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KaosChaos
28/02/2004, 11:27
Estava a navegar na net e por acaso encontrei este texto de um autor brasileiro num site português. Está excelente!

Tolinhas...

O que vou dizer aqui não se aplica em absoluto à jipeiras, sejam pilotos, navegadoras, zequinhas ou meras apaixonadas por jipes ou jipeiros. Aliás, onde se lê jipeiros, pode-se ler antigomobilistas ou qualquer outro tipo de maníacos por carros, jipes, ou qualquer coisa que se mova por meios próprios sobre rodas...

Estou me referindo àquelas incautas esposas, companheiras, noivas, namoradas ou pretendentes que se julgam a salvo de quaisquer intempéries sentimentais pelo simples fatos de que seus parceiros dedicam todo seu tempo livre à mania que os avassala, não sobrando tempo, energia e disposição para uma amante, uma rival.

Ah, tolinhas... Mal sabem o terrível engano que estão cometendo. E ainda comentam consternadas com outras tolinhas quando descobrem que o marido destas anda pulando a cerca com alguma cabrita bípede por aí . Dizem satisfeitas: "Não corro esse risco, o Fulano a estas horas está no meio do mato, na lama, cercado de homens, numa tortura que eles chamam de diversão ou trilha e quando voltar, vem de bom humor, toma um banho e dorme como uma criança..." Naturalmente que as botas cheias de lama, as calças rasgadas, o cabelo empastelado, o boné suado e outras evidências são provas mais que suficientes de onde estava e o que fazia aquele santinho...

Temo no entanto que esta vasta legião feminina, cada vez mais inteligente e perspicaz acabe descobrindo o óbvio: é muito melhor para elas que ele tenha uma amante. Porque o espanto? Preciso explicar? Mesmo? Então tá, vou tentar...

Primeiro, um pouco da psicologia masculina. Ao contrário do que acontece com as mulheres, o homem que pula cerca não está em busca de uma companheira para o resto da vida - essa ele já tem e se eles não se desentenderem seriamente, envelhecerão juntos. Ele quer é se divertir, comer o fruto proibido, se afirmar como macho, como malandro (agulha na maioria das vezes) . Já as mulheres exigem um envolvimento romântico, paixão, suspiros, luar, aquilo tudo!

Mas saindo da psicologia, vamos cair na real. Quanto tempo por semana vocês acham que um homem pode dedicar a uma amante sem dar bandeira? Hein? Hein? Em contrapartida, quantos fins de semana inteirinhos ele dedica ao carro, jipe, trilha, exposição, etc, etc? Isso para não falar nos dias de semana à noite em que ele fica enfiado na garagem, na oficina, ou no bar onde se reúnem os maníacos de sua tribo...

E a grana? Quanto vocês acham que ele tem coragem de gastar com uma amante para que suas mulheres não percebam? Quanto custa um motel? Um jantar num restaurante médio? Nada disso tem comparação com o que ele gasta num jogo de rodas, nuns pneus especiais para lama (encostando aquele jogo novinho que ele comprou a poucos meses) num carburador Holley usado, num comando Edelbroock, num blocante 100% para ambos os diferenciais, num guincho de 10 ou 12 mil libras. Que foi? Estou falando grego? Certamente. E se você nem sabe o que são essas coisas (e estou falando só do básico...) nem queira saber o quanto custam. Muito menos quanto eles mentem deslavadamente para justificar a compra ou mascarar o custo. Já vi uns e outros pagando uma baba numa peça usada e enferrujada para seu jeep histórico e se recusar a comprar a fruta ou o doce predileto dela porque o preço aumentou um pouquinho, mas mesmo assim é infinitamente inferior ao da peça que ela nunca saberá quanto custou (a menos que ele fale dormindo...).

O problema ainda é o sentimento? Entendi (quanta insegurança, meu Deus...), mas gostaria de lembrar que é brincando que se dizem as verdades. Quem não conhece aquele famoso adesivo colado no painel de vários jipes em que se lê: "minha garota disse - o jipe ou eu! Sinto saudade dela..." Tenho poucas dúvidas que qualquer malandro confrontado com a realidade de ser apanhado pulando a cerca e diante dessa alternativa extrema (ela ou eu) fica na sua, ela é ela, uma aventura inconseqüente que agora vai até render conseqüências penosas e dolorosas. Inversamente, eu não recomendaria tentar essa tática com relação ao Engesa de estimação ou ao raro Mustang Shelby. É um tiro que tem muito mais de 50% de chances de sair pela culatra.

E por falar em sentimento, vale a pena lembrar que quando ele volta de uma escapada com a amante, vem cheio de culpa, consciência pesada e disposto a ceder aos caprichos da titular, seja de leva-la àquele restaurante da moda ou qualquer outro programa que normalmente ele fugiria como o diabo da cruz...

Já quando ele volta da trilha (ou do desfile, da exposição, etc, etc...) vem cheio de si, se gabando de proezas reais ou imaginárias, cheio de cansaço real ou imaginário e pouquíssimo disposto a ceder à qualquer apelo. Se bobear ainda quer colo quentinho e cafuné...

Tolinhas acordem! Esqueçam por instantes o alisamento japonês ou a última cena do "Toni" da novela e pensem nisso. Da minha parte não me surpreenderei se algum amigo me chamar perplexo para dizer: - Rapaiiizzzz, minha mulher me chamou para propor que se eu vendesse o jipe, ela me liberava, sem perguntas, as noites de quinta !! Dá para acreditar??

Então tá, abração a todos e até a próxima.

O autor, além de especializado em etílico-barato-filosofia de botequim, é casado com a mesma mulher a 38 anos, tem dois jipes e um carro antigo (sem falar nos cachorros que estragam as plantas dela, mas aí já é papo para outra coluna...
Álvaro Melo.







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