As esferas de circulação internas
Tem 24 esferas ao total: 12 claras (cromadas) e 12 escuras. No meu caso parte das escuras não estavam tão escuras e não dava para as distinguir com certeza das claras. As claras são maiores, mas de muito pouco e não tem como ver isto ao olho. É necessário usar um micrômetro para diferenciá-las. As claras têm um diâmetro de 7,14 mm enquanto para as escuras é um pouco menos de 7,13 mm. Quando colocar elas de volta, é necessário colocar uma esfera clara e uma escura com alternância, o que garante a pré-carga correta do conjunto de circulação.
Colocação das esferas
Separar as esferas por tamanho em dois recipientes para não as misturar.
Girar o pistão principal na diagonal, como na foto, para facilitar o acesso aos buracos para colocar as esferas. O empurrar o mais à direita possível, mas de tal forma que, olhando pelo furo em qual vamos colocar as esferas, coincide com a trilha do eixo de circulação que está em baixo, isso para que as esferas possam entrar.
Molhar as esferas com fluído e inserir a primeira. A empurrar um pouco com cuidado com uma ferramenta fina, girando ao mesmo tempo e devagar a ponta do eixo de entrada no sentido anti-horário, o que vai “sugar” a esfera.
Para facilitar a rotação do eixo podem colocar na sua ponta um soquete de 12 pontos (estrela) de 17 mm.
Inserir a segunda esfera, essa do tamanho diferente da primeira, e repetir o procedimento. Prosseguir com a terceira, do mesmo tamanho que a primeira, e assim vai.
Tomar cuidado com o rumo que tomam as esferas. Elas devem ir para baixo. Na foto seguinte podem ver que a última está querendo subir. Dar a direção certa usando uma chave de fenda fina.
Se uma esfera tomar o rumo errado ou se esqueceram de qual tamanho era a última esfera que colocaram, não prossigam. Girar o eixo no sentido anti-horário para empurrar o pistão fora, recolher as esferas, as organizar por tamanho, recolocar o pistão dentro do corpo tomando cuidado com a junta e recomeçar todo o procedimento.
Para as últimas esferas, usar aquele tubo-ponte. Colocar dentro de uma de suas metades “petroleum jelly”, chamado também “transmission assembly lube”, um tipo de graxa especial para montagem que se dissolve sem efeito colateral dentro do fluído. Usei da Lubegard, modelo Green #19250. Essa graxa vai segurar as esferas dentro do tubo.
Colocar as esferas que sobram nesta metade, na ordem correta em relação à última colocada dentro do pistão. Fechar o tubo com sua outra metade e o colocar no lugar sobre o pistão.
Colocar a abraçadeira em cima dele e apertar os dois parafusos com suas arruelas. O manual indica um torque de 58 Nm para eles, mas não consegui chegar até este porque senti que as roscas estavam “se apagando”. Por isto coloquei trava roscas (Loctite 242 azul) nos parafusos e os apertei com um torque menor.
Montagem do eixo do braço pitman
Girar a ponta do eixo de entrada para que os dentes do pistão fiquem centralizados em relação à abertura para o eixo do braço pitman.
Girar o pistão para que a superfície plana dos dentes esteja quase paralela ao eixo do braço, como está na foto, isso para que os dentes do conjunto do eixo do pitman se encaixam nelas.
Checagem da montagem
Girar o eixo de entrada de uma volta e meia de cada lado para checar o bom deslocamento do pistão. Olhar dentro da abertura central na extremidade do pistão se não tem esfera solta dentro. Por isto recomendo trabalhar sempre dentro de uma masseira, assim, se uma esfera cair fora da caixa vocês vão achá-la e saber que a montagem está errada.
Instalação do eixo
Limpar e secar o conjunto do eixo do pitman. Trocar a chapa de latão com a junta por aquela nova fornecida no kit. Colocar fita adesiva em volta da ponta do eixo, ao nível da parte estriada que recebe o braço pitman, isso para proteger a junta já instalada na saída da caixa.
Molhar o conjunto com fluído e o instalar dentro do corpo. Apertar os quatro parafusos da tampa ao torque de 60 Nm. Recolher em volta da tampa os dedos sobressalteando da chapa de latão. Instalar também a última junta anti-poeira na extremidade do eixo.
Montagem final da caixa
Prender a caixa com a morsa de bancada com um aperto leve e instalar de volta a tampa rosqueada (26 mm) na extremidade do pistão ao torque de 102 Nm.
Molhar o grande anel de vedação com fluído e o instalar, colocar a tampa de alumínio. Se precisar, bater com um martelo de borracha para a colocar no lugar certo. Instalar, com um alicate, o anel elástico de metal novo fornecido que trava a tampa. O colocar de tal forma que uma de suas extremidades passa do furo na lateral da caixa, isso para facilitar uma futura desmontagem.
Do outro lado da caixa, parafusar a tampa e colocar a chapa-porca-trava até alinhar os três pontos que foram marcados antes da desmontagem.
Regulagem
Prender a caixa na morsa de bancada sem apertar para não distorcer as medições.
Em cima da tampa de alumínio do eixo do pitman, colocar a porca autotravante (chave 16 mm), sem apertar. Desparafusar o parafuso de regulagem (chave Allen 3/16”).
