Galera, fico lisonjeado de poder estar ajudando alguns. Gostaria de deixar claro 2 coisas: Não tenho troller e não tenho jimny. Sou mecânico e faço manutenções em diversos 4x4. Não tenho nenhum objetivo de angariar clientes pelo fórum.
Vou tentar responder sobre o novo troller:
O Novo Troller adotou eixo semi-flutuante, mas realmente o diferencial traseiro parece ser mais resistente que os dana 44 dos antigos. Pra mim, é uma boa receita, mas como expliquei anteriormente, mesmo que seja mais resistente, o semi-eixo está suportando também o peso do veículo e além disso uma quebra significa a soltura do conjunto inteiro. Como tem disco de freio ao invés de tambor, numa trilha o disco deve segurar, mas no asfalto em velocidade maior, não vai. O foco da Ford/Troller mudou com o novo troller. Está se aproximando de um veículo de produção em massa como qualquer outro (jimny, pajero, picapes). Eu olharia pro novo troller como um jimny com mecânica pesada, com mais possibilidades. E apesar do diferencial dianteiro do novo troller ser o mesmo dos antigos, vi alguns casos de empenamento do eixo dianteiro em uso extremo. Não pude analisar cuidadosamente esses novos trollers, mas com absoluta certeza deve haver uma bela alavanca multiplicando a força que é exercida no eixo dianteiro. É a única explicação pra empenar um eixo consagrado por quase 2 décadas em rallys de ponta, nos mais diversos veículos de produção voltados para competições off-road e uso militar.
Aliás, criticar a mecânica do Troller, é criticar a mecânica de versões militares, civis e de rallys:
Frontier, Ranger, S10, L200 ER e L200 RS, Agrale marruá AM50, AM100, AM150, AM200 e suas versões militares usadas desde 2005 pelo exército brasileiro, entre tantos outros protótipos do sertões e dakar. (A Mitsubish só usa essas mecânicas caras, Eaton e Borgwarner, nos veículos de competição. Veículos de produção civil eles usam Aisin que proporcionam engates mais precisos e confortáveis para uso urbano.
A L200 ER que ganhou o sertões umas 10 vezes usa:
Câmbio Eaton 2405-B
Caixa transf. Borgwarner
Diferenciais dana 44 flutuantes
Carroceria em fibra de vidro
É exatamente o mesmo câmbio usado nos Trollers 2005 e 2006. E somente diferente na relação de marchas, em relação aos Trollers de 2007 a 2014. Em relação aos usados em outros veículos, os usados nos trollers são mais reduzidos e aguentam mais troque. A relação do 2405-B é mais reduzida em quinta e mais longa em primeira e segunda marchas. Os antigos usavam o Eaton 2305, que aguentava menos torque. Observe que tem aplicações usando esse câmbio que correm rally dos sertões com 220, 270, 300 cvs. Dá pra ter ideia do superdimensionamento dessa mecânica para motores com 132/163/165 cvs originais. E da habilidade técnica exigida pra se usar um câmbio no limite (muitos proprietários chipam para potências dignas de competições de alto nível técnico). O chassi do Troller usado desde 2002 é mais resistente, não tem pontos de acúmulos, é inteiriço, hermeticamente fechado e em U. A carroceria também é em fibra de vidro. A preparação para equipamentos de competição offroad já vem de fábrica também no troller. Santo antônio interno também de fábrica. A relação do diferencial do troller é absurdamente mais reduzida também (objetivo: mais força - como se precisasse, com os motorzões diesel - mas considera justamente que haverão abusos).
O uso de eixos flutuantes só é comum em aplicações pesadas (caminhões e ônibus) e aplicações voltadas a uso severo em off-road. Qualquer projeto com objetivo de atender uso militar, uso em competições off-road ou uso rural, adota eixo flutuante. Aqui podemos incluir: Land Rover Defender, Toyota Bandeirantes, Agrale Marruás (pós 2005 - por exigência do exército brasileiro), Troller (desde 2002, pelo menos), entre outros projetos.
A visão da indústria automobilística que produz veículos em massa, para vender em milhares e milhares de unidades, disputando mercados, sabe que apenas 1 em 10.000 clientes (na proporção de vendas) vai de fato analisar um veículo olhando-o por baixo. A maioria vai chegar na loja, olhar o design, ar-condicionado, vidros elétricos, bancos, e todo tipo de mimo e conforto, além da sensação de dirigir um sedan, teto solar, e principalmente ser influenciado pelo valor da marca. Aqui no Brasil é muito comum valorizar o que é de fora, japonês, inglês, americano... se é brasileiro, muitas pessoas já assumem que não prestam - ainda bem que o exército brasileiro não pensa assim e adotou os jipes da agrale (mecânica idêntica do troller em vários aspectos), muito melhores que os antigos defender, na minha opinião e na deles também.
Qualquer um desses 99.999 clientes que entrassem num Troller de versão inferior a 2008, jamais comprariam o veículo. Os botões do vidro elétrico ficam no meio do painel, o sistema é arcaico, o ar faz barulho, o interior é rústico e lembra mais um carro popular da década de 90, é apertado, é alto pra cacete pra entrar, tem que levantar 1 metro a perna do chão pra entrar direto e ainda dar um pulo e torcer pra roupa não rasgar no pino da porta, o jipe é alto e não entra em vários lugares, entre tantos outros desconfortos. Já alguns doidos jipeiros, adoram o fato de poderem espirrar água sem se preocupar com botão de vidro elétrico na porta, de entrar dentro do jipe com a mangueira e o balde de sabão, dão valor a tanta altura do chão e tanta altura de carroceria pro snorkel ficar o mais alto possível sem se preocupar que não entrarão em shoppings, garagens, etc.
