Se você acha que o carro mais caro do mundo deve ser um raríssimo exemplar clássico ou um novo superesportivo, se enganou. O veículo de valor mais alto já desenvolvido no planeta está, veja só, fora dele. E é um jipe. O nome dele é Curiosity, o robô autônomo da agência espacial norte-americana, a NASA.
E este veículo não é de luxo e nem serve para mimar abastados compradores. O Curiosity é um jipe trabalhador capaz de enfrentar situações extremas para elucidar questões científicas. Seus principais objetivos: explorar o planeta Marte, descobrir indícios da presença de vida microbiana e de água. Quem sabe o Curiosity também não ajude a abrir caminho para uma futura colônia espacial de seres humanos.
Mas antes que isso aconteça, o robô marciano precisa superar diversos desafios junto de sua equipe de cientistas. O planeta vermelho ainda é em sua maioria inexplorado e várias de suas características pouco conhecidas, como eventos climáticos e composições geológicas. A seu favor está a experiência adquirida com seus pioneiros irmãos mais velhos.
O Curiosity foi construído como sucessor de uma linhagem que conta com outros três integrantes. O menor deles, o Sojorney, está desde 1997 fora da Terra, apesar de só ter explorado solo marciano por cerca de três meses. O Spirit, o segundo deles, começou a explorar o planeta em 2004 e foi desligado em 2011. Já o Opportunity, o último a ser lançado antes do Curiosity, continua em funcionamento após quase dez anos no planeta vermelho.
Jipe-Astronauta
Esqueça tudo o que você sabe sobre jipes. O Curiosity tem seis rodas de alumínio e nenhum motorista (ao menos não em cima do jipe, a equipe por trás do robô conta com mais de 500 pessoas). Esqueça também trilhas lamacentas e trechos em florestas. O veículo percorre no máximo 100 metros por dia no deserto marciano com seus 2,9 metros de comprimento, 2,7 metros de largura e 2,2 metros de altura. O peso total é de uma tonelada.
O Curiosity possui um braço robótico de 2,1 metros de comprimento com uma furadeira de 30 kg na ponta e consegue manuseá-la com precisão milimétrica. Ele ainda tem dez câmeras, sendo que oito delas geram imagens em preto-e-branco e são utilizadas para navegação em solo marciano. As duas restantes tiram fotos em alta resolução e coloridas e servem para documentar a expedição, assim como ajudar os cientistas a realizarem novas descobertas.
O “rover” ainda vem com um aparelho de Raio-X ( para decifrar a composição de amostras coletadas), uma estação de monitoramento (de pressão, temperatura, velocidade dos ventos, radiação ultravioleta, etc.), um telescópio e um espectroscópio à laser (ambos para análise de solo).
O jipe não tem um motor movido à diesel, à gasolina, muito menos etanol. O Curiosity é movido por um gerador radioisótopo termoelétrico alimentado por 4,8 quilos de plutônio. Sua vida útil é de no mínimo 14 anos de funcionamento, podendo se extender por alguns anos extras, dependendo do decorrer da operação.
Para chegar a Marte, o Curiosity fez uma longa viagem. O robô foi lançado no espaço acoplado a um foguete a partir do Cabo Canaveral, a estação espacial da NASA na Flórida, Estados Unidos. O lançamento ocorreu em novembro de 2011 e, após uma viagem de cerca de 563 milhões de quilómetros, em agosto de 2012 ele chegou a seu alvo e fez história.
Mas o laboratório ambulante percorreu um longo caminho antes mesmo de ir ao espaço. Seu projeto enfrentou desafios singulares nos mais de dez anos de desenvolvimento. As variações de temperaturas diárias de mais de 100 graus, por exemplo, ou a poeira constante e a gravidade, que em Marte é apenas um terço da encontrada no planeta Terra, eram desafios constantes. Além disso, sempre existe o risco de algo quebrar.
E se algo quebrasse ou sofresse pane no Curiosity lá em Marte, provavelmente seria o fim do projeto. Com uma distância tão grande separando o jipe de seus criadores, qualquer contato com o veículo é virtualmente impossível, assim como reparos mecânicos.
Perfurando rochas e coletando amostras, o ofício minucioso ganha proporções homéricas quando se está a mais de 500 milhões de quilômetros. Além disso, o Curiosity atua não apenas como o minerador, mas também como o próprio laboratório de análises. O robô não tem folga.
Salvador da Pátria
Em um planeta em que todos os ecossistemas estão entrando em colapso e os recursos naturais rumam a passos de gigante em direção ao esgotamento, cogitar a colonização interplanetária talvez não seja um sonho assim tão lunático. Investir em ferramentas que promovam o conhecimento neste sentido podem hoje parecer um pouco fora de órbita, mas em algum momento podem significar a diferença entre a sobrevivência da espécie e o fim da era dos humanos. Neste caso, R$ 5,6 bilhões podem fazer com que o veículo mais caro da história saia, quem diria, barato.
Fonte: IG Carros