Girar o eixo de entrada de ponta a ponta. Checar que tem o mesmo número de voltas (três no meu caso) que durante a checagem antes da desmontagem. Colocar o eixo no ponto central (uma volta e meia). Colocar nele o torquímetro de vareta, o girar aproximadamente 120° de cada lado, notando os valores do torque, isso várias vezes para melhorar a leitura. Fazer a média desses valores.
Girar agora o eixo 45° de cada lado, notando os valores do torque. A média destes deve ficar 4-8 in. lbs. acima da média anterior. Se for abaixo disso, apertar o parafuso com a chave Allen um torno e refazer as medidas a 45°. Continuar até chegar aos valores certos. Isso permite que o ponto central, quando as rodas estiverem retas, esteja um pouco mais duro no volante que quando as rodas estiverem em uma curva, facilitando a volta do volante e dando mais estabilidade em linha reta.
Lembrem-se que devem manter as três voltas completas do eixo, sem ponto duro. Se for apertar demais, vai aparecer um ponto duro e não terão mais três voltas.
Anotam também que na ponta estriada do eixo do pitman há a ausência de uma estria a cada 90°. Quando o eixo de entrada estiver no ponto central (uma volta e meia de cada lado), essa ausência de estria fica alinhada com o corpo da caixa (ver segunda foto). Isso permite confirmar a correta montagem e por parte a regulagem da caixa.
Quando estiver tudo certo, apertar a porca autotravante segurando o parafuso com a chave Allen para não desregular.
Montagem da caixa no carro
Voltando ao carro, sobra o suporte da caixa. É uma peça triangular de alumínio que costume quebrar. No meu caso, usando pneus do tamanho original e sem lift, essa peça estava inteira e deu para conferir que o chassi não apresentava trincas ao nível das passagens dos parafusos de montagem da caixa, problemas comuns quando usar pneus maiores que provocam mais esforços ao nível do braço pitman e, em consequência, na área de montagem da caixa de direção.
Limpei a área com kerozene e montei a caixa. Neste momento ajuda MUITO ter um ajudante porque a caixa é bem pesada para segura no lugar com uma mão e fica difícil colocar ao mesmo tempo o primeiro parafuso. Nestes três coloquei também trava rosca Loctite 242. Apertar esses parafusos ao torque de 95 Nm. Colocar o para-lama de plástico no lugar com os dois pinos de plástico.
Colocar de volta a luva da coluna de direção e seu parafuso. Conectar as duas mangueiras (checar/trocar os o-rings), remontar o conjunto bomba-reservatório, a correia e a caixa do filtro de ar. Conectar o polo negativo da bateria. Não conectar o pitman por enquanto.
Encher o reservatório com fluído até o nível “cold”. Deixar assim por alguns minutos. Encher novamente se precisar.
Ligar o motor por alguns segundos, o desligar e checar o nível do fluído. Completar. Repetir o procedimento até o nível do fluído ficar estável.
Girar devagar o volante de ponto a ponto pelo menos 20 vezes, checar o nível do fluído e completar.
Colocar o volante no ponto central e conectar o braço pitman. Colocar a arruela e a porca, apertando essa ao torque de 251 Nm. Afixar a barra estabilizadora de volta ao chassi.
Ligar o motor e girar o volante de ponto a ponto. Checar o nível do fluído e completar. Repetir este procedimento até o nível ficar estável.
No início de todo este procedimento, o fluído dentro do reservatório ficara com bastante ar dentro, como uma espuma. Isto é normal. Deixar o carro quieto por alguns minutos. Com todos os procedimentos acima o ar sairá aos poucos do circuito até ficar completamente claro nas últimas etapas. De qualquer forma, não dirigir o carro se estiverem bolhas de ar dentro do reservatório.
Para finalizar, coloquei uma marca com tinta na porca e parafusos de montagem da caixa e do braço pitman para checar ao longo do tempo de forma visual se um deles afrouxar.
Testar o carro, dirigindo e manobrando devagar em uma área livre para verificar que está tudo em ordem.
Conclusão
Além de não ter mais vazamentos, a reforma da caixa me permitiu checar o estado interno. Fora daquela “borboleta” quebrada, não vi problemas de uso. Vi também que tinha bem pouca borra nas peças após 15 anos de vida.
Coloco, para ajuda complementar, alguns link e vídeos interessantes que achei sobre a reforma de caixa de direção Saginaw:
- Página da Four Wheeler.com
Ferramentas necessárias
Chaves (soquete) 33 mm, 26 mm, 16 mm (combinada), 13 mm
Chaves (soquette) 5/8”, 9/16”, 3/8”
Soquete para instalação das juntas: 25 mm, 32 mm
Soquete de 12 pontos (estrela): 17 mm
Chave Allen 3/16”
Sacador de braço pitman (usei da Lisle #41900)
Micrômetro (medida das esferas)
Torquímetro para aperto angular para 58 Nm até 251 Nm
Torquímetro de vareta pequeno para medição até 7 Nm de cada lado
Morsa de bancada
Transmission assembly lube (usei da Lubegard #19250 Green)