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Ver Versão Completa : Aventura no Goioxim



Mauricio Rotta
28/02/2012, 16:05
Abri esse pequeno tópico no intuito de registrar sobre a enebriante aventura que realizamos no interior do sertão paranaense, terra onde o tempo passa devagar, onde o século XXI ainda parece coisa do futuro, onde a piazada chuta bola de capotão com kichute amarrado o cadarço nas canelas. Onde, nas bodegas de beira de estrada os doces empoeirados ficam em vitrines no balcão, e lá se pode ver uma casca de sorvete cheia de doce de leite seco e aquele sanduiche com duas bolachas maizena com uma maria-mole no meio.
O destino era a Fazenda Limeira, município de Goioxim – PR divisa com outro município de nome Marquinho, terra de gente boa e acolhedora, gente simples igual a todos da nossa equipe, lá nos aguardaria o gerente da Fazenda, amigo de longa data que por lá habita a mais de dois anos, solito igual chinelo de saci, resolvemos lhe fazer a visita, levar àqueles rincões a amizade e o companheirismo que acá estamos pra lá de acostumados. E, com efeito, assim foi.

Mauricio Rotta
28/02/2012, 16:06
Em suma, partimos do centro da cidade de Mamborê no dia 25 de fevereiro logo após o almoço, contávamos com 8 motos de cilindradas diversas e uma Toyota Hilux da 'equipe de apoio', leia-se: sapos que não possuem motos! Brincadeiras a parte, realmente precisávamos de um veículo para levar as tralhas de pernoite e mantimentos estomaco-energizantes (carnes e embutidos). Da parte líquida e embocativa nem lhes falo... 6 grades de cerveja e algumas 'gasosas' para ajudar a empurrar a carne e o pão. Olhamos o tempo, “nuvens esparsas e probabilidade de instabilidade com pancadas no decorrer do período” se avizinhavam...Fizemos as orações costumeiras, demos lume aos motores e partimos rumo a estrada da Pranchinha, município de Luiziana, estrada conhecida por constar como asfalto em alguns mapas, mas de asfalto não tem nada, sabe-se lá onde foi parar o asfalto, logo em seguida tornamos para as bandas do Roncador e aceleramos forte as máquinas, tempo seco, estrada boa, lavoura pra todos os lados, chegamos em Roncador, cerca de 50km andados, alguns abasteceram as motocas, outros não... Nos informamos acerca da ‘estrada para o Palmital, mais ou menos 60km, tomamos água, caímos pirambeira abaixo, daqui pra diante o terreno já não se mostrava mais tão amistoso, as médias de velocidade caíram drasticamente, toda a estrada se mostrava de cascalho redondo, mais liso que barriga de cobra, falando em cobra, no meio do caminho fizemos parada para observar uma ilustre representante do gênero das crotálus, vulgarmente conhecida como a perigosa cascavel, fizemos umas fotos, os mais incautos ficaram olhando a ‘cobra sumir’ pro mato adentro. Eu não dei ousadia, não quero prosa com esses bichos de sangue frio... Voltando ao cascalho solto que teimava em tentar nos derrubar das motos, continuamos estrada a fora, muita poeira e sol quente. As informações davam conta de uma ponte de concreto sobre o rio Cantu, dividindo o município do Mato Rico do município do Palmital, hora e meia depois, avistamos a grandiosa serra que o rio Cantu escavou no decorrer do tempo geológico, descemos a serra capengando ora pra um lado, ora pro outro, chegamos a ponte que estimamos estar no meio do caminho entre o Roncador e o Palmital, fizemos parada, destampamos umas espumosas, comemos um naco de mortadela, descansamos um pouco e admiramos a grandeza da força da água que em tempos de outrora subiu mais de 10 metros e passou sobre a ponte arrancando com força as proteções laterais. Descansados, montamos sobre as magrelas e demos fogo aos motores para continuar a odisséia para que nessa altura chegava pelas metades! Sobe serra, desce serra, escorrega daqui, escorrega dali... acelera, freia com cuidado, segura na marcha... coisas de motoqueiros. Hora e meia depois vencemos os 30km que separavam a distante ponte do Cantu da cidade do Palmital. Entramos na cidade, atravessamos a mesma e num posto abastecemos as cabritas, nos informamos sobre a estrada da balsa que cruza o “piquirizão” e aceleramos rumo a uma estradinha de paralelepípedos esburacados que a cada solavanco parecia que iria nos arrancar a coluna vertebral. Alguns quilômetros depois como que se surgisse do nada, eis que avistamos o rio e a balsa ancorada na outra margem. Também com alivio avistamos nosso anfitrião que nos aguardava do outro lado, junto a uma animada bodega onde jogavam truco e berravam ‘seis’ e ‘nove’ em altos brados a clientela!

