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Ver Versão Completa : Quero viajar, por favor me ajudem !!! (América do Sul / Brasil)



Guigoland
22/11/2011, 23:18
Prezados amigos aventureiros, boa noite.

Finalmente, depois de anos afinco sem férias, consegui usufluir de alguns dias de descanso.

Se vocês me permitem, gostaria de deixar um breve relato sobre minha esperança em um dia poder realizar aquelas expedições maravilhosas pela América do Sul e Brasil.

Quando pequeno, muito antes das blockbuster's da vida, eu alugava aqueles filmes de Rally e Camel Trophy que ficavam nas pequenas e excluídas sessões de aventura das locadoras de bairro. Já na adolescência, fazia muita trilha/enduro de moto....até um dia tomar um tombo daqueles em uma especial. Depois de ter quase morrido, o meu pai vendeu minha moto e disse que se um dia eu tivesse a vontade de voltar a competir, ele compraria outra para mim. Passado mais alguns anos, veio a maturidade, estudos e consciência, este último confesso que tinha muito pouco em razão do grande deficit de atenção e hiperatividade que tinha na infância.:angel:

Todavia, mesmo não dando prosseguimento as minhas peripécias, jamais consegui calar aquele meu lado aventureiro, por isso comprei uma Land Rover Defender, acredito que seja em função dos filmes de Camel Trophy supracitados e estilo de vida dos jipeiros.

Bem, após 10 anos do jipinho ficar na garagem e rodar míseros 45.000 km, terei finalmente a oportunidade de utiliza-lo em uma expedição.

Tenho livre do dia 17 de dezembro até + ou - 10 de janeiro para ficar dirigindo por aí, mas não sei ao certo para onde. Seguem abaixo algumas intenções que eu tenho:

1 - Atacama (falaram que pegaria muitas rodovias de asfalto, infelizmente).

2 - Ushuaia (até lá estradas de rípio e montanhas).

3 - Chapada Diamantina.

4- Jalapão e Chapada dos Viadeiros.

5- Caminho percorrido pelo Rally dos Sertões em 2011. (OBS: tenho um vídeo do rally de 94 ! rsrs)

6 - Transamazônica. (falaram que agora é época de chuvas e que seria perigoso/imprudente ir em um só veículo).

Revisei o 90tinha, coloquei snorkel, guincho, protetores e pneus (7.50 xzl), um ótimo pneu de série para lama.

Porém, queria pegar o menos possível de asfalto. estou obtendo grandes informações de relatos aqui no fórum, mas não tenho noção de tempo, distância e imprevistos. Sinceramente, estou com medo de tudo não sair do papel, mais uma vez.

Galera, por favor me ajudem !!

OBS: Não quero ficar fazendo turismo, quero passar esses dias dirigindo, "testar" a reduzida, guincho, etc.... É isso que eu quero !! :p Ah, eu vou com um zequinha amigo meu.

Desculpem o grande e longo desabafo. Estava entalado a anos....

Forte abraço a todos.

Guilherme.

jeisonk
23/11/2011, 08:46
Levando-se em conta que não quer pegar muito asfalto, que é primeira viagem, que são cerca de 23 dias, etc e tal, das opções que colocou diria pra fazer os itens 3 e 4 ou o 4 e 5, montando um roteiro que englobe dois pontos.
É possível.
23 dias é pouco pra fazer os 3 (acho) e muito pra ficar em um somente.

Só sugestão.

Tem muito lugar nesse Brasil que merece uma visita.

Se quiser encarar a Transamazônica sozinho, deixe alguns trajetos mais difíceis pra trás, faça (por exemplo) de Marabá a Santarém e depois vá de Santarém a Cuiabá pela 163, vai pegar bastante lama, aproveita que o asfalto está em obras, depois acabou.

