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Ver Versão Completa : Relações profissionais



Thiago Serpa
06/08/2006, 02:38
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Amiga,
Conforme minha promessa, estou enviando um e-mail contando as novidades da minha primeira semana depois de ser
transferida
pela firma para o Rio de Janeiro. Terminei hoje de arrumar as coisas no meu novo apartamento. Ficou uma
gracinha, mas estou exausta. São dez da noite e já estou pregada.

Segunda-Feira: Cheguei na firma e já adorei.
Entrei no elevador quase no mesmo instante que o homem mais lindo desse planeta. Ele é loiro, tem olhos verdes
e o corpo musculoso parece querer arrebentar o terno. Lindooooo!
Estou apaixonada. Olhei disfarçadamente a hora no meu relógio de pulso e fiz uma promessa de estar parada
defronte ao elevador todos os dias a essa mesma hora. Ele desceu no andar da engenharia. Conheci o pessoal do
setor, todos foram atenciosos comigo. Até o meu chefe foi super delicado. Estou maravilhada com essa cidade.
Cheguei em casa e comi comida enlatada. Amanhã vou a um mercado comprar alguma coisa.

Terça-Feira: Amiga! Precisava contar. Sabe aquele homem de quem falei? Ele olhou para mim e sorriu quando
entramos no elevador. Fiquei sem ação e baixei a cabeça. Como sou burra!
Passei o dia no trabalho pensando que preciso fazer um regime. Me olhei no espelho hoje de manhã e estou com
uma barriguinha indiscreta. Fui no mercado e só comprei coisinhas leves: biscoitos, legumes e chás. Resolvido!
Estou de dieta.

Quarta-Feira: Acordei com dor-de-cabeça. Acho que foi a folha de alface ou o biscoito do jantar. Preciso
manter-me firme na
dieta. Quero emagrecer dois quilos até o fim-de-semana. Ah! O nome dele é Marcelo. Ouvi um amigo dele falando
com ele no
elevador. E ainda tem mais: ele desmanchou o noivado há dois meses e está sozinho. Consegui sorrir para ele
quando entrou no elevador e me cumprimentou. Estou progredindo, né? Como faço para me insinuar sem parecer vulgar?
Comprei um vestido dois números menor que o meu. Será a minha meta.

Quinta-Feira: O Marcelo me cumprimentou ao entrar no elevador. Seu sorriso iluminou tudo! Ele me perguntou se
eu era a arquiteta que viera transferida de Brasília e eu só fiz: "U-hum"... Ele me perguntou se eu estava
gostando do Rio e eu disse: "U-hum". Aí ele perguntou se eu já havia estado antes aqui e eu disse: "U-hum".
Então ele perguntou se eu só sabia falar "U-hum" e eu respondi: "Ã-hã". Será que fui muito evasiva? Será que eu
deveria ter falado um pouco mais? Ai, amiga! Estou tão apaixonada! Estou resolvida!Amanhã vou perguntar se ele
não gostaria de me mostrar o Rio de Janeiro no final de semana. Quanto ao resto, bem... ando com muita
enxaqueca. Acho que vou quebrar meu regime hoje. Estou fazendo uma sopa de legumes.
Espero que não me engorde demais.

