motores diesel de injeção indireta poderia ser uma alternativa viável. Durante todo o período de testes a Promax-Bardahl efetuou análises do óleo lubrificante a cada 100 horas de uso, sendo os resultados muito favoráveis, não indicando qualquer perda de qualidade em razão do uso do combustível alternativo. Após a recuperaç
ão desse motor, o referido trator trabalhou 100 horas com uso de ODP, consumindo 3,5 litros/hora de serviço. Após esse período voltou a trabalhar com 100% de OBG, com consumo médio de 2,3 litros/hora de serviço.
Em agosto de 2002 iniciou-se também uma avaliação em um trator Valmet 985 turbo, ano 1994, motor de 90 CV, com injeção direta. Esse trator trabalhou 652 horas, sendo utilizada como combustível uma mistura de 50% de OBG com 50% de ODP. Após esse período, o motor foi aberto e verificou-se deposição de resíduos aderidos à parte superior das camisas dos cilindros e também formação de gomas nas áreas de circulação do óleo lubrificante, apesar de as análises periódicas efetuadas pela Promax-Bardahl não indicarem diluição do óleo lubrificante pelo óleo de girassol. Esses resultados indicam que não deve ter ocorrido a combustão plena do combustível, apesar da mistura do OBG com o ODP.
O que ficou evidente é que, apesar da tecnologia de bombas injetoras e motores diesel destinar-se exclusivamente ao uso de ODP, os óleos vegetais funcionaram, mostrando ser bastante possível e, a nosso ver, vantajosa sua utilização, desde que tecnologias sejam desenvolvidas para minimizar as conseqüências das altas viscosidades dos óleos vegetais. Com o avanço dos testes e com a possibilidade de utilização direta em larga escala dos diversos tipos de óleos vegetais, com certeza a indústria nacional de motores e bombas injetoras deverá mostrar interesse em pesquisar e oferecer soluções para o uso garantido desses biocombustíveis, à semelhança do que ocorreu com o álcool etílico em motores de ciclo Otto. Deve-se destacar que a tecnologia necessária para a utilização direta e exclusiva de óleo vegetal já está totalmente disponível na Europa (motores Elsbett e outros mais).
Ainda em 2002, a CATI promoveu, como parte da programação em comemoração aos seus 35 anos de existência, o "Fórum sobre a Utilização de Óleos Vegetais como Combustível", com a participação dos mais renomados técnicos brasileiros que vêm defendendo essa opção, destacando-se a presença do Dr. Bautista Vidal, cujo discurso e ação relativos à substituição dos combustíveis fósseis vêm de longa data.
A partir de maio de 2003, até o segundo semestre de 2005, todos os tratores do Núcleo de Produção de Sementes de Águas de Santa Bárbara, com motores de injeção direta ou indireta, mais um da unidade "Ataliba Leonel" (MF235 já citado anteriormente) passaram a ser movidos com uma mistura de óleo vegetal (30%) mais óleo diesel (65%) e solvente (5% de gasolina comum). Essa mistura, chamada de biocombustível, possui viscosidade bastante próxima do óleo diesel de petróleo. Um caminhão Mercedes-Benz, modelo 1313, ano 1978, também foi testado, rodando 6.000 quilômetros com a mistura biocombustível.
O resumo dos resultados finais dessas avaliações está transcrito a seguir:
atualmente, está sendo testado nestes tratores uma mistura biocombustível composta de 45% de óleo vegetal mais 45% de óleo diesel e 10% de gasolina comum. Até o momento, esta mistura tem mostrado viabilidade semelhante à mistura com 30% de óleo vegetal. Avaliação mais conclusiva só poderá ser obtida quando os testes completarem período de longa duração.
Considerações finais:
- A utilização de 100% de óleo vegetal como combustível, em substituição ao óleo diesel, é possível, mas depende de tecnologia apropriada de motores e sistemas de injeção para evitar possíveis problemas provocados, principalmente, pela não-combustão total desses óleos em virtude da alta viscosidade dos mesmos.
- A mistura biocombustível composta de 30% de óleo vegetal + 65% de óleo diesel de petróleo + 5% de gasolina com álcool anidro (75% + 25%), utilizada em substituição ao óleo diesel de petróleo, parece ser uma opção bastante interessante, tanto para motores de injeção direta quanto indireta, permitindo a redução da dependência de combustível fóssil não renovável e abrindo um significativo mercado para a produção de oleaginosas. Essa alternativa precisa ser considerada e avaliada cientificamente para obtenção de conclusões seguras e definitivas. A mistura biocombustível citada, no período e nas condições em que foi testada, não ocasionou nenhum dos inconvenientes provocados pela substituição total de óleo diesel de petróleo por óleos vegetais, em todos os casos avaliados. É preciso destacar também que, no caso do trator Ford 5610, fortes indicações de redução significativa de consumo foram obtidas durante o período em que se utilizou a referida mistura.
- Em razão da possibilidade de: a) produção de diversas culturas oleaginosas em todas as regiões do Brasil, inclusive nas regiões semi-áridas; b) extração e obtenção de óleos vegetais por prensagem a frio e filtragem direta por gravidade a nível de propriedade rural; c) utilização de tecnologia já disponível em países da Europa que permite o uso direto de óleos vegetais como combustível; consideramos imperiosa a necessidade de que, em nosso país, também se dedique atenção especial a esta alternativa de utilização de combustível renovável, além das demais que já vêm sendo utilizadas e estimuladas, como o álcool e o biodiesel.
Para obter mais informações entre em contato com o Núcleo de Produção de Sementes de Águas de Santa Bárbara, tel.: (14)37651060, ou através do e-mail sylmar@cati.sp.gov.br