Mauricio Rotta
28/02/2012, 16:07
O balseiro soltou as catracas e veio com a balsa vagarosamente agarrado a uma grossa corda de seda puxando com a força das mãos a embarcação de aço. Ancorou na outra margem, “catraqueou” a embarcação na barranca e nós fomos enfiando as motos em cima da balsa juntamente com a Hilux e mais uma S10 que nos acompanhou de uma altura até o rio. Agarramos a corda em uns dez homens e fizemos a travessia em questão de minutos, rapidamente saltamos na outra margem deixando pra trás o município do Palmital e entrando agora num pedaço do município de Goioxim. Cumprimentamos nosso companheiro que nos esperava ansioso e animado, cumprimentamos também os homens que ruidosamente jogavam o carteado na bodega de madeira bruta, as margens do Piquiri, eles olhavam curiosos as motos que funcionamos com grande tropéu e aceleramos seguindo agora a picape do nosso recepcionista. Andamos mais alguns quilômetros e saímos do município de Goioxim e entramos agora em terras de Marquinho onde passamos pelo povoado de Pinhalzinho e novamente cruzamos outro rio e tornamos a entrar no Goioxim onde avistamos a placa da Fazenda Limeira, nosso destino final. Chegamos ao final da viagem, cansados e empoeirados, mas ainda tivemos animo para assar as carnes na churrasqueira da fazenda, tomamos quantas cervejas quisemos, o gaiteiro entoou infinitas canções gauchescas e sertanejas e lá pelas duas da manhã apagamos as luzes e embriagados tentamos dormir, sem sucesso, pois a turba de marmanjos organizava grande algazarra com gritos e piadas que arrancavam risos de todos, parecíamos uns guris de primário, mas todos já passamos muito dos trinta e tantos! Ou muitos...

Mauricio Rotta
28/02/2012, 16:07
A noite foi longa e tumultuada, a chuva caiu a noite inteira sem parar, e a poeira que encaramos a viagem toda, agora na volta transformou-se em lama. O tempo piorara bastante, no nosso caso, pior era melhor! Logo que clareou alguém preparou um café amargo e o gaiteiro já munido da acordeona desatinou modas apaixonadas e outras nem tanto. Agora a chuva passara e só um garoão caía. Peguei minha moto e fui explorar a fazenda que nos acolheu, tratava-se de uma estância de engorda de gado, terreno mui acidentado, morros de todos os tipos se erguiam de todos os lados, acelerei a máquina morro acima e o pasto liso fazia os pneus patinarem mesmo sendo esses 100% para o fora de estrada. Mesmo assim subi a mais alta colina que pude, e de lá sim consegui realmente avistar a grandiosidade de nossas paragens e o isolamento que nos encontrávamos. O tempo escurecia pras bandas de onde viemos e logo teríamos que retornar pelo mesmo caminho que viemos.

Mauricio Rotta
28/02/2012, 16:08
Quando cheguei de volta a nossa sede os preparativos para a volta já estavam começando, carregamos a camioneta com as garrafas vazias que eram muitas, nosso assador oficial já estava com as labaredas lambendo o restante da carne que sobrara do dia anterior. E nem eram oito da manhã ainda. Carregamos tudo, embrulhamos o que deu, acondicionamos toda a carne assada e o pão que tínhamos em uma caixa de isopor, demos fogo aos motores e partimos de volta menos de 15 horas depois de termos chegado. Como que vendo nossa partida, São Pedro mandou terrível tormenta sobre nossos lombos e pensamos que realmente seria a viagem do corvo. Mas Deus providencia bom tempo aos que tem fé. A chuva vinha esparsa intercalada com momentos de sol forte, proporcionando um clima muito agradável a condução motociclistica! Ao meio dia paramos para saboerear as carnes e embutidos que estavam na caixa térmica, comemos com grande avidez e prazer, tivemos uma lauta refeição e partimos em seguida rumo as serras do Cantu! É verdade, as vezes a chuva castigava e justamente sobre a ponte do Cantu paramos para aguardar a Toyota que vinha encarando o lamaçal com grande desenvoltura, e sobre esta ponte e sob a forte chuva, muitos sentiram o corpo querendo encarangar de frio o que logo passou devido aos largos goles de cachaça que embebíamos a mente.

Mauricio Rotta
28/02/2012, 16:09
Enfim por volta das 15 horas do domingo chegamos a nossa querida cidade, saudosos, cansados, sujos como cães, mas felizes e realizados por mais uma aventura realizada, cruzamos 7 municipios, rodamos quase 300km de terra, demos muitas risadas, ouvimos e contamos grandes estórias e 26 horas depois, das quais 10 foram sentados sobre o lombo de uma moto dura, chegamos enfim, sãos e salvos, não totalmente ilesos, mas contentes por termos vivido uma passagem da qual nenhum de nós nunca mais esquecerá.

Mauricio Rotta
28/02/2012, 16:12
333745A partida, da esquerda para direita, Chicão, Darci Rota, Zé Trento, Deolindo Gaiteiro, Paulo Rotta, Gambázão, Gilson Linoço, Mauricio Rotta, Berloffa, Serjão

tuna
28/02/2012, 16:58
:palmas::palmas::palmas::palmas::palmas::palmas::p almas::palmas::palmas::palmas:

Muito bons, o texto e a aventura, parabéns

[]´´s precisando passear...:-|

ZEQUINHA8100
28/02/2012, 21:07
Mauricio é isto ai, não tem passa tempo melhor! do q uma aventura dessas! boas horas, com bons amigos,a vida é feita dessas coisas bobo de quem não experimenta uma diverção dessas e parabens pela narrativa dei boas risadas com sua descrição do passeio abraços