Uma pequena correção no final do meu post anterior: o posto de combustível é da rede ANCAP, e não ANP. Tal rede, no geral, era a que tinha os melhores preços de diesel nos locais por que passamos.
Sexto trecho: de Punta del Este a Montevideo.
Antes de iniciar propriamente o post do sexto trecho, lembrei-me de uma dica importante que deveria ter dado na abertura do tópico: pagamentos em dinheiro ou em cartão. Como disse alhures, não vale muito a pena fazer câmbio de grandes valores, pois muitos restaurantes, hotéis, casas de artesanato, lojinhas etc aceitam reais com cotação igual ou melhor às lojas de câmbio. Por segurança, é sempre bom ter alguns pesos no bolso. Quanto aos restaurantes, o melhor é pagar com cartão de crédito, pois há a restituição do IVA (Imposto de Valor Agregado), que é de 14,5%, e não se paga a taxa de compra de dinheiro, coisa que incide se tu fores fazer a compra de pesos em lojas de câmbio. Embora na utilização do cartão de crédito haja a cobrança de IOF brasileiro no valor de 6,38%, a restituição de 14,5% do IVA uruguaio acaba compensando. Se o cartão for VISA, o desconto vem imediatamente na hora de pagar o restaurante; se for MasterCard, vem na fatura do cartão. Quanto aos hotéis, tanto faz pagar em dinheiro ou cartão, pois a cobrança já vem descontada do IVA.
Fechada a conta do hotel por volta das 09:00 horas, seguimos pela Ruta 10 em direção a Montevideo. Após se passar por aquela entrada que dá acesso à Punta Balena (direção à Casa Pueblo), a Ruta 10 muda de nome, passando a se chamar 1B – Interbalnearia.
Por conta de minha navegadora arquiteta, teríamos duas paradas antes do destino final deste sexto trecho: Balneário de Las Flores e Atlantida.
Em Las Flores, cerca de 50 km de Punta del Este, tem um dos castelos de Humberto Pittamiglio, que foi um arquiteto uruguaio a cuja fama foram adicionadas algumas pitadas de excentricidade, loucura, alquimia e por aí vai... No que toca à qualificação loucura, pude entender um pouco quando vi o castelo, pois se trata de uma murada enorme de tijolos, com torres frontais, em cujo interior há simplesmente um mero jardim. Não vimos viva alma cuidando do local. Como a porta estivesse aberta, fomos entrando para conhecer o lugar; não fomos abordados em momento algum, assim não sei dizer se era ou não cobrada a entrada.
Meio decepcionados com esta primeira parada, retornamos à Ruta 1B - Interbalnearia em direção a Atlantida para visitar a Iglesia del Cristo Obrero, obra do engenheiro Eladio Dieste. No caminho, pagamos o primeiro pedágio no Uruguai: 75 pesos (aceitam reais, com cotação um pouco desfavorável para nós – momento bom para ter no bolso alguns pesos). O mérito da igreja, para quem curte arquitetura, é o fato de a obra ter conseguido fazer paredes onduladas com a utilização de material simples e abundante no local: tijolos. Ao chegarmos, outra decepção: fechado. Tentamos verificar se havia alguém na casa paroquial adjunta, mas não encontramos ninguém aparentemente responsável pela igreja. Com duas decepções em curto espaço de tempo, seguimos direto a Montevideo na esperança de não sermos agraciados com a terceira... Quem tiver interesse sobre a arquitetura da igreja (dica de minha navegadora): www.archdaily.com.br/br/01-39702/a-fe-move-tijolos-carlos-eduardo-dias-comas
Nas proximidades de Montevideo, o segundo pedágio: mais 75 pesos. A chegada em Montevideo consistiu no trecho mais agitado de toda a viagem, com alguns viadutos, intersecções de vias, carros em maiores quantidades, mas definitivamente nada comparado a uma chegada em São Paulo, ou mesmo a qualquer outra capital de um de nossos Estados. O interessante é optar pela via Rambla Costanera quando as placas começarem a ofertar as opções de vias para a chegada em Montevideo: passa-se ao lado do aeroporto Carrasco, seguindo-se por toda a orla até se avistar o famoso letreiro MONTEVIDEO.
