Valdir
05/07/2004, 17:04
Americanos conseguiram impedir exportação em 89
(Jornal :- O Estado de São Paulo - 10/11/2002)
Os Estados Unidos impediram, em 1989, que o Brasil exportasse em duas etapas 702 tanques pesados da extinta companhia Engesa - os EE-T1 Al Fahd, Leão do Deserto - para o Exército da Arábia Saudita. O contrato de US$ 7,2 bilhões acabou ficando com o grupo americano General
Dynamics, fabricante do tanque M-1A1 Abrams, padrão do exército dos EUA, segundo colocado nas provas de desempenho promovidas pelos generais de Riad para escolher.
A Engesa participou com o Al Fahd - também o nome do rei saudita – da avaliação técnica da Concorrência de Verão, disputando os testes no deserto sob temperaturas que chegavam 50 graus, com o britânico Challenger, o francês AMX-40 e o americano M-1A1 Abrams. O EE-T1
(Osório, no Brasil) pesa 42 toneladas, usa blindagem de placas duplas, e leva como arma principal um canhão de 120 milímetros capaz de disparar munição supersônica. Além disso, incorpora vasta carga eletrônica. O tanque brasileiro era o único dos concorrentes
projetado especificamente para atender às exigências da licitação. Ao final de uma semana de
ensaios, o Al Fahd havia vencido todas as provas.
"Nesse momento as luzes de emergência se acenderam no governo americano", lembra um engenheiro de armamentos, ex-executivo da Engesa. A primeira conseqüência foi a surpreendente declaração de que a concorrência chegava ao fim com dois produtos "possíveis de serem comprados", de acordo com o anúncio feito em Riad pelo ministro da
Defesa, príncipe Sultan Aziz Abdulazis. "Essa foi à forma encontrada para ceder às pressões de
Washington e manter as possibilidades do M1-A1”, afirma o engenheiro.
Na mesma semana, começou a circular no Senado e na Câmara de Representantes um documento exortando senadores e deputados a se envolverem no processo para impedir o fechamento de fábricas, as demissões de trabalhadores e a perda de mercados cativos caso a
encomenda dos tanques fosse parar "em outras mãos, em outro país nem sempre amigo". A assinatura do protocolo foi marcada duas vezes em contatos diretos do então presidente Fernando Collor de Mello com o rei Fahd. Em agosto de 1990, não foi possível porque o príncipe
Sultan quebrou a perna.
Em outubro, Collor anunciou nova data e a composição da comitiva oficial liderada pelo general Leônidas Gonçalves, ex-ministro do Exército. A cerimônia seria realizada em Roma. Novo cancelamento, diante da mobilização para a Guerra do Golfo. Finalmente, em novembro, o
anúncio da entrega do contrato à General Dynamics americana.
A rigor, soube-se depois, a formalização da compra havia sido feita antes dos contatos de Collor com o rei saudita.
A Engesa aplicou US$ 100 milhões no tanque de batalha brasileiro.
Endividada, não suportou a perda do contrato. E quebrou, fechando cinco fábricas e extinguindo cerca de 6 mil empregos.
Por R.G.
(Jornal :- O Estado de São Paulo - 10/11/2002)
Os Estados Unidos impediram, em 1989, que o Brasil exportasse em duas etapas 702 tanques pesados da extinta companhia Engesa - os EE-T1 Al Fahd, Leão do Deserto - para o Exército da Arábia Saudita. O contrato de US$ 7,2 bilhões acabou ficando com o grupo americano General
Dynamics, fabricante do tanque M-1A1 Abrams, padrão do exército dos EUA, segundo colocado nas provas de desempenho promovidas pelos generais de Riad para escolher.
A Engesa participou com o Al Fahd - também o nome do rei saudita – da avaliação técnica da Concorrência de Verão, disputando os testes no deserto sob temperaturas que chegavam 50 graus, com o britânico Challenger, o francês AMX-40 e o americano M-1A1 Abrams. O EE-T1
(Osório, no Brasil) pesa 42 toneladas, usa blindagem de placas duplas, e leva como arma principal um canhão de 120 milímetros capaz de disparar munição supersônica. Além disso, incorpora vasta carga eletrônica. O tanque brasileiro era o único dos concorrentes
projetado especificamente para atender às exigências da licitação. Ao final de uma semana de
ensaios, o Al Fahd havia vencido todas as provas.
"Nesse momento as luzes de emergência se acenderam no governo americano", lembra um engenheiro de armamentos, ex-executivo da Engesa. A primeira conseqüência foi a surpreendente declaração de que a concorrência chegava ao fim com dois produtos "possíveis de serem comprados", de acordo com o anúncio feito em Riad pelo ministro da
Defesa, príncipe Sultan Aziz Abdulazis. "Essa foi à forma encontrada para ceder às pressões de
Washington e manter as possibilidades do M1-A1”, afirma o engenheiro.
Na mesma semana, começou a circular no Senado e na Câmara de Representantes um documento exortando senadores e deputados a se envolverem no processo para impedir o fechamento de fábricas, as demissões de trabalhadores e a perda de mercados cativos caso a
encomenda dos tanques fosse parar "em outras mãos, em outro país nem sempre amigo". A assinatura do protocolo foi marcada duas vezes em contatos diretos do então presidente Fernando Collor de Mello com o rei Fahd. Em agosto de 1990, não foi possível porque o príncipe
Sultan quebrou a perna.
Em outubro, Collor anunciou nova data e a composição da comitiva oficial liderada pelo general Leônidas Gonçalves, ex-ministro do Exército. A cerimônia seria realizada em Roma. Novo cancelamento, diante da mobilização para a Guerra do Golfo. Finalmente, em novembro, o
anúncio da entrega do contrato à General Dynamics americana.
A rigor, soube-se depois, a formalização da compra havia sido feita antes dos contatos de Collor com o rei saudita.
A Engesa aplicou US$ 100 milhões no tanque de batalha brasileiro.
Endividada, não suportou a perda do contrato. E quebrou, fechando cinco fábricas e extinguindo cerca de 6 mil empregos.
Por R.G.