Sexta-Feira: Amiga! Estou arruinada! Ontem à noite não resisti e me empanturrei. Coloquei bastante batata-doce
na sopa, além
de couve, repolho e beterraba. Menina, saí de casa que parecia um caminhão de lixo. Como eu peidava! (nossa!
Você não imagina a minha vergonha de contar isto, mas se eu não desabafar, vou me jogar pela janela!).
No metrô, durante o trajeto para o trabalho, bastava um solavanco para eu soltar um futum que nem eu mesma
suportava.
Teve um momento em que alguém dentro do trem gritou: "Aí! Peidar até pode, mas jogar merda em pó dentro do
vagão é muita sacanagem!" Uma senhora gorda foi responsabilizada. Todo mundo olhava para ela, tadinha. Ela
ficou vermelha, ficou amarela, e eu aproveitava cada mudança de cor para soltar outro. O meu maior medo era
prender e sair um barulhento. Eu estava morta de vergonha. Desci na estação e parei atrás de uma moça com um
bebê no colo, enquanto aguardava minha vez de sair pela roleta. Aproveitei e soltei mais um. O senhor que
estava na frente da mulher com o bebê virou-se para ela e disse: "Dona! É melhor a senhora jogar esse bebê fora
porque ele está estragado!".
Na entrada do prédio onde trabalho tem uma senhora que vende bolinhos, café, queijo, essas coisas de camelô.
Pois eu ia passando e um freguês começou a cheirar um pastel, justo na hora em que o futum se espalhou. O
sujeito jogou o pastel no lixo e reclamou: "Pó, dona Maria! Esse pastel tá bichado!"
Entrei no prédio resolvida a subir os dezesseis degraus pela escada. Meu azar foi que o Marcelo ficou segurando
a porta, esperando que eu entrasse. Como não me decidia, ele me puxou pelo braço e apertou o botão do meu andar.
Já no terceiro andar ficamos sozinhos. Cheguei a me sentir aliviada, pois assim a viagem terminaria mais
rápido. Pensei rápido demais. O elevador deu um solavanco e as luzes se apagaram. Quase instantaneamente a
iluminação de emergência acendeu. Marcelo sorriu (ai, aquele sorriso...) e disse que era a bruxa da
sexta-feira. Era assim mesmo, logo a luz voltaria, não precisava se preocupar. Mal sabia ele que eu estava
mesmo preocupada.
Amiga, juro que tentei prender. Mas antes que saísse com estrondo, deixei escapar. Abaixei e fiquei respirando
rápido, tentando aspirar o máximo possível, como se estivesse me sentindo mal, com falta de ar. Já se imaginou
numa situação dessas? Peidar e ficar tentando aspirar o peido para que o homem mais lindo do mundo não perceba
que você peidou?
Ele ficou muito preocupado comigo e, se percebeu o mau cheiro, não o demonstrou. Quando achei que a catinga
havia passado,
voltei a respirar normal. Disse para ele que eu era claustrófoba. Mal ele me ajudou a levantar, eu não consegui
prender o segundo, que saiu ainda pior que o anterior. O coitado dessa vez ficou meio azulado, mas ainda não
disse nada.
Abaixei novamente e fiquei respirando rápido de novo, como uma mulher em estado de parto. Dessa vez Marcelo
ficou afastado, no canto mais distante de mim no elevador. Na ânsia de disfarçar, fiquei olhando para a sola
dos meus sapatos, como se
estivesse buscando a origem daquele fedor horroroso. Ele ficou lá, no canto, impávido. Nem bem o cheiro se
esvaiu e veio outro. Ele se desesperou e começou a apertar a campainha de emergência. Coitado! Ele esmurrou a
porta, gritou, esperneou, e eu lá, na respiração cachorrinho.
Quando a catinga dissipou, ele se acalmou. As lágrimas começaram a escorrer pelos meus olhos. Ele me viu
chorando, enxugou meus olhos e disse: "Meus olhos também estão ardendo...". Eu juro que pensei que ele fosse
dizer algo bonito. Aquilo me magoou profundamente.
Pensei: "Ah, é? Então acabou a respiração cachorrinho..."
Depois disso, no primeiro ele cobriu o rosto com o paletó. No segundo, enrolou a cabeça. No terceiro, prendeu a
respiração,
no quarto, ele ficou roxo. No quinto, me sacudiu pelos braços e berrou: "Mulher! Pára de se cagar!".
Depois disso ele só chorava.
Chorou como um bebê até sermos resgatados, quatro horas depois.
Entrei no escritório e pedi minha transferência para outro lugar, de preferência outro País.

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Sua amiga,
Ana.