E o Troller nasceu assim, não se disseminou com propaganda em TV dando saltos impossíveis ou desviando de bombardeios ridículos. Foi no boca a boca. Por muito tempo era um veículo que só quem era do meio off-road conhecia. O objetivo da Ford, desde 2009 quando reestilizou o Troller, foi aumentar as vendas, torná-lo de fato um veículo sustentável para a montadora, que gerasse algum lucro. O que a Ford fez em 2009, ao meu ver, foi maravilhoso. Os Trollers 2009 a 2012 (e os TGVs também, 2013 e 2014) tem um interior muito agradável e conservaram muito da robustez dos antigos. Você quase não lembra que está dentro de um jipe. Mas, você rapidamente lembrava ao dirigir, e diversos probleminhas existiam ainda na montagem, a fibra continuava artesanal, a montagem também, ainda tinha entradas de água na carroceria e faróis, ar-condicionado arcaico, etc.
O novo troller foi uma aposta da Ford. E me parece uma aposta que deu certo. É mais uma tentativa de unir o antigo troller com um SUV convencional como uma Pajero. A fibra não é mais artesanal. Me parece que os probleminhas que chateavam tanto consumidores urbanos diminuíram muito devido as mudanças na linha de montagem, ficou bem mais profissional - se assemelha a produção de um veículo 4x4 de produção em massa como o próprio jimny e pajero.
Podiam sim ter deixado o eixo flutuante, mas nem se deram o trabalho de cortar os suportes que eram usados da Ranger, muito menos iriam ter o custo de fazer um projeto de eixo só para o troller para manter o flutuante. Eles não objetivam mais uso militar e os consumidores antigos. Objetivam consumidores de SUVs com ar condicionado digital, mas que queiram alguma rusticidade. A próxima versão de Troller, tenho quase certeza que abandona também o eixo rígido dianteiro. É uma mudança de foco, e o veículo perdeu muito da proposta anterior, mas por enquanto ainda continua um bom jipe, sem dúvida. Porém, eu não abusaria do eixo traseiro com pneus enormes sem antes convertê-lo para flutuante.
O objetivo da Troller, de décadas atrás era produzir um jipe que fosse simples, fácil de manter e consertar, que não dependesse de peças de uma única montadora e que tivesse uma mecânica robusta. Talvez alguns aqui não se lembrem e não tenham passado o perrengue que muitos passaram com o abandono da suzuki anos atrás, deixando milhares de proprietários na mão, sem ter o que fazer. Isso foi um dos maiores absurdos que já vi uma montadora fazer. E hoje, na verdade, desde 2009, o Troller passou a depender completamente da Ford, tendo peças única e exclusivamente da linha de montagem da Ford. Piorou com o lançamento do novo troller, que até o motor é produzido pela Ford.
O que a finada troller observava, muitos anos atrás (e ainda acontece muito) é que os jipeiros tinham uma verdadeira miscelânea nos jipes, com peças de diversos carros, adaptações e algumas eram de sucesso e outras não. Eles juntaram o que tinha de melhor no mercado, e até hoje continua sendo mecânica de ponta usada em pleno 2016, quase 20 anos depois, em veículos de produção para rally:
L200 Triton ER
Pegaram a mecânica mais top que havia nas competições, Eaton, Borgwarner, MWM, Dana, Spicer, etc. e a carroceria de fibra que sempre foi regra nas competições devido a facilidade de reparo, resistência oferecendo boa segurança e robustez, fizeram um chassi que contemplasse o uso em praias, trilhas e rallys sem se importar que ficasse muito pesado, projetaram o veículo de forma a ter capacidade de usar uma mecânica pesada e não se preocuparam com conforto, e sim com desempenho, ou seja o eixo traseiro fica embaixo dos ocupantes traseiros (em competições, ali vão ferramentas e pneus, os bancos rebatem, são facilmente removidos também), não tem mala, maximizaram os ângulos de entrada, saída e transposição, sem comprometer inclinações laterais(45 graus nas antigas e 40 graus nas pós 2013) e rampa máxima(45 graus - 100%) e adotaram um design globalmente aprovado (Jeep willys/wrangler).
O único projeto que fez uma façanha semelhante foi o da Agrale com o AM50. Eles usaram basicamente a mesma mecânica do troller, mas sacrificaram rampa máxima e inclinação lateral por ângulos de entrada e saída maiores, pois o foco da agrale não contemplava o uso em areia, competições off-road, com subidas de dunas e manobras radicais como laterais, nem mesmo caixa de redução eles colocavam, o que pra mim é sinônimo de embreagem fritada, seja em areia ou em trilha pesada.
Pra mim, o único modo de comparar Jimny e Troller é com Troller RF (AP 2.0 gasolina).
O Troller RF pesava 1400 kgs, apenas 400 kgs a mais (o equivalente a 4/5 adultos) que o jimny e adotava eixos semi-flutuantes, mas com um diferencial bem maior que o do jimny e motor AP.
Um abraço a todos e desculpem o post longo.