Optamos por ir direto ao hotel para descarregar as coisas e tentar aproveitar um pouco da tarde no centro da cidade, pois chegamos por volta das 15:30 horas. Ficamos três noites no Ibis, hotel de boa localização (bairro Palermo) a custo total de US$ 158,10 (dólares); café da manhã é cobrado à parte (por conta disso, rememorei o camping ao puxar o fogareiro, as panelas campeiras e as comidas para o quarto, torcendo para que o preparo de eventual fritura ou outras coisas não afetasse o sensor de incêndio). O hotel aluga bicicletas àqueles que tiverem vontade de passear pela rambla.
Feito todo o check-in, pedimos um táxi para nos deixar no centro da cidade, exatamente na Plaza Independencia. Não valeu a pena pegar táxi, pois era relativamente perto; pagamos 75 pesos. Aí desembarcados, fomos em direção à Ciudad Vieja pelo calçadão da Sarandi. Embora haja muitas lojas no entorno, o comércio estava fechado, com algumas raras exceções; tivemos sorte de pegar uma feirinha na Plaza Constitución e a catedral aberta. Visitamos o que estava aberto, como o memorial do Artigas. Como vínhamos sem ter comido quase nada, resolvemos experimentar o típico “chivito” no restaurante La Pasiva, que é uma rede uruguaia de comidas. Não sei direito como definir esse chivito: acho que seria um misto de Xis com um à la minuta... Enfim, acho que esperávamos mais dele após tanta propaganda que havíamos ouvido.
Ficamos andando pela região da Ciudad Vieja, tomando uns cafezinhos e tal, até chegarmos no Mercado del Puerto, onde há vários restaurantes, muitos deles indicados em guias de turismo. Isso se deu perto das 18:00 horas, quando estavam fechando tudo (vale dizer: não há a opção de jantares no local). Deu tempo, pelo menos, de ler alguns cardápios para sentir o clima dos preços. Foi aí que comecei a desenvolver minha leitura árabe: da direita (preços) para a esquerda (nome dos pratos). Embora a comida uruguaia não leve sal, alguns preços levam; os restaurantes do Mercado del Puerto são um exemplo.
Abandonada a opção de janta em tais restaurantes, ficamos andando mais um pouco pela região até passarmos pela Calle Soriano, novo local do bar Fun Fun. Este bar é descrito em praticamente todos os guias turísticos como parada obrigatória, tendo shows de tango, candombe, pratos típicos etc. Vimos que abria às 20:00 horas, e todos os guias e sites diziam para chegar nesse horário para conseguir mesa. Como eram ainda 19:00 horas, ficamos matando um tempo na rambla. Regressamos às 20:15 horas, onde todas as mesas já estavam reservadas... No local, havia apenas outro casal de brasileiros que conseguiu a última mesa disponível; convidaram-nos para sentar com eles e assim conseguimos assistir aos shows! Vale a pena pelos shows e pelo ambiente do bar, muito descontraído; preço meio salgado. Mas fica a dica para quem quiser: ligue e reserve mesa antes (podem ser feitas por email também).
Saímos do Fun Fun por volta da meia noite e voltamos andando ao hotel; sem problemas quanto à segurança o fato de andar pela rambla de noite. Há várias pessoas passeando os cachorros e pescando nesse horário!
No dia seguinte, (domingo, dia 20 de novembro), os planos consistiam em visitar a famosa feira de Trintán Narvarra. Minha abstinência de carne já se fazia sentir; fizemos uma pesquisa de restaurantes pelas proximidades da feira, de modo que fôssemos almoçar tão logo terminássemos o passeio por ela. Por coincidência, o recepcionista do hotel nos indicou o mesmo local para o almoço, elogiando muito o restaurante pela relação custo x benefício: La Pulperia.