Abraços

Guigoland
23/11/2011, 23:20
Levando-se em conta que não quer pegar muito asfalto, que é primeira viagem, que são cerca de 23 dias, etc e tal, das opções que colocou diria pra fazer os itens 3 e 4 ou o 4 e 5, montando um roteiro que englobe dois pontos.
É possível.
23 dias é pouco pra fazer os 3 (acho) e muito pra ficar em um somente.

Só sugestão.

Tem muito lugar nesse Brasil que merece uma visita.

Se quiser encarar a Transamazônica sozinho, deixe alguns trajetos mais difíceis pra trás, faça (por exemplo) de Marabá a Santarém e depois vá de Santarém a Cuiabá pela 163, vai pegar bastante lama, aproveita que o asfalto está em obras, depois acabou.

Abraços



Jeisonk, boa noite !

Lendo o seu post, confesso que fiquei muito tentado em fazer a Transamazônica, com desvios em trechos específicos, conforme sugerido.

Tendencioso a realizar desta última opção, pesquisei na net e encontrei um site: http://www.transamazonicachallenge.com.br/inicio.html (http://www.transamazonicachallenge.com.br/inicio.html), sensacional !!! Tem um diário de bordo relatando a última expedição que este grupo de amigos realizaram em março de 2011, inclusive, no final da viajem, eles param na casa de um tal de Jeisonk, vc o conhece ?

Cada vez que continuo fuçando, fico mais e mais extasiado com este companheirismo entre os colegas aventureiros, estou parecendo criança de novo. rsrsrs.

Confesso que deu um “pouco/ baita”de medo de ver aquela 90tinha tombada, bem como aquelas pontes sinistras !! Imagine eu atravessando aquilo na chuva e sozinho.

Jeisonk, uma vez que está praticamente decidido qual será minha Trip, vou buscar agora me aprofundar nas rotas. Entrei deste site para começar a traçar minha saída aqui de SP. http://www.emsampa.com.br/wwrota1523.htm (http://www.emsampa.com.br/wwrota1523.htm)

Eu tenho um pequeno GPS Tom Tom, acho que dá para dar um belo help pelas estradas de asfalto, já quando começar a brincadeira....sei lá.

Bem, como seremos somente duas pessoas, precisamos comprar um ponto de ancoragem para o guincho, uma pá, cinta, manilha, macaco hi-lift, o que mais?

Ficaria imensamente agradecido sobre dicas de rotas e planejamento nos deslocamentos. Tenho um medo danado de ficar de madrugada perdido na selva ! kkk.

Por fim, gostaria de lhe dar os parabéns por compartilhar suas aventuras aqui no site.

Forte abraço

Guilherme.

jeisonk
24/11/2011, 08:25
inclusive, no final da viajem, eles param na casa de um tal de Jeisonk, vc o conhece ?


:lol::lol::lol:

Faz parte, volta e meia neunimos alguns viajantes por aqui, sinta-se convidado também para quando estiver por essas bandas.

Guilherme, vou te mandar por MP o mail do Sérjão, que é o cabra que organiza as Transamazônica Challenge (TAC).
Tenho certeza que vai tirar todas tuas dúvidas, pois conhece muito bem a região e o que precisa pra rodar por lá.

Não deixe de postar aqui o andamento do planejamento.

Abraços


Edit.: deixe seu mail aqui, vi que optou por não receber MPs.

Guigoland
25/11/2011, 01:28
:lol::lol::lol:

Faz parte, volta e meia neunimos alguns viajantes por aqui, sinta-se convidado também para quando estiver por essas bandas.

Guilherme, vou te mandar por MP o mail do Sérjão, que é o cabra que organiza as Transamazônica Challenge (TAC).
Tenho certeza que vai tirar todas tuas dúvidas, pois conhece muito bem a região e o que precisa pra rodar por lá.

Não deixe de postar aqui o andamento do planejamento.

Abraços

Edit.: deixe seu mail aqui, vi que optou por não receber MPs.



Olá Jeisonk, tudo bem !

Muito obrigado pelo convite, mesmo de verdade ! A recíproca é verdadeira, quando estiver aqui por São Paulo, já sabe.

Putz, esse cabra é o contato hein Jeisonk !! É pra já : guigo_siqueira @yahoo.com.br

Cara, olha só que fato inusitado aconteceu comigo hoje: Como havia levado a viatura para fazer uma revisão (muito tempo encostada na garagem), um cliente da oficina me ligou dizendo que tinha visto a 90tinha e que se apaixonou por ela !! :chorandoderir: Quando o neguinho me mandou uma proposta.....juro que minhas pernas bambearam, fiquei mudo por alguns/eternos segundos no telefone mas precisei declinar. Tenho certeza (como 2+2=4) que nunca mais vou receber uma oferta dessas.... mas que p*&@, justo quando finalmente vou realizar o meu sonho !!! Tá de sacanagem :parede:

Bicho, já estou com insônia um mês antes da viagem....Vc já deve ter sentido isto milhões de vezes né ? rsrsrs.

Pode deixar que vou continuar postando o planejamento, esta sendo um imenso prazer.

Forte abraço e obrigado por tudo.

Guilherme.

Guigoland
26/11/2011, 02:19
Grande Jeisonk ! A insônia tá tomando conta de mim meu velho. kkk Vou mandar um e-mail lá pro Sergio.

Obrigado por essa !

Um Abraço

Preá 4x4
02/12/2011, 21:06
Boa noite Jeison,
Até que trecho ainda está asfaltada a 163? Uns 10 meses atrás subi até a serra do Cachimbo, no Pará e lá começavam as obras, mas a serra parecia bastante adiantada. Como que tá pra frente da serra? E quando você acha que termina o trecho até Itaituba? E até Santarém?
Obrigado


Levando-se em conta que não quer pegar muito asfalto, que é primeira viagem, que são cerca de 23 dias, etc e tal, das opções que colocou diria pra fazer os itens 3 e 4 ou o 4 e 5, montando um roteiro que englobe dois pontos.
É possível.
23 dias é pouco pra fazer os 3 (acho) e muito pra ficar em um somente.

Só sugestão.

Tem muito lugar nesse Brasil que merece uma visita.

Se quiser encarar a Transamazônica sozinho, deixe alguns trajetos mais difíceis pra trás, faça (por exemplo) de Marabá a Santarém e depois vá de Santarém a Cuiabá pela 163, vai pegar bastante lama, aproveita que o asfalto está em obras, depois acabou.

Abraços

Preá 4x4
02/12/2011, 21:12
Guigoland, boa noite.
Apesar de muito asfalto, Atacama é muito legal. Dá pra você esticar e subir os altiplanos da Bolívia, conhecendo as Lagunas Colorada, Verde, Blanca etc.. É muito bonito. E por essa região tem muito trecho na terra, e tem trecho que você passa os 5 mil metros de altitude.
Vale muito a pena. Pra te inspirar segue umas fotos da minha viagem por essa região (NOA Argentino, Atacama e Bolívia) 11 meses atrás. Flickr: Galeria de Cambraia Lippelt MG (http://www.flickr.com/photos/57883004@N03/) Acho que é ua viagem de 8k km, se muito.
Dia 16 saio para fazer a Patagõnia por 25 dias. Devo voltar dia 7 de janeiro. É uma viagem um pouco maior, deve dar uns 14.000 km.
Veja o que decide aí e nos fale, para ver no que pudemos ajudar. Mas o importante é viajar.
Abraço!

jeisonk
02/12/2011, 23:10
Boa noite Jeison,
Até que trecho ainda está asfaltada a 163? Uns 10 meses atrás subi até a serra do Cachimbo, no Pará e lá começavam as obras, mas a serra parecia bastante adiantada. Como que tá pra frente da serra? E quando você acha que termina o trecho até Itaituba? E até Santarém?
Obrigado

Mas olha, não sei ao certo até onde está asfaltado, estou querendo dar uma subida rápida pra lá, pelo menos até as quedas de Curuá.
Sobre finalizar, bão, difícil dizer, desde que me conheço por gente falam em "ano que vem", rsrsrrs, é promessa das antigas, já ouço falarem da conclusão a pelo menos 20 anos.

Abraços

jeisonk
02/12/2011, 23:10
... Mas o importante é viajar....
Abraço!

Isso aí, esse é o ponto, o resto é detalhe.

Abraços

Guigoland
03/12/2011, 22:02
Guigoland, boa noite.
Apesar de muito asfalto, Atacama é muito legal. Dá pra você esticar e subir os altiplanos da Bolívia, conhecendo as Lagunas Colorada, Verde, Blanca etc.. É muito bonito. E por essa região tem muito trecho na terra, e tem trecho que você passa os 5 mil metros de altitude.
Vale muito a pena. Pra te inspirar segue umas fotos da minha viagem por essa região (NOA Argentino, Atacama e Bolívia) 11 meses atrás. Flickr: Galeria de Cambraia Lippelt MG (http://www.flickr.com/photos/57883004@N03/) Acho que é ua viagem de 8k km, se muito.
Dia 16 saio para fazer a Patagõnia por 25 dias. Devo voltar dia 7 de janeiro. É uma viagem um pouco maior, deve dar uns 14.000 km.
Veja o que decide aí e nos fale, para ver no que pudemos ajudar. Mas o importante é viajar.
Abraço!

Olá Preá, tudo bem !?

Agora entendo porque entrava bastante poeira na sua land. kkk

As fotos da sua trip com a patroa e os dog's são demais !! Parabéns.

Então eu conheço Atacama, é um dos lugares mais lindos do mundo. Fui de mochilão em 2008, cheguei até a escalar o Volcan Licancabur, etc...

Quando cheguei naquela cidadezinha mistica não sei o que aconteceu comigo mas me deu um ataque de choro, juro !! Nunca pensei que existiria algo do gênero no planeta. Sensação única que carrego comigo até hoje.

Minha próxima viagem vai ser pra lá certeza, porém dirigindo desta vez. Deitar no capô da Defender e olhar para o Céu de Atacama, não tem preço.

Patagônia, também é de tirar o Chapéu !! Fiquei uma semana enfurnado na Torres del Paine. Meus Pais chegaram a entrar em contato com o Consulado do Chile, quase apanhei quando voltei para o Brasil ! kkk

Preá, qual vai ser a sua rota pela Patagônia? Vai fazer escaladas ???

Forte abraço.

Guilherme

Guigoland
03/12/2011, 22:21
Isso aí, esse é o ponto, o resto é detalhe.

Abraços

Faaala Jeinson !! Tudo bom meu velho ?

Mandei um e-mail pro Sergião, estou ansiosamente no aguardo de uma resposta dele agora.

E você, vai viajar com a esposa e os filhotes no final do ano?

Tanto você quanto o Preá tiraram a sorte grande, nunca encontrei uma parceira de viagem com espirito aventureiro. Só peguei mulé fresca que reclamava do balançar e barulho da Defender. rsrs.

Mais uma vez, obrigado pela força.

Eita insônia... kkk

Forte abraço

Guilherme

jeisonk
04/12/2011, 02:28
E você, vai viajar com a esposa e os filhotes no final do ano?


Esse ano vou ficar meio quietinho, mas estou com alguns planos pra frente.

Abraços

Loras
04/12/2011, 02:59
Venha conhecer Roraima!

Imperdível!

Aproveite um pouco da BR319 e depois Serra do Sol!

Vai estar aqui do lado mesmo....

Abraço,

Guigoland
04/12/2011, 12:57
Venha conhecer Roraima!

Imperdível!

Aproveite um pouco da BR319 e depois Serra do Sol!

Vai estar aqui do lado mesmo....

Abraço,


Opa Loras, tudo bem ?

Se for perto mesmo, vou escapar um pouco da rota e dar um pulinho aí em Roraima sim, quem sabe podemos nos conhecer pessoalmente...aí te mostro a minha 90tinha e te instigo a voltar a ter uma " Endurance". 'Faço manutenção na oficina do ex-proprietário da sua lendária 110.

Forte abraço.

Guilherme

Guigoland
04/12/2011, 13:03
Em 10 de outubro de 1970, a capa da Folha de S. Paulo noticiava dois grandes acontecimentos. Após meses de debates violentos, os italianos acordavam num país onde o divórcio iria ser permitido. Oito mil quilômetros ao sudoeste, uma árvore de 50 metros derrubada no meio da selva amazônica era a muda testemunha, ao contrário, da intenção de um casamento que não iria ter vida fácil: entre a região Norte e o resto do Brasil.

Ao lado da árvore, uma placa de bronze incrustada no tronco de uma castanheira, descerrada no dia anterior pelo general Emílio Garrastazu Médici, dizia: "Nestas margens do Xingu, em plena selva amazônica, o Sr. Presidente da Republica dá início à construção da Transamazônica, numa arrancada histórica para a conquista deste gigantesco mundo verde".

Mais de trinta anos depois, a "arrancada histórica" está longe de ser acabada. Dos sonhos do Plano de Integração Nacional e do "Brasil Grande" do regime militar, resta uma pista de terra vermelha e amarela que é, durante seis meses, poeira e outros seis meses, lama. E restam um milhão de pessoas esperando que a BR-230, que já foi rebatizada de "Transamargura" e "Transmiseriana", se torne exemplo de um caminho possível em direção ao desenvolvimento da região. Pesquisadores, colonos e representantes de movimentos sociais trabalham hoje juntos, buscando inventar um futuro sustentável, que supere tanto o dogma da penetração e integração da selva a qualquer custo, quanto a antiga convicção ambientalista que via na presença humana profecia de catástrofes e nas estradas pavimentadas o vilão número um da floresta.

Do fracasso à luta

A Transamazônica foi planejada para atravessar o Brasil de leste a oeste: começaria com dois ramais, um a partir de João Pessoa (PB), outro do Recife (PE), que iriam se unir em Picos (PI), terminando em Boqueirão da Esperança (AC), na fronteira com o Peru, visando garantir uma saída para o Pacífico aos produtos brasileiros. Eram mais de quatro mil quilômetros de estrada na selva, seis mil incluindo os trechos nordestinos: o sonho faraônico de um ditador, mergulhado na retórica de entregar uma "terra sem homens para homens sem terra". Os brasileiros vieram, em dois milhões de homens e mulheres, para perseguir aquele sonho. Cidades na rota dele, como Altamira ou Itaituba, cresceram, em três décadas, 1000% ou mais.

Nascimento de uma rodovia

Ao tomar posse como presidente do país, o general Emílio Garrastazu Médici (ditador de 1969 a 1974) prometeu conduzir o Brasil "à plena democracia". O conduziu rapidamente, com punho de aço, para aqueles que foram chamados de "anos de chumbo" de repressão brutal. Diz uma adocicada história oficial que, no dia 6 de junho de 1970, o presidente foi ao semi-árido nordestino e emocionou-se diante do drama da seca.

Dentro do avião que o trazia de volta a Brasília decidiu pela construção da Transamazônica, para convidar "os homens sem terra do Brasil a ocuparem as terras sem homens da Amazônia" . Dentro da mesma estratégia, Médici idealizou também a construção da Cuiabá-Santarém (BR-163), da Manaus-Porto Velho (BR-319), da Perimetral Norte (que deveria ligar Macapá com Manaus e que nunca foi terminada) e, mais tarde, a pavimentação da Belém-Brasília (BR-010) e da Pará-Maranhão (BR-316). Ao inaugurar a Transamazônica numa clareira a 8 km de Altamira, Médici queria atenuar o conflito social e reafirmar os slogans do "Brasil grande" e do "milagre econômico". O resultado foi o milagre do crescimento da dívida externa e mais uma ferida profunda, ecológica e social, para o território.

Ao longo do trecho, o plano previa a construção de "agrovilas" (conjuntos de lotes com casas instaladas no espaço de 100 ha, que deveriam contar com uma escola de 1º grau, uma igreja ecumênica e um posto médico), de "agrópolis" (reunião de agrovilas fornecidas com serviços bancários, correios, telefones e escola de 2º grau) e de "rurópolis" um conjunto de agrópolis. Na prática, foram implantadas poucas agrovilas e apenas uma agrópolis (Brasil Novo) e uma rurópolis (Presidente Médici). O custo da construção da Transamazônica, que nunca foi acabada, foi de US$ 1,5 bilhão.

O resultado hoje é visível até do espaço: imagens de satélite mostram as típicas conformações de deflorestação formadas pela estrada e suas vicinais em forma de espinha de peixe. Somente 2,5 mil quilômetros da rodovia, ligando Aguiarnópolis a Lábrea (AM), foram abertos. O que seguiu foi o abandono.

"Quando a Transamazônica foi construída, a região estava totalmente isolada, por via de terra, do resto do Brasil" - explica David McGrath, geógrafo da Universidade Federal do Pará, do Woods Hole Research Institute (WHRC) e do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), organização não governamental criada em 1995). "As rodovias forneceram um primeiro acesso à região, mas o caminho para mercados era grande.

Além disso, muitos foram os problemas no planejamento e implementação do projeto. Não foi dada a devida atenção em instalar assentamentos em áreas com solos apropriados. Os planejadores não tinham conhecimentos sobre os cultivos mais adequados para região. Os colonos, que vieram do Nordeste e do Sul do país, não tinham familiaridade com as condições amazônicas e faltou assistência técnica e para comercialização. Os governos acabaram perdendo interesse no projeto. A rodovia deteriorou-se rapidamente, isolando mais ainda a população e condenando o projeto ao fracasso".

Aristón Portugal, agricultor e membro da coordenação executiva da Fundação Viver, Produzir, Preservar (FVPP) - entidade de Altamira (PA) que congrega cerca de 120 organizações da região - concorda: "A rodovia era estratégica do ponto de vista geopolítico e social: 'integrar para não entregar' era a palavra de ordem. Por outro lado, o regime esperava que a Transamazônica representasse uma válvula de escape da pressão social pela reforma agrária. Mas do ponto de vista econômico sempre foi vista como secundária. Já a partir de 1975, o governo sumiu da área. As pessoas ficaram jogadas numa situação - um clima extremamente quente, com chuvas violentas e duradouras, estradas de terra como única infra-estrutura - que em outras partes do país seria considerada de calamidade natural. Foi o caos total".

A opinião de Georgia Carvalho - cientista política do WHRC - é parecida: "Em menos de dois anos o governo Médici mudou o enfoque da política amazônica, se voltando para grandes empreendimentos. Os colonos se viram sem crédito, sem serviço de extensão rural, em muitos casos sem título definitivo da terra e sem acesso a mercado para a sua produção".

Hoje, nos meses de seca a estrada vive mergulhada na poeira. Nos meses de chuva, uma viagem de ônibus, que no verão demora um dia, pode levar uma semana. As 16 cidades e 134 comunidades da região, que hoje hospedam quase um milhão de pessoas, foram em boa parte ampliadas ou fundadas por iniciativa dos próprios moradores. "Nós resistimos" - orgulha-se Portugal. "A partir da década de 80, sindicatos, comunidades de base, cooperativas, começaram um movimento que levou, no início da década de 90, à criação do Movimento Pela Sobrevivência da Transamazônica. Já que viver não era possível nessas condições, a luta foi pela sobrevivência".

O movimento, que hoje se chama Movimento pelo Desenvolvimento da Transamazônica e Xingu (MDTX), agrega 113 entidades. "Atualmente a Transamazônica tem um dos movimentos sociais mais bem organizados da Amazônia" - comenta Carvalho, "mas há muita violência rural ao longo da rodovia". Em 2001, o coordenador da entidade, Ademir Alfeu Federicci, foi morto com um tiro na boca na frente da própria família.

"Boom" e "colapso": a economia não sustentável da Amazônia
"Os custos sociais, econômicos, ecológicos da Transamazônica foram elevados", afirma McGrath. "Somente cerca de 30% da população original de colonos continua morando nas terras". A razão não é difícil de entender. A expansão da fronteira agrícola na Amazônia tende a passar pelas fases, bem conhecidas pelos estudiosos, de "boom-colapso": ao rápido e ilusório crescimento econômico dos primeiros anos (boom), segue um dramático declínio (colapso) em renda e emprego, quando a floresta é devastada e os solos empobrecidos, o que deixa áreas degradadas, força os moradores à migração e causa aumento da concentração de terras.

Apesar disso, alguns conseguiram melhorar a produção e lutar para mudar a rota. "Nem todo solo na Amazônia é inadequado" - afirma Portugal. "Produzimos cacau de ótima qualidade, pimenta do reino, café". Hoje na região crescem 50 milhões de árvores de cacau (o que faz do Pará o segundo produtor do país) e 11 milhões de plantas de café. O MDTX analisou os principais problemas da região: transporte, faltas de incentivos à produção, falta de investimentos na urbanização (com conseqüências dramáticas em termos de alfabetização, saneamento básico e mortalidade infantil). "A cada dois anos produzimos uma proposta", conta Portugal. "Estamos pedindo o asfaltamento de trechos da rodovia, a recuperação das estradas vicinais (que somam 14 mil quilômetros, uma imensidade), a criação de escolas e cursos de formação, investimentos na área de saúde, linhas de créditos. Tudo isso visando a inclusão social e o respeito ao meio ambiente".

No dia 27 de agosto de 1972, o governo preparou uma grande solenidade no meio da selva amazônica, algo que marcasse a história do País. Na manhã daquele dia, o presidente da República, o general Emílio Garrastazu Médici, iniciaria a ligação do Brasil do Norte ao Nordeste, inaugurando a Transamazônica. Passados 30 anos, a rodovia continua praticamente a mesma. Em alguns trechos, torna-se uma trilha no meio da floresta. Em outros, o tráfego é precário. Quando chove, a lama deixa centenas de pessoas isoladas. E, mesmo no período de seca, a poeira e os buracos tornam a viagem pela estrada um drama sem fim.

A Transamazônica foi traçada saindo de Pernambuco e Paraíba. Depois, passaria por Maranhão, Tocantins, Pará, Amazonas e chegaria até Boqueirão da Esperança, na fronteira do Acre com o Peru. A intenção era ligar todo o País e chegar aos portos do Oceano Pacífico, num percurso de 8.100 quilômetros.

Com a estrada, o governo pretendia também colonizar toda a Amazônia e garantir a soberania nacional. Mas tudo acabou não passando de um sonho do general Médici. Somente um trecho ligando Aguiarnópolis (TO) a Lábrea (AM) foi construído e, mesmo assim, o tráfego flui apenas durante uma época do ano. Hoje, a Transamazônica tem 2.500 quilômetros, pouco mais de um quarto do previsto.
Uma Estrada Esquecida Integrar para não entregar [aos estrangeiros].

- Fonte de pesquisa - Rodovia Transamaznica, Origem, Estrada, Extenso, Trajeto Rodovia Transamaznica (http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/meio-ambiente-transamazonica/transamazonica.php)