Saimos em direção à feira por volta das 09:00 horas. Depois da experiência do táxi, resolvemos que faríamos as coisas a pé, até para ir vendo e conhecendo melhor a cidade. Após meia hora de caminhada, chegamos na feira. Tentarei definir nossa impressão: caso não estejam com ânimo de garimparem muuuuuito, mas muuuuuito mesmo, aquela pecinha específica, aquele tipo de azulejo velho, aquela colherinha perdida ou xícara quebrada do conjunto herdado da bisavó, não percam tempo. É um manancial de velharias e inutilidades sem precedentes: roupas velhas, puídas mesmo, do estilo hawaiianas amaciadas com a tira presa no preguinho; quinquilharias de porão que a custo podem ser chamadas de antiguidades; produtos de 1,99... Particularmente confesso que me decepcionei bastante com o que vi, principalmente porque havia me programado estar em Montevideo no domingo justamente para ver qual era a dessa feira tão afamada nos guias turísticos. E isso que me esforcei andando em todas as ruas laterais por onde ela se alastra, no intuito de ver se havia um ou outro feirante com produtos legais. Foi justamente isso que achei: um ou outro e só.
Saídos dali, fomos andando até o parque Rodó, que era próximo ao restaurante que havíamos eleito para o almoço. Em tal parque também havia uma feira, que acabou salvando nossa expectativa: muito melhor organizada, com várias barracas e produtos diversos, sendo roupas o forte dela. Demos umas voltinhas para matar o tempo e seguimos para as carnes!!! O nome do restaurante que fomos é La Pulperia: magnífico!! Relação custo x benefício muito boa!! De turistas, somente nós e outro casal de brasileiros. Lotado. Há algumas poucas mesas na calçada, pois o esquema do local é comer nuns balcões adaptados na janela. Para quem tiver interesse de comer boas carnes acompanhadas de uma garrafa de medio y medio: Calle Lagunillas, nº 448 (bairro Punta Carretas).
Satisfeita minha quota de carnes da semana, fomos para um shopping ali perto conferir outra dica desses guias de turismo: tomar um café no Oro del Rhins, que conferimos no Punta Carretas Shopping. Café ruim e atendimento deficitário. A partir daí decidimos abandonar essas dicas do guia que tínhamos e passamos mais a confiar no que a população local indicava ou no que apetecia nossos olhos. Voltamos andando por toda a rambla e fomos para o hotel preparar o mate e apreciar o pôr-do-sol.
A segunda-feira, dia 21 de novembro, foi destinada para visitar o comércio local. Saímos do hotel e fomos a pé por toda a Calle Ejidio até chegar na Avenida 18 de Julio. O Palacio Salvo estava aberto; ficamos sabendo que havia visitas guiadas, mas infelizmente não no horário que aí estávamos. Há muita especulação sobre o destino que se dará a este lindo prédio que fica bem em frente ao memorial do Artigas: muitos dizem que está destinado a ser demolido por conta da precariedade de seu interior; outros dizem que o governo já está financiando uma reforma. Enfim, só o tempo dirá. Seria realmente uma pena a demolição de tão belo prédio...
Ficamos toda a manhã visitando lojas, passando por algumas tendas de artesanatos como o Mercado de los Artesanos, Manos del Uruguay, lojas de casacos de couro etc. Andamos boa parte pela 18 de Julio, pela San Jose e pela Ciudad Vieja. Pelo meio da tarde, pegamos a Band e fomos por toda a extensão da rambla (cerca de 20Km), chegando no letreiro MONTEVIDEO, no cassino, no castelo Pittamiglio... Neste dia acabamos indo cedo para o hotel para arrumar as coisas e partir no dia seguinte, próximo ao horário do check out, para Colônia de